Guimarães: Andar pela mesma rua por onde passou D. João I vai ser mais fácil
Intervenção na artéria que, na Idade Média, ligava a então vila de Guimarães à estrada que seguia para o Porto está prevista no orçamento municipal para 2020. Os passeios vão ser alargados e muito do estacionamento automóvel removido.
Elo de ligação entre uma das entradas a oeste para a cidade de Guimarães e o Largo do Toural, a Rua D. João I já é calcorreada desde a Idade Média. Uma das pessoas que a atravessou foi precisamente o rei que lhe dá o nome, na ocasião em que se deslocou à Colegiada de Guimarães, no Largo da Oliveira, para agradecer a vitória das suas forças sobre as de Castela em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. “O acontecimento está demonstrado: D. João I entrou pelo lado do Porto, subiu por aquela rua até à Oliveira, onde entregou o pelote, as armas e uma corrente do ouro”, diz o historiador vimaranense António Amaro das Neves ao PÚBLICO.
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Elo de ligação entre uma das entradas a oeste para a cidade de Guimarães e o Largo do Toural, a Rua D. João I já é calcorreada desde a Idade Média. Uma das pessoas que a atravessou foi precisamente o rei que lhe dá o nome, na ocasião em que se deslocou à Colegiada de Guimarães, no Largo da Oliveira, para agradecer a vitória das suas forças sobre as de Castela em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. “O acontecimento está demonstrado: D. João I entrou pelo lado do Porto, subiu por aquela rua até à Oliveira, onde entregou o pelote, as armas e uma corrente do ouro”, diz o historiador vimaranense António Amaro das Neves ao PÚBLICO.
O granito da calçada e dos passeios estende-se hoje gasto por aquele traçado sinuoso, integrado na Zona Especial de Protecção à área classificada pela UNESCO como Património Mundial, mas o seu rejuvenescimento deve avançar no próximo ano, de acordo com o orçamento municipal para 2020, aprovado no passado dia 31 de Outubro. A requalificação, avaliada em 1,2 milhões de euros segundo o documento ao qual o PÚBLICO acedeu, prevê a substituição do granito da calçada e dos passeios, que vão ser alargados à custa da maioria do espaço hoje destinado ao aparcamento automóvel, adiantou ao PÚBLICO o presidente da Câmara, Domingos Bragança. Além de facilitar a circulação aos peões, a obra pretende reencaminhar os automobilistas para os parques de estacionamento mais próximos. “Temos o Parque de Camões e também a feira semanal. Libertamos assim o estacionamento à superfície, cedendo-o para uso pedonal”, explicou o autarca.
A rua já tinha as mesmas feições de hoje aquando da planta mais antiga que se conhece de Guimarães, datada de 1569, explicou Amaro das Neves, mas estava então repartida em duas: a parte mais baixa, correspondente à Rua de Entre Regatos, assim designada por se encontrar entre duas ribeiras, vai continuar aberta ao trânsito automóvel, em sentido único descendente, sendo dotada de uma guia central de granito, com 60 centímetros de largura, para uso ciclável. Já a parte mais alta, a antiga Rua de São Domingos, próxima do Toural, vai apenas permitir o acesso a veículos de moradores e de cargas e descargas, à semelhança do que acontece no centro histórico.
Essa zona distingue-se pela presença de alguns edifícios de relevo com origem no culto a São Domingos, como a igreja, exemplar gótico que é Imóvel de Interesse Público, o claustro do antigo convento, Monumento Nacional, e o edifício da Venerável Ordem Terceira de São Domingos. O espaço entre esses imóveis vai ser repavimentado e as escadas que dão acesso ao Centro Internacional de Artes José de Guimarães reparadas.
Na outra extremidade da rua, a zona que envolve o Padrão de D. João I, Monumento Nacional construído no século XVI, e a Capela de São Lázaro, datada de 1600, vai ter um “novo desenho urbano”, que, segundo a memória descritiva do projecto, visa “reforçar a identidade” do padrão. Está prevista a instalação de bancos e de revestimento vegetal. “A obra também tem em conta a protecção e a valorização do espaço envolvente”, considerou Domingos Bragança.
A Rua D. João I foi o principal acesso à cidade para quem se deslocava do Porto até à abertura da Avenida Conde de Margaride, no século XX; lembrou António Amaro das Neves, mas a importância da artéria também reside, a seu ver, na “arquitectura popular” do seu edificado. “É uma rua popular. Na parte de cima, encontram-se casas mais imponentes. Toda a zona para baixo da travessa das Domínicas [correspondente à antiga Rua de Entre Regatos] era de habitação popular”, disse. “O edificado manteve as características. É preciso não esquecer a importância patrimonial da rua como um todo”.
Obras noutras ruas próximas do centro histórico
A Rua D. João I, referiu o historiador, era uma das três que, no passado, integrava os arrabaldes da vila de Guimarães e constituía acesso ao Toural, a par das ruas de Camões e da Caldeiroa. Essa última rua também vai ser alvo de uma intervenção semelhante à da D. João I, a partir de 2020, graças a uma verba de 870.000 euros. “Vai ter passeios mais alargados, em lajeado de granito, e uma guia para uso ciclável no meio”, adiantou o presidente da Câmara.
Já nas imediações do Castelo de Guimarães e do Paço dos Duques de Bragança, a Rua Padre António Caldas vai-se despir do alcatrão para se revestir de granito, entre o Largo Condessa Mumadona e ao entroncamento com a Rua D. Urraca, que dá acesso ao Castelo, numa obra avaliada em 1,25 milhões de euros. O granito também vai revestir os passeios, sendo que um deles terá ainda uma zona ciclável, revelou Domingos Bragança.