AfD continua o seu caminho de radicalização

Partido de direita radical escolhe este sábado a nova liderança, enquanto enfrenta divisões internas.

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O partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) vai eleger este sábado, em congresso, a sua nova liderança, com o co-líder Alexander Gauland, de 78 anos, a dizer que preferia não se recandidatar, mas deixando a porta aberta conforme quem esteja na corrida.

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O partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) vai eleger este sábado, em congresso, a sua nova liderança, com o co-líder Alexander Gauland, de 78 anos, a dizer que preferia não se recandidatar, mas deixando a porta aberta conforme quem esteja na corrida.

O candidato preferido da actual direcção do partido é Tino Chrupalla, antigo membro da ala jovem da CDU de Angela Merkel (Gauland também é um antigo membro da CDU), e que é o número dois da bancada parlamentar da AfD.

Mas criando algum suspense, surgiu há dias a candidatura surpresa de Gottfried Curio, anunciada no seu canal do YouTube, onde tem quase 52 mil seguidores. Curio, que é também deputado, é conhecido pelas suas tiradas contra os muçulmanos e imigrantes, mas tem pouco apoio interno.

A AfD, que é hoje o maior partido da oposição no Parlamento alemão e parece ter estabilizado nas sondagens a nível nacional com 13%-15%, tem-se radicalizado a cada passo do seu ainda curto percurso, e depois de bons resultados em três estados do Leste com candidatos mais extremistas, e um bom resultado também nas eleições europeias, era antecipada uma continuação deste caminho.

No congresso será discutida, por exemplo, uma revisão da cultura de memória da II Guerra Mundial e do Holocausto, que já foi alvo de críticas quer do mais extremista Björn Höcke quer do co-líder Gauland.

Höcke, que lidera a AfD no estado federado da Turíngia, no Leste, considera que o monumento do Holocausto em Berlim é uma vergonha; Gauland disse que o período nazi pode ser comparado a uma “caganita de pássaro” na História da Alemanha e que era possível ter orgulho na Wehrmacht, o exército regular que lutou nas I e II guerras mundiais (e que foi também responsável por crimes de guerra).

"Clique anarquista"

A AfD surgiu em Abril de 2013 com uma linha anti-resgates do euro (o fundador, Bernd Lucke, recusava que fosse sequer um partido de direita), mas com a entrada de 800 mil refugiados na Alemanha em 2015 tornou-se num partido anti-refugiados, anti-imigração, e xenófobo (levando à saída do fundador).

A líder seguinte, Frauke Petry, chegou a defender que a polícia alemã pudesse disparar contra quem atravessasse ilegalmente a fronteira do país. Petry teve algum sucesso e foi eleita junto com vários deputados em 2017 – no próprio dia das eleições anunciou que renunciava ao partido e se manteria como deputada independente. O partido movera-se demasiado para a direita para Petry.

Estas divisões são frequentes em partidos novos, e a AfD, que cresceu depressa, não escapou. O próprio Gauland queixou-se uma vez que os membros da AfD eram “uma clique anarquista”.

E um líder fascista

Uma clique anarquista com figuras fascistas: um tribunal decidiu recentemente que era possível classificar deste modo Björn Höcke, que lidera uma ala extremista chamada simplesmente “A Facção”.

Na Alemanha, se um partido é de extrema-direita – o que implica recusar a democracia e considerar a violência para luta política – é necessariamente sujeito a observação pelo Gabinete para a Protecção de Constituição, que é basicamente um serviço de informação/espionagem interna.

A AfD como um todo tem andado de modo habilidoso na linha que divide a direita radical da extrema-direita, diz o especialista em extrema-direita Kai Arzheimer, evitando esta classificação e assim a supervisão dos serviços secretos. Excepto na Turíngia: o partido nesse estado federado do Leste é considerado extremista e por isso vigiado pelos agentes dos serviços secretos internos.

Ninguém sabe a força desta facção dentro do partido de 35 mil membros. A revista Der Spiegel lembra que o outro co-líder do partido, Jörg Meuthen, estimava, este Verão, que era no máximo 20%. Em Outubro já dizia “talvez 25, 30%”. (Esperava-se uma recandidatura de Meuthen.)

Esta ala também não tem uma grande representação nos órgãos dirigentes do partido. Isso pode mudar neste congresso, apesar de não ser claro se além dos dois candidatos declarados, mais alguém se pode juntar na competição pela liderança.

A divisão das facções está, no entanto, cada vez mais difícil de fazer: Chrupalla é nomeado no processo dos serviços secretos internos pelo seu trabalho conjunto com o Youtuber extremista e anti-semita Nikolai N. E recentemente Gauland declarou que Höcke não estava a levar a AfD mais para a direita, “ele está no centro da AfD”.

E uma das últimas iniciativas da AfD seguiu-se a uma do partido de extrema-direita com ligações a neonazis Partido Nacional Democrata (NPD, que está a ser ultrapassado pela AfD) que fez uma manifestação contra jornalistas.

Pegando na ideia dos “programas de saída” para ajudar neonazis a sair destes grupos que existem na Alemanha, a AfD fez uma campanha com “programas de saída” para jornalistas, nomeando-os. O portal que alojava o site decidiu apagá-lo por este ser um “apelo a acções antidemocráticas”. Há uma série de políticos sob protecção policial por causa de ameaças da extrema-direita; em Junho um político da CDU, Walter Lübke, foi assassinado por um extremista.

No ano passado, a AfD já tinha feito também um apelo (e um site) para denúncias a “professores que não mantivessem neutralidade política”. O site foi rapidamente alvo de um ataque de piratas informáticos.