Avaliação internacional dos alunos de 15 anos. O que é e para que serve o PISA?
Perguntas e respostas sobre a metodologia usada pela OCDE, a forma como são feitos os testes e os objectivos.
A literacia em Leitura foi a área-chave analisada na edição de 2018 do PISA. E as perguntas que foram sendo submetidas aos alunos variaram em função do desempenho obtido na parte inicial dos testes. Os resultados da avaliação internacional feita em Portugal e em dezenas de outros países são conhecidos nesta terça-feira de manhã.
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A literacia em Leitura foi a área-chave analisada na edição de 2018 do PISA. E as perguntas que foram sendo submetidas aos alunos variaram em função do desempenho obtido na parte inicial dos testes. Os resultados da avaliação internacional feita em Portugal e em dezenas de outros países são conhecidos nesta terça-feira de manhã.
Para que serve o PISA?
A sigla designa Programme for International Student Assessment. A OCDE começou a trabalhar na metodologia a aplicar em meados dos anos 1990. Mas a primeira sondagem só foi levada a cabo em 2000. E desde então tem sido realizada de três em três anos. Portugal participou em todas as edições.
O PISA é uma grande avaliação internacional à literacia dos alunos de 15 anos – idade em que, na maior parte dos países participantes, os alunos se encontram no final da escolaridade obrigatória, o que não é o caso em Portugal. Esta avaliação incide em três áreas-chave: Ciências, Matemática e Leitura. Cada leva de testes privilegia uma área em particular.
Os testes realizados no âmbito do PISA não incidem sobre o currículo e não pretendem avaliar se os alunos são ou não capazes de reproduzir os conhecimentos adquiridos naquelas áreas. Isto resulta do facto de o PISA ter sido concebido para se apurar se os jovens de 15 anos conseguem mobilizar as suas competências de Leitura, de Matemática ou de Ciências na resolução de situações relacionadas com o dia-a-dia. Ou, de um modo mais geral, se estão preparados para enfrentarem os desafios da vida quotidiana.
Como base nesta avaliação, a OCDE consegue fazer um retrato da educação em cada país e compará-lo com os restantes. Os resultados do PISA, que são divulgados no ano seguinte ao da realização dos testes, passaram assim a funcionar também como um aferidor das políticas educativas em cada país e do que é precisou ou não mudar.
No PISA, são também recolhidas informações sobre o contexto dos alunos e estabelecimentos de ensino através de questionários aplicados aos pais, aos alunos e aos professores. As respostas a estes questionários permitem identificar factores que influenciam o desempenho dos jovens nos vários domínios de literacia.
Qual a dimensão do PISA?
O PISA 2018 avaliou cerca de 600.000 estudantes de 79 países, que representam os 32 milhões de jovens de 15 anos que vivem nestes países. Ainda não foi divulgado quantos alunos portugueses participaram. Na última edição, datada de 2015, tinham sido 7500.
Segundo o Instituto de Avaliação Educativa (Iave), que coordena a aplicação do PISA em Portugal, os alunos são seleccionados através de um processo de amostragem em duas fases. Na primeira fase, é constituída uma amostra aleatória estratificada de escolas. Na segunda fase, são identificados, nas escolas seleccionadas, todos os alunos elegíveis para a realização dos testes (os alunos que têm 15 anos e que frequentam, pelo menos, o 7.º ano de escolaridade). Destes, são seleccionados aleatoriamente, pelo consórcio internacional que administra o PISA, cerca de 40 alunos em cada escola participante.
Qual é a área chave avaliada no PISA 2018?
A Leitura, como já tinha acontecido na edição de estreia em 2000 e depois na de 2009. Desde então, frisa a OCDE, muita coisa mudou no que toca ao que se lê e sobretudo ao modo como se lê: a leitura é feita cada vez mais em formatos electrónicos, onde os textos disponíveis abundam. Esta mudança obrigou a que a estrutura da avaliação feita pelo PISA também mudasse, tendo sido dado uma ênfase particular às competências de pesquisa de informação através de variadas fontes, bem como à sua comparação e compreensão.
Para fazer esta avaliação, muitas das questões tiveram na base textos com vários segmentos escritos por diferentes autores ou em datas distintas. Mas estas mudanças não abrangeram a definição que no PISA se faz da literacia em leitura, que se tem mantido praticamente igual. E o que é então a literacia em leitura que esteve em avaliação? Passa por “compreender, utilizar, avaliar, reflectir e interagir com textos de modo a que o aluno atinja os seus objectivos e desenvolva o seu conhecimento e potencial de modo a ser capaz de participar na sociedade”.
Apesar de ter sido a literacia em leitura o foco principal da edição de 2018 do PISA, também foram avaliadas a literacia em Matemática e em Ciências. E houve uma novidade: foi testado pela primeira vez algo que dá pelo nome de “competência global”. Os resultados desta parte só serão conhecidos em 2020.
A avaliação desta “competência global” foi feita com base em testes cognitivos e questionário sobre a experiência dos alunos. Segundo a OCDE, os testes cognitivos foram esboçados de modo a aferir as capacidades dos alunos de examinarem criticamente assuntos globais e de comunicaram com outros em contextos interculturais, entre outros objectivos.
Como foram realizados os testes do PISA?
À semelhança do que já tinha acontecido na edição de 2015, em 2018 a maioria da avaliação foi feita com a utilização de computadores. Os testes foram concebidos para ter uma duração de duas horas, estando divididos em quatro grupos que deveriam ser resolvidos, cada um, em 30 minutos. No caso da avaliação da Leitura foi adoptada, também pela primeira vez, uma abordagem adaptada aos diferentes desempenhos dos alunos. Mais concretamente, os que obtiveram melhores desempenhos na parte inicial foram depois confrontados com questões mais difíceis e os que mostraram mais dificuldades no arranque tiveram perguntas mais fáceis.
Os testes tinham tanto perguntas de escolha múltipla, como outras em que os alunos deveriam escrever as suas respostas. Os textos propostos para análise tinham na base descrições da vida real. No conjunto, informa a OCDE, foram elaborados testes para mais de 15 horas, de modo a propiciar que estes tivessem diferentes combinações de itens.
Como são avaliados os testes do PISA?
As pontuações atribuídas são distribuídas por escalas que mostram quais as competências gerais dos alunos nas áreas testadas. Definiu-se que nestas escalas o valor médio é de 500 pontos. Em média cerca de dois terços dos alunos testados ficam entre os 400 e os 600 pontos. E só menos de 2% conseguem ter perto de 700 pontos.
Estas escalas são divididas também em diferentes níveis que têm na base os vários grupos de perguntas apresentados nos testes, começando no patamar 1 com questões que apenas requerem competências básicas, aumentando depois de dificuldade consoante se vai subindo de nível. O de topo é o 6.
No caso da avaliação em Leitura foi acrescentado um novo subnível (1c) de modo a dar conta do desempenho dos alunos com piores desempenhos. “A literacia destes estudantes é mínima e por isso não era possível descrever o que conseguiam fazer com as escalas usadas antes”, justifica a OCDE.
Em 2015, e pela primeira vez na história da participação nacional, Portugal ficou posicionado significativamente acima da média dos 35 países da OCDE em literacia científica e de Leitura. Na avaliação à literacia matemática, Portugal obteve mais 2 pontos, que não são estatisticamente significativos, acima da média da OCDE.
Quem financia o PISA?
Os governos de cada país participante. Segundo a OCDE, as despesas podem oscilar entre 75.000 euros e 900.000 euros, dependendo do tamanho do país. Para além desta verba, os países membros da OCDE têm de pagar também uma taxa à organização, que varia consoantes os rendimentos de cada estado.