Uma Educação Assim-Assim, com Nós Por Desatar
A percentagem de alunos que chega aos 15 anos e nada aprendeu (nível 1) é um indicador relevante, que devemos acompanhar. Agora que todos vão à escola, e que o abandono escolar precoce está quase em linha com os objetivos, será que todos alunos aprendem? A escola é proveitosa para todos?
Os resultados PISA 2018 foram lançados hoje e o cenário é de ligeira queda, os alunos não estiveram nem bem, nem mal. Os alunos que cresceram a fazer exames mostraram um desempenho médio, ligeiramente pior que os seus colegas três anos mais velhos. Mais exames, currículos mais exigentes e uma escola mais virada para os conteúdos não serviu o propósito de melhorar as aprendizagens, mas também não foi nenhum flagelo. Não fez grande diferença.
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Os resultados PISA 2018 foram lançados hoje e o cenário é de ligeira queda, os alunos não estiveram nem bem, nem mal. Os alunos que cresceram a fazer exames mostraram um desempenho médio, ligeiramente pior que os seus colegas três anos mais velhos. Mais exames, currículos mais exigentes e uma escola mais virada para os conteúdos não serviu o propósito de melhorar as aprendizagens, mas também não foi nenhum flagelo. Não fez grande diferença.
Dentro de três anos vamos testemunhar se a filosofia contrária – sem exames, maior flexibilidade, mais focagem no aluno enquanto indivíduo fará alguma diferença a nível das aprendizagens. Entretanto, uma breve análise destes primeiros resultados, que suscitam mais questões do que respostas.
Primeiro uma questão acessória, mas curiosa. Peritos de cada país foram questionados sobre a utilidade das perguntas para aferir conhecimentos para a vida adulta e sobre a sobreposição com os programas nacionais de ensino da língua materna. É bastante surpreendente reparar que os conteúdos do teste PISA coincidem quase na totalidade dos países da OCDE com os programas lecionados, exceto em Portugal onde existe apenas 46% de sobreposição. No entendimento dos peritos a utilidade de cada questão para medir a preparação para a vida adulta é também reduzida. Curioso serão as “especificidades” do sistema português em ação? Porque temos a mania que somos diferentes de todos os outros? Ser adulto em Portugal carece de competências distintas em relação a ser adulto noutro país da Europa?
E agora os nós que não conseguimos desatar. A percentagem de alunos que chega aos 15 anos e nada aprendeu (nível 1) é um indicador relevante, que devemos acompanhar. Agora que todos vão à escola, e que o abandono escolar precoce está quase em linha com os objetivos, será que todos alunos aprendem? A escola é proveitosa para todos?
Em Portugal 2018, 20% dos alunos sabe muito pouco de Leitura e de Ciências e 23% está nas mesmas circunstâncias a Matemática. Este valor piorou para Leitura e Ciências (estava em 17% em 2015) e manteve-se estanque em Matemática. Trata-se de um número muito elevado, um em cada cinco alunos aprende muito pouco em nove anos de escolaridade. Mas Portugal não está sozinho neste indicador, na OCDE são vinte os países onde mais de 20% de alunos não aprendem. Ao que parece a escola não sabe muito bem o que fazer com estes alunos.
Outro nó apertado é a falta de equidade no sistema de ensino. A escola poderá ser mais niveladora e tornar-se mais autónoma do berço? Como podemos inverter os estigmas de género? O que dizemos aos nossos filhos que conduz a limitações na escolha de vida?
A classe social é um determinante poderoso de aprendizagens. Os alunos cujo agregado familiar está entre os 25% mais desfavorecidos apresentam um resultado médio 95 pontos inferior aos colegas pertencentes ao topo 25%, e apenas 10% conseguem emergir entre os melhores.
As questões e género estão também muito atadas, e exprimem-se essencialmente nas expetativas profissionais entre rapazes e raparigas. As engenharias e as ciências são as preferidas pelos rapazes (48%) e apenas 15% das raparigas consideram essa profissão. Esta diferença, de 33 pontos percentuais, é de longe a maior da OCDE. Este cenário inverte-se para as profissões ligadas à saúde. As meninas são cuidadoras e os meninos intelectuais.
Quanto mais tento avaliar os impactos das políticas públicas na melhoria das aprendizagens, mais tendo de concluir que o papel dos governantes tem pouca importância. Muitas mudanças, muito ruido nas escolas, stress nos professores, pais e alunos; aprendizagens mais ou menos iguais. Depois da acentuada subida em 2009 (da ordem dos 470 para os 490) entrámos num patamar. Não estamos mal, estamos assim-assim. Mas, por baixo dos resultados há muitos aspetos a trabalhar, ainda necessitamos de muita vontade para conseguir uma escola que prepare todos de forma equitativa para a vida adulta, sem nós nem apertos.