Via Esquerda promove “Convergência” para disputar liderança do Bloco
O encontro nacional “de diversas sensibilidades e origens” do BE que decorre este domingo em Lisboa quer avançar com uma candidatura alternativa à da direcção de Catarina Martins.
A sala da Fábrica de Braço de Prata em Lisboa escolhida para o encontro nacional de militantes do Bloco de Esquerda (BE) insatisfeitos com a linha da actual direcção foi pequena para acolher todas as pessoas que quiseram participar – cerca de 200, segundo a organização. O encontro realiza-se sob o signo da “Convergência”, mas prepara-se para divergir. “É para ir à próxima convenção e disputar a liderança. Geringonça nunca mais”, ouviu o PÚBLICO.
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A sala da Fábrica de Braço de Prata em Lisboa escolhida para o encontro nacional de militantes do Bloco de Esquerda (BE) insatisfeitos com a linha da actual direcção foi pequena para acolher todas as pessoas que quiseram participar – cerca de 200, segundo a organização. O encontro realiza-se sob o signo da “Convergência”, mas prepara-se para divergir. “É para ir à próxima convenção e disputar a liderança. Geringonça nunca mais”, ouviu o PÚBLICO.
A intenção foi confirmada por um dos fundadores do Bloco, João Madeira no final do encontro, ao fim da tarde: “Vamos à convenção apresentar uma moção. As listas não são independentes das moções. A existência de uma moção política implica assumir responsabilidades na apresentação de uma lista. O resultado que obtivermos reflectir-se-á na nossa participação dentro das estruturas nacionais do Bloco. Não se trata de disputar o cargo A ou B.”, afirmou.
“O que daí resultar traduzir-se-á na nossa influência nos órgãos nacionais. É necessário que o espaço democrático da convenção permita o aparecimento de várias propostas de natureza política e que possa traduzir em repartição proporcional dos lugares”, justificou João Madeira aos jornalistas, citado pela Lusa.
Entre os militantes mais conhecidos presentes no encontro deste domingo estão os ex-deputados Pedro Soares e Carlos Matias, os ex-líderes da UDP Mário Tomé e Carlos Marques, Manuela Tavares e Maria José Magalhães, feministas dirigentes da UMAR ou António Soares Luz, um dos fundadores do Bloco que integra a Via Esquerda, uma corrente interna que existe desde 2018 e que promoveu o encontro deste domingo.
Apesar dos resultados eleitorais “bastante satisfatórios”, este movimento entende que a direcção do BE precisa de maior autonomia e de mais afirmação das propostas do partido, em vez de andar “à procura do entendimento com o PS”. João Madeira critica ainda a falta de debate interno no partido: “Sentimos as dificuldades que decorrem de muitas vezes não sermos ouvidos nos reparos, nas críticas e propostas que fazemos [...]. Há muitas discussões fundamentais, como o programa eleitoral, que não foi discutido dentro do Bloco, ou se foi discutido, foi de forma muito mitigada”.
É o culminar de um processo de desilusão que se foi avolumando desde a convenção bloquista de Novembro do ano passado, momento a partir do qual a direcção do BE assumiu querer integrar o Governo liderado pelo PS que saísse das legislativas deste ano. Para a Via Esquerda, que apoiou a moção de Catarina Martins nessa altura, os bloquistas deviam assumir claramente a oposição ao Governo socialista.
Há pouco mais de um mês, num texto publicado no seu site sobre o rescaldo das legislativas, o Via Esquerda sublinhava que os resultados das eleições deram ao PS e ao bloco central um “equilíbrio de forças favorável”. Para esta corrente interna, “o PS foi o principal beneficiário eleitoral da ‘geringonça'” porque “a sobrevalorização do acordo de maioria, em vez de criar alguma dificuldade ou demarcação com o PS, acabou por ser oportuna para a campanha de António Costa”.
Os resultados eleitorais confirmaram, assim, os receios que Pedro Soares já tinha transmitido interna e publicamente em Junho, quando anunciou que não seria de novo candidato a deputados nas legislativas de Outubro passado. Na altura, em entrevista ao PÚBLICO, o ex-deputado defendia que o Bloco “não deve vincar alianças governamentais com o PS”, mas antes ter “uma atitude de procurar novos avanços em termos económicos, sociais, mas com uma afirmação clara do seu programa, da sua política”.
Mas as divergências com a direcção do Bloco também têm origem no modo de funcionamento do próprio partido e daquilo que é considerado uma “captura” das suas estruturas por duas outras correntes internas: a Tendência da Esquerda Social, conhecida por TIA, e da Rede Anti-Capitalista, a RAC.
Um dos episódios que mais mossa fez foi a designação, pela direcção nacional, de Fabíola Cardoso como cabeça de lista por Santarém às legislativas, quando o plenário distrital anterior tinha votado por ampla maioria o nome de Carlos Matias, deputado na anterior legislatura. Nessa altura, Carlos Matias considerou à Lusa que se tratava de uma decisão irregular à luz dos estatutos e que tinha como efeito “enfraquecer e dividir” o partido em vésperas de eleições.
Notícia actualizada às 19h20 com declarações de João Madeira