Quantos jovens cabem numa manifestação pelo clima?
Madrid deve receber esta sexta-feira uma das maiores manifestações pelo clima que já se viu numa COP. É esperada a participação de Greta Thunberg que viaja de Portugal para a capital espanhola, bem como cerca de 200 a 300 activistas ambientais portugueses.
O momento alto desta sexta-feira da 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climática não vai estar nas instalações da Feira de Madrid, onde decorre a cimeira, mas nas ruas do centro da capital espanhola. É aí, a partir das 17h de Lisboa, que vai acontecer a Marcha pelo Clima, para a qual são esperados milhares de jovens.
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O momento alto desta sexta-feira da 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climática não vai estar nas instalações da Feira de Madrid, onde decorre a cimeira, mas nas ruas do centro da capital espanhola. É aí, a partir das 17h de Lisboa, que vai acontecer a Marcha pelo Clima, para a qual são esperados milhares de jovens.
A organização disse contar com mais de cem mil participantes e o Manifesto 6D, que apresenta as razões para o protesto, afirma que quer transformar Madrid “no megafone das pessoas que já estão a sofrer as consequências da crise climática e daquelas que as vão sofrer nas próximas décadas”. De Portugal são esperadas entre 200 a 300 pessoas.
Incluindo, por coincidência, a sueca Greta Thunberg, que permaneceu em Lisboa desde terça-feira, após terminar a sua travessia do Atlântico num veleiro. Ninguém contesta que a mobilização da juventude está intrinsecamente ligada à adolescente de 16 anos que há cerca de um ano iniciou sozinha uma greve às aulas pelo clima. Num vídeo sobre a manifestação – em que os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e brasileiro, Jair Bolsonaro, aparecem como o rosto de “algumas pessoas que agem como se nada estivesse a acontecer” –, colocado na página da Cimeira Social para o Clima (um encontro paralelo à COP25 que decorre entre esta sexta-feira e o dia 13), é Greta Thunberg que surge nas imagens enquanto se ouve: “Às vezes, uma pequena acção, repetida por muita gente, pode gerar uma força que move montanhas.”
O movimento iniciado pela jovem conseguiu, entre outras coisas, mudar o dia habitual da manifestação que costuma acompanhar as COP. Francisco Ferreira, da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável, que tem acompanhado grande parte destas cimeiras e que conta estar na manifestação de hoje, diz que a escolha de uma sexta-feira para o dia do protesto é “inovadora”. “Estas manifestações costumam acontecer ao fim-de-semana, em geral ao sábado. Esta mudança mostra alguma sensibilidade para o uso da sexta-feira como um símbolo, que tem que ver directamente com o movimento Fridays for the Future”, diz.
Este movimento – que congrega os jovens que fazem greve às aulas e se manifestam às sextas-feiras pelo clima – é um dos que convocam o protesto, que Francisco Ferreira diz esperar ser um dos maiores dos últimos anos. Ao nível da participação portuguesa não restam dúvidas. O ambientalista diz que costumam estar “pouquíssimos” portugueses nestes protestos, mas desta vez são esperadas entre 200 a 300 pessoas, de associações como a Zero, a Climáximo ou a Greve Climática Estudantil, a partidos políticos, como os Verdes, o PAN -Pessoas Animais Natureza ou o Bloco de Esquerda, que leva Catarina Martins e alguns deputados a Madrid.
O protesto começa na zona de Atocha e segue para os Nuevos Ministérios, onde se esperam algumas intervenções, eventualmente da própria Greta Thunberg. Falta saber se, na COP25, os representantes dos diferentes países que estão desde segunda-feira a tentar negociar questões como a regularização global do mercado do carbono ou um novo mecanismo financeiro para perdas e danos (os decisores políticos só entram em acção nos últimos dias da cimeira) vão ouvir os protestos ou o apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que no dia de abertura da COP25, afirmou: “Milhões em todo o mundo – especialmente jovens – estão a pedir aos líderes de todos sectores para fazerem mais, muito mais, face à emergência climática que enfrentamos. Eles sabem que precisamos de entrar no caminho certo hoje, não amanhã. (…) Vamos ouvir as multidões que estão a exigir mudança.”
Os jovens prometem fazer por isso. Antes da manifestação, durante a manhã desta sexta-feira, está anunciado um “protesto sentado” na própria COP25. O filósofo e especialista em ambiente Viriato Soromenho Marques dizia há dias ao PÚBLICO: “Por enquanto, os jovens revoltam-se pacificamente. Não sei se daqui a dez anos será assim.”