Uma máquina de raio-x para blocos de mármore alentejano? Está a ser feita no Alandroal

PCP visitou metalomecânica que está a desenvolver com a Universidade de Évora e uma empresa de mármore uma máquina que mostra o interior das pedras e escolhe o melhor plano de corte para evitar desperdício.

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LUSA/NUNO VEIGA

É um projecto que envolve engenheiros de quatro continentes e que está a ser feito, peça a peça, no Alandroal. Daqui a um ano, uma máquina deverá conseguir tirar a “radiografia” a um bloco de mármore de até oito metros cúbicos - coisa leve, de 22 toneladas - e saber qual a melhor forma de o cortar em chapas, para ter o menor desperdício possível. Isso pode ser feito com pedra acabada de retirar de uma das dezenas de pedreiras da região ou com blocos imperfeitos acumulados nas enormes escombreiras que transformaram a paisagem numa espécie de território lunar.

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É um projecto que envolve engenheiros de quatro continentes e que está a ser feito, peça a peça, no Alandroal. Daqui a um ano, uma máquina deverá conseguir tirar a “radiografia” a um bloco de mármore de até oito metros cúbicos - coisa leve, de 22 toneladas - e saber qual a melhor forma de o cortar em chapas, para ter o menor desperdício possível. Isso pode ser feito com pedra acabada de retirar de uma das dezenas de pedreiras da região ou com blocos imperfeitos acumulados nas enormes escombreiras que transformaram a paisagem numa espécie de território lunar.

A ideia surgiu há pouco mais de três anos e está a tomar forma nas instalações de uma empresa de metalomecânica numa encosta do Alandroal onde já funcionou uma serração de mármore. É, aliás, com os blocos que ali foram deixados que o engenheiro mecatrónico Mouhaydine Tlemçani e dois alunos seus da Universidade de Évora (um do Brasil e outro do Bangladesh), assim como os engenheiros da MetalViçosa, entre eles o sócio-gerente António Jardim (filho), têm trabalhado. Primeiro com uma pedra pouco maior que um paralelepípedo de calçada; agora com outra de mais de meio metro de comprimento e palmo e meio de grossura - mas já experimentaram num bloco de oito metros cúbicos que ainda se pode ver na rua, com os eléctrodos espetados em filinha.

A “ressonância magnética”, como lhe chama Mouhaydine Tlemçani, é feita com base num modelo matemático que reproduz as propriedades da rocha através do processamento das imagens da superfície e de ultra-sons captados no interior através de eléctrodos que analisam a mineralização, a descontinuidade física (se tem fissuras ou não) e a porosidade da pedra. Esse modelo matemático reproduz depois a imagem tridimensional do interior do bloco e o software consegue escolher o melhor plano de corte do bloco, consoante a finalidade da pedra.

Para além da universidade e da metalomecânica, o projecto, com um investimento global de 1,2 milhões de euros (financiado em boa parte por fundos europeus), conta ainda com uma empresa de mármores de Borba, a Marmetal, descreveu ao PÚBLICO António Jardim filho.

O inovador projecto da ressonância magnética para pedras foi escolhido pelo PCP para, no âmbito das jornadas parlamentares no distrito de Évora, mostrar como se podem aproveitar os recursos endógenos da região alentejana, unindo a academia e a indústria local. Pai e filho, ambos com o mesmo nome, António Joaquim, sócios da MetalViçosa, fizeram as honras da casa, acompanhados pelo engenheiro de Mecatrónica, explicando o que está a nascer na empresa.

Por enquanto, o protótipo que já está em testes, consegue fazer o desenho do interior do bloco de mármore, incluindo a sua textura e aferir se tem “partidos ou vergados”, ou seja, se tem rachadelas que o inutilizam ou aquelas linhas e manchas de cor características da pedra desta região. Com essa informação é possível desenhar o bilhete de identidade de cada bloco de pedra e perceber qual a melhor finalidade - se um chão ou parede de ladrilho, uma bancada de cozinha, degraus ou cantaria de janelas - ou como aproveitar o máximo de pedra e reduzir o desperdício, valorizando toda a matéria-prima retirada das pedreiras, descreve António Jardim filho.

O engenheiro marroquino naturalizado português há mais de 20 anos diz que no Alandroal se está a fazer “indústria 4.0” no sector da pedra ornamental alentejana, que tem cada vez menos valor no mercado tendo em conta a concorrência de países como o Brasil, Rússia, China, Espanha ou Itália, assim como dos compactados. Ter esta espécie de bilhete de identidade valoriza cada bloco de pedra - que tanto pode ser de calcário como de granito, basalto ou xisto, enumera António Jardim pai. Que, ao PÚBLICO, admite que ainda não há perspectiva de preço de venda da máquina, que incluirá uma ponte para blocos.