O SPD não quer sair “já” do Governo de Merkel

“Sair da coligação não é um fim em si mesmo”, diz Norbert Walter-Borjans, um dos líderes eleitos, na véspera do congresso do partido. Ala esquerda quer votar directamente sobre uma saída do SPD da coligação com a CDU de Merkel.

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Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans querem negociar três temas com a CDU HAYOUNG JEON/EPA

Os líderes eleitos do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha dizem que não querem sair “já” da grande coligação, em que participam com a União Democrata-Cristã da chanceler, Angela Merkel, depois de dias de especulação que a sua eleição traria a queda do Governo.

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Os líderes eleitos do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha dizem que não querem sair “já” da grande coligação, em que participam com a União Democrata-Cristã da chanceler, Angela Merkel, depois de dias de especulação que a sua eleição traria a queda do Governo.

“Sair da coligação não é um fim em si mesmo”, disse um dos eleitos, Norbert Walter-Borjans. “As questões são de conteúdo.”

Esta quinta-feira, na véspera do congresso do partido que começa esta sexta e dura até domingo, Walter-Borjans e Saskia Esken anunciaram o que vão propor na moção principal e que se centrará numa tentativa de renegociar com os democratas-cristãos três pontos: protecção do clima (o pacote anunciado recentemente foi alvo de críticas por ser insuficiente), salário mínimo (de 9,19 euros/hora para 12 euros) e mais investimento em infra-estruturas (que não esbarre no inflexível limite orçamental e no travão da dívida).

Foi “um bom compromisso”, disse Esken sobre a moção a propor, após a primeira participação do duo de líderes eleito na reunião do grupo de líderes do SPD.

A cláusula de reavaliação da “grande coligação” a meio do mandato foi imposta pelo SPD para aceitar coligar-se com a CDU em 2018. Nas eleições de Setembro de 2017, o partido desceu aos 20,5% sob a liderança de Martin Schulz, que prometeu passar à oposição. Mas as negociações para a outra coligação possível, entre CDU, Liberais e Verdes, falharam, e o SPD viu-se entre a espada e a parede: ou aceitava voltar a governar com Angela Merkel, ou ia ver-se classificado como o partido que causou instabilidade e levou a novas eleições. Apesar da grande divisão, os membros do partido acabaram por dar o sim a nova participação num governo de Angela Merkel.

Se nenhum eleitorado gosta de instabilidade, o alemão muito menos. Na última sondagem da Infratest-Dimap, o SPD está neste momento com 15% nas intenções de voto, muito perto da direita radical da Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem tido 14%.

Uma sondagem divulgada esta quinta-feira pela estação de televisão pública ARD mostrava que 64% dos inquiridos querem a continuação da “grande coligação” e apenas 28% gostariam de ter eleições antecipadas, mesmo que dois terços dos inquiridos se mostrem insatisfeitos com o trabalho do executivo.

Um estudo da Fundação Bertelsmann com o título auto-explicativo “Melhor do que a sua reputação” dizia que a “grande coligação” cumpriu ou deu passos substanciais para levar a cabo dois terços das 296 medidas a que se propôs. Os investigadores, que já fizeram análises semelhantes de outros governos, dizem que é um recorde.

E, mesmo em promessas por cumprir, a situação está bastante boa: por exemplo, o objectivo era pleno emprego, mas a taxa de desemprego é de apenas 3%, a mais baixa desde a reunificação em 1990. 

“Revolução cancelada”

A eleição, no sábado passado, de Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans para a liderança em duo do SPD, derrotando o duo Olaf Scholz (vice-chanceler e ministro das Finanças) e Klara Geywitz, levou a um coro de preocupação com o que poderia acontecer com a “grande coligação” e previsões do seu fim – afinal, os dois vencedores são muito críticos deste entendimento entre o SPD e a CDU e querem que o seu partido se diferencie do centro com propostas mais à esquerda.

Mas ambos se apressaram a dizer que, a haver uma proposta de saída da grande coligação, esta não seria imediata. No partido, houve várias vozes de alerta para uma saída precipitada. Uma destas foi do antigo líder (e ex-vice-chanceler) Franz Müntefering, que usou uma comparação com um jogo de futebol para dizer que se o SPD decidir sair agora da coligação, vai pagar a factura nas próximas eleições: “Num jogo quem chega à segunda parte e diz ‘Já não temos vontade, voltamos no próximo domingo, aí já estamos de novo bem’, não vai ser aplaudido, vai ser assobiado.”

E também ao longo da semana a imprensa foi dando conta da mudança de tom. O diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, que a seguir à eleição de Esken e Walter-Borjans questionava se o SPD se iria destruir a si próprio saindo da coligação, perguntava entretanto se “a revolução iria ser cancelada”.

Não vai haver ultimatos

Um dos actuais vices do partido, Ralf Stegner, disse à agência alemã DPA que o SPD não vai apresentar ultimatos aos seus parceiros de coligação. “Só quem é muito tonto é que faz este tipo de coisas”, disse Stegner.  

A líder da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, e a chanceler, Angela Merkel, já disseram que não iriam renegociar o “contrato” da “grande coligação”. A situação económica da Alemanha – o risco de recessão tem estado à espreita – pode fazer com que haja alguma margem para mais investimento em infra-estruturas, por exemplo, como quer o SPD.

Por outro lado, a CDU tem feito do Orçamento equilibrado (o “zero negro”, sem défice nem novas dívidas) uma das suas políticas de marca, e voltou a afirmá-lo no seu próprio congresso.

Mas nem todos estão contentes com este compromisso do duo eleito: a ala esquerda do SPD apresentou uma moção para que os congressistas possam votar directamente sobre uma proposta de saída da “grande coligação”.