Tempo excessivo nas creches é prejudicial “para desenvolvimento das crianças”

Os bebés até aos dois anos deveriam passar apenas as manhãs na creche. O resto do dia deveria ser passado com a família, defende a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos.

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ADRIANO MIRANDA

O tempo que as crianças passam nas creches portuguesas é desadequado para o seu desenvolvimento, considera a Ordem dos Psicólogos, alertando para o perigo de estes espaços se transformarem num mero “depósito de crianças”.

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O tempo que as crianças passam nas creches portuguesas é desadequado para o seu desenvolvimento, considera a Ordem dos Psicólogos, alertando para o perigo de estes espaços se transformarem num mero “depósito de crianças”.

Os bebés até aos dois anos deveriam passar apenas as manhãs na creche. O resto do dia deveria ser passado com a família — com os pais ou com os avós, explicou à Lusa Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos (OP). “Já entre os dois e os três anos o horário pode esticar um bocadinho, entre as quatro a seis horas por dia. Ou seja, o tempo vai aumentando progressivamente consoante vão crescendo”, acrescentou a especialista.

Mas, em Portugal a realidade é outra. Os bebés e crianças passam nas creches e infantários o tempo “equivalente a um dia de trabalho de um adulto”, ou seja, cerca de oito horas diárias.

Em média, as crianças mais pequenas, até aos três anos, passam 39,1 horas por semana nos infantários, creches ou com amas e as mais velhas (com pelo menos três anos) ficam 38,5 horas por semana fora de casa, segundo o relatório “Estado da Educação 2018”, publicado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que fez um retrato do país actual e a evolução na última década.

As crianças em Portugal passam mais dez horas por semana nas creches quando comparadas com a média do resto da Europa. “Estes tempos não são os mais adequados para o desenvolvimento das crianças”, alertou a vice-presidente da OP.

Crianças deprimidas, com baixa auto-estima e com sentimentos de abandono podem ser as consequências de ultrapassar em muitas horas os limites considerados normais para se estar longe da família.

Sofia Ramalho salientou a importância do equilíbrio do tempo passado na creche e do tempo em família, que acaba por ter impacto na vinculação das crianças com as figuras parentais: “É muito importante que possam passar tempo com os pais, sendo que a qualidade da vinculação implica sempre ter tempo, mas actualmente parece haver cada vez menos tempo para estar com as famílias”.

A vice-presidente da OP critica a “inexistência de políticas públicas que permitam conciliar a vida profissional com a vida familiar”, alertando para o perigo de se estar a transformar as “creches num depósito de crianças”.

A especialista sublinha no entanto que, se forem garantidos os tempos óptimos e se existirem contextos educativos de qualidade, as creches e as amas são uma mais-valia para as crianças.

As crianças também “conseguem vincular-se a outras pessoas” e quando estão criadas as condições este acaba por ser um “contexto propício para o seu desenvolvimento”, sublinhou.

Quando se cumpre o “tempo óptimo”, a creche apresenta inúmeras vantagens, tais como permitir desenvolver múltiplas relações, desenvolver a linguagem ou o seu lado artístico. À socialização, responsabilização, autonomia e partilha junta-se a possibilidade de um melhor desenvolvimento psicomotor.

Além disso, estudos recentes revelam que frequentar a creche aumenta as possibilidades de sucesso académico no futuro e menos desequilíbrios entre crianças de meios socioeconómicos diferentes.

No entanto, lembrou a vice-presidente da OP, “ainda existe falta de equidade no acesso à educação para a primeira infância. Nem todos têm capacidade para colocar as crianças nas creches”.