Portugal e o PISA: não basta o assim-assim
Chegámos a uma encruzilhada no percurso “incrível” que o sistema educativo nacional fez nos estudos do PISA entre 2000 e 2016. Vai ser necessário um novo fôlego para que o país recupere a tendência.
Copo meio cheio, ou meio vazio? Portugal é o único país de um clube de ricos chamado OCDE a “registar melhorias significativas no desempenho dos seus alunos a leitura, matemática e ciências ao longo da sua participação no PISA”, como reconheceu o secretário-geral da organização, Angel Gurria. Mas se esta façanha é algo que deve orgulhar o país e em especial os professores, vale a pena notar que as conclusões deste vastíssimo estudo que avalia os desempenhos de alunos de 79 países mostram também ligeiras quedas em áreas importantes como as ciências ou a literacia do português.
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Copo meio cheio, ou meio vazio? Portugal é o único país de um clube de ricos chamado OCDE a “registar melhorias significativas no desempenho dos seus alunos a leitura, matemática e ciências ao longo da sua participação no PISA”, como reconheceu o secretário-geral da organização, Angel Gurria. Mas se esta façanha é algo que deve orgulhar o país e em especial os professores, vale a pena notar que as conclusões deste vastíssimo estudo que avalia os desempenhos de alunos de 79 países mostram também ligeiras quedas em áreas importantes como as ciências ou a literacia do português.
Chegámos assim a uma encruzilhada no percurso “incrível” que o sistema educativo nacional fez entre 2000 e 2015. Vai ser necessário um novo fôlego para que o país recupere a tendência. O PISA, cujos indicadores são cruciais para o investimento externo ou para expor o grau de desenvolvimento social de um país, não pode ser considerado como uma extravagância estatística.
Mais do que cavar a velha trincheira ideológica que separa uma educação apostada nos resultados de exames e na avaliação e a preocupação com o desenvolvimento integral dos estudantes que exclui a obsessão com a língua ou a matemática, importa hoje verificar as condições em que as escolas trabalham. O estudo da OCDE revela-nos um retrato alarmante onde entra um forte absentismo e um preocupante quadro de indisciplina.
A este cenário, há a acrescentar um corpo docente envelhecido, desmotivado, com dificuldade de lidar com o alheamento dos alunos ou com a indisciplina, devorado por cargas burocráticas tantas vezes inexplicáveis e injustificáveis. E há também a considerar um contexto social no qual a importância da educação é descurada e a criação de valores que incentivam o estudo e a disciplina relativizada.
Apesar de muitos destes constrangimentos durarem desde sempre, a escola foi capaz de os superar. De resto, exemplos como os da Estónia mostram que o investimento no sistema não é tudo e casos como o da Finlândia provam que tão importante como a definição de modelos é a forma como são executados. Apesar de todas as queixas e de todos os protestos, os professores foram capazes de apresentar resultados que os dignificam e devem orgulhar o país. Esse trabalho é demasiado importante para que seja descurado no futuro.
Com ou sem exames, com ou sem “flexibilidade curricular”, vingue o estilo durão e voltado para os resultados de Nuno Crato ou uma escola mais humanista e preocupada em acudir aos mais fracos de Tiago Brandão Rodrigues, o que importa é que o país encontre nos resultados hesitantes deste PISA um motivo para redobrar as suas apostas na educação.