Boris Johnson recusa-se a olhar para fotografia de criança a dormir no chão de hospital
Jack Williment-Barr, um menino de quatro anos com suspeitas de pneumonia, foi obrigado a dormir durante quatro horas no chão de uma sala de emergências de um hospital em Leeds, em Inglaterra, devido à falta de camas. Caso marcou campanha.
A imagem de uma criança doente a dormir no chão de um hospital de Leeds, por falta de camas, marcou o dia de campanha eleitoral no Reino Unido: fez Boris Johnson tirar o telemóvel a um jornalista, ser criticado por falta de empatia, e forçou o seu ministro da saúde a pedir desculpa numa visita de última hora ao hospital, onde foi confrontado por trabalhistas.
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A imagem de uma criança doente a dormir no chão de um hospital de Leeds, por falta de camas, marcou o dia de campanha eleitoral no Reino Unido: fez Boris Johnson tirar o telemóvel a um jornalista, ser criticado por falta de empatia, e forçou o seu ministro da saúde a pedir desculpa numa visita de última hora ao hospital, onde foi confrontado por trabalhistas.
A três dias das eleições, o primeiro-ministro do Reino Unido foi confrontado com a fotografia de uma criança doente, forçada a dormir no chão de um hospital sobrelotado, uma história publicada este domingo pelo diário britânico Daily Mirror. O episódio ocorreu após uma visita de Johnson a uma fábrica em Sunderland, quando o jornalista Joe Pike, da ITV, questionou o primeiro-ministro do Reino Unido sobre o caso de Jack Williment-Barr, um menino de quatro anos que foi obrigado a dormir durante quatro horas, coberto por casacos, no chão de uma sala de emergências de um hospital em Leeds, em Inglaterra, devido à falta de camas.
Por várias vezes, Boris Johnson recusou-se a olhar para a fotografia e depois, quando se encontrava fora do ângulo da câmara, chegou mesmo a pegar no telemóvel do jornalista e a escondê-lo no bolso do seu casaco.
Inicialmente, segundo o Guardian, o repórter perguntou a Johnson se tinha visto as fotografias, ao que o primeiro-ministro respondeu negativamente. Depois, Joe Pike mostrou a imagem no seu próprio telemóvel, enquanto a descrevia. Boris Johnson, desviando o olhar, respondeu: “Eu entendo. E, obviamente, temos toda a simpatia possível por todos aqueles que têm uma experiência negativa no Serviço Nacional de Saúde” (NHS, na sigla em inglês). Em seguida, o primeiro-ministro britânico começou a discutir o investimento no NHS e o “Brexit”.
Mas o jornalista voltou a pressionar Johnson: “Estou a falar sobre este menino, primeiro-ministro. Como se sente ao olhar para esta fotografia?”. Boris Johnson contrapôs que ainda não tinha tido “oportunidade” de ver a imagem, pelo que Pike questionou o porquê de o primeiro-ministro não olhar naquele momento para o telemóvel. “Vou estudá-la mais tarde”, afirmou Johnson.
Depois de o jornalista voltar a insistir, Boris Johnson escusou-se a falar sobre a fotografia. “O que nós estamos a fazer é levar este país para a frente e estamos a investir no NHS”, disse. Já longe da câmara, o primeiro-ministro britânico tirou o telemóvel da mão de Pike e guardou-o no bolso do seu casaco. Mais tarde, o jornalista insistiu: “Recusou-se a olhar para a fotografia, pegou no meu telemóvel e colocou-o no seu bolso, primeiro-ministro. A mãe [do menino] diz que o NHS está em crise. Qual é a sua resposta a isso?”.
Foi então que Boris Johnson retirou o telemóvel do seu bolso e olhou, pela primeira vez, para a imagem. “É uma fotografia terrível e eu peço desculpa, obviamente, à família e a todos aqueles que têm experiências terríveis no NHS. Mas o que estamos a fazer é apoiar o NHS e, no geral, acho que os doentes no NHS têm uma experiência muito, muito melhor do que a que esse pobre menino teve”, retorquiu.
O primeiro-ministro britânico devolveu depois o telemóvel, pedindo desculpa ao repórter. Posteriormente, Johnson foi questionado duas vezes por outros meios de comunicação sobre a sua reacção durante a entrevista, mas recusou-se a comentar o episódio, abordando apenas o investimento no NHS.
Boris Johnson foi imediatamente alvo de várias críticas, sendo acusado de falta de empatia e interesse. O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, publicou um vídeo da entrevista no Twitter, com a mensagem: “Ele simplesmente não se importa”.
Já Jonathan Ashworth, ministro sombra para a saúde, reagiu também através de uma publicação no Twitter: “Não dêem a essa desgraça de homem mais cinco anos para continuar a levar o nosso NHS ao chão. Crianças doentes como o Jack merecem muito melhor”.
Mais tarde, o ministro da saúde visitou o hospital para discutir o caso de Jack com a administração da unidade. Matt Hancock mostrou-se “horrorizado” e pediu “desculpa” pelo incidente. O ministro da saúde escusou-se ainda a comentar a reacção de Boris Johnson. “As pessoas preocupam-se com aquilo que estamos a fazer para melhorar os cuidados de saúde no hospital de Leeds e em todo o NHS”, sublinhou, citado pela BBC. À saída do hospital, Matt Hancock foi confrontado por um grupo de manifestantes trabalhistas.
O episódio gerou uma nova polémica, depois de o Partido Conservador ter afirmado que um assessor tinha sido agredido à saída do hospital por um activista de esquerda. No entanto, os trabalhistas acusam Boris Johnson e a sua equipa de “mentirem e enganarem” para tentar desviar a atenção da reacção do primeiro-ministro e dos cortes no Serviço Nacional de Saúde e garantem que o assessor foi atingido acidentalmente.
Já a mãe do menino na origem deste caso, Sarah Williment, recusou que o tratamento do seu filho seja usado como uma estratégia política pelos partidos.
As eleições antecipadas, que a maioria acredita ser a única forma de desbloquear o “Brexit”, estão marcadas para o dia 12 de Dezembro.