Os Óscares do cinema europeu (com Polanski ao barulho)
Os 32.º Prémios Europeus de Cinema são entregues este sábado à noite em Berlim. A Favorita e Dor e Glória são os principais favoritos — mas há Polanski e J’Accuse para criar a polémica.
É — ou pelo menos quer ser — a grande festa do cinema europeu. Este sábado, a partir das 19h00 (18h00 de Lisboa), a acolhedora sala da Haus der Berliner Festspiele, no centro de Berlim, recebe a cerimónia de entrega dos 32.º Prémios Europeus de Cinema, votados pelos 3700 membros da Academia Europeia de Cinema, fundada em 1989 e presidida desde 1996 pelo realizador alemão Wim Wenders.
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É — ou pelo menos quer ser — a grande festa do cinema europeu. Este sábado, a partir das 19h00 (18h00 de Lisboa), a acolhedora sala da Haus der Berliner Festspiele, no centro de Berlim, recebe a cerimónia de entrega dos 32.º Prémios Europeus de Cinema, votados pelos 3700 membros da Academia Europeia de Cinema, fundada em 1989 e presidida desde 1996 pelo realizador alemão Wim Wenders.
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A Favorita, do grego Yorgos Lanthimos, parte já vencedor de quatro prémios nas categorias técnicas, e, com mais cinco nomeações, as mesmas de Dor e Glória de Pedro Almodóvar, pode ser um dos vencedores da noite apresentada pelas actrizes Anna Brüggemann e Aisté Dirziuté. Ambos os filmes estão entre os seis nomeados para Melhor Filme Europeu; os outros quatro são J’Accuse de Roman Polanski (quatro nomeações), Os Miseráveis de Ladj Ly (três nomeações), System Crasher da alemã Nora Fingscheidt (duas nomeações) e O Traidor de Marco Bellocchio (quatro nomeações). Almodóvar, Bellocchio, Lanthimos e Polanski estão nomeados para melhor realizador, com a francesa Céline Sciamma como quinta nomeada por Portrait de la jeune fille en feu. Serão entregues prémios de homenagem a Juliette Binoche (como actriz europeia com uma carreira transversal em todo o mundo) e a Werner Herzog (pelo conjunto da sua obra filmada).
Mas tudo isto corre, mais uma vez, o risco de ser “ensombrado” pelas questões fracturantes que rodeiam actualmente o mundo do cinema. Primeiro, as questões da representação feminina: o “bolo” dos cineastas nomeados é predominantemente masculino. Há só uma realizadora entre os cinco nomes citados — Céline Sciamma, também a mais jovem dos nomeados, mas o seu Portrait de la jeune fille en feu não está nomeado para melhor filme. Por seu lado, o único filme indigitado com uma mulher atrás da câmara, System Crasher, não viu Nora Fingscheidt nomeada.
De “boa fé"
E a cerimónia desta noite embate de cabeça no mais recente escândalo envolvendo Roman Polanski: quase em simultâneo com a divulgação dos nomeados surgiram as alegações de Valentine Monnier referentes a uma violação que terá ocorrido em 1975. Polanski nega mas, por exemplo, Adèle Haenel veio defender Monnier publicamente e repetiram-se os protestos e boicotes ao cinema de Polanski. Ora, Haenel, que tem sido ponta-de-lança do movimento contra os abusos sexuais no cinema francês, está nomeada para melhor actriz por Portrait de la jeune fille en feu, o que faz prever “faíscas” na noite da Haus der Berliner Festspiele.
Há, entretanto, quem exija à Academia Europeia de Cinema que rescinda a nomeação a Polanski. Em declarações à revista Screen, a actual directora da Academia, a cineasta polaca Agnieszka Holland, entendeu que o filme tinha sido nomeado “em boa fé” e que não se justificava retirar as nomeações, e que são os membros da Academia que têm de expressar a sua opinião nos votos. Entretanto, mesmo com boicotes e polémicas, J’Accuse é um expressivo êxito de bilheteira em França (um milhão de espectadores até agora). Claramente, o cineasta polaco continua a ser um caso bicudo da cultura moderna.
Ainda assim: a lista dos nomeados dos quais os 3700 membros da Academia Europeia de Cinema vão escolher os vencedores pode também ser vista como previsão do cinema europeu que irá aparecer nos próximos Óscares. Sim, A Favorita já fez os Óscares de 2019, onde Olivia Colman ganhou a estatueta de melhor actriz (que pode também levar para casa em Berlim); mas as regras da Academia Europeia de Cinema permitem a nomeação de qualquer filme estreado na Europa até 31 de Maio do ano da cerimónia, o que autoriza a presença do filme de Yorgos Lanthimos (a Academia abre ainda excepções para obras “de excepcional importância” exibidas em festivais posteriores a Maio, como Veneza, onde J’Accuse ganhou o Grande Prémio do Júri).
Mas Dor e Glória, O Traidor, Os Miseráveis e Portrait de la jeune fille en feu são todos boas apostas para aparecerem nos nomeados de 2020 — o caso J’Accuse é mais complicado, devido ao estatuto de “pária” que Polanski continua a ter nos EUA. Em Portugal, Dor e Glória e O Traidor continuam ainda em sala, enquanto J’Accuse deverá estrear-se em Janeiro e Os Miseráveis e Portrait de la jeune fille en feu no início de 2020.
Entretanto, os vencedores das categorias técnicas foram já anunciados: A Favorita recebeu os prémios de fotografia, montagem, guarda-roupa e maquilhagem, a melhor cenografia foi para Dor e Glória e o premiado na banda-sonora System Crasher. About Endlessness, do sueco Roy Andersson, venceu melhores efeitos visuais e A Noite de 12 Anos, do uruguaio Álvaro Brechner, o melhor som. Os prémios serão entregues na cerimónia desta noite, onde será igualmente homenageado o produtor britânico Nik Powell (Jogo de Lágrimas ou Mona Lisa), que morreu há um mês e que foi director da Academia Europeia de Cinema na passagem dos anos 1990 para os 2000.
Portugal, que tem 20 membros entre os 3700 afiliados da Academia, aparece nomeado por duas vezes para o Prémio de Melhor Curta-Metragem Europeia: Cães que Ladram aos Pássaros de Leonor Teles (nomeado pelo festival de Veneza, onde teve estreia na paralela Horizontes) e Les Extraordinaires mésaventures de la jeune fille de pierre de Gabriel Abrantes (estreado na Quinzena dos Realizadores de Cannes e nomeado pelo Curtas Vila do Conde, onde foi melhor curta de ficção).