Violência e discriminação: ouvir para agir
Os números são alarmantes. Saber que cada estatística é feita de pessoas vítimas de diferentes formas de violência não me permite ficar indiferente.
#ouvirparaagir. Hoje é Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Estas datas têm de ter, na minha opinião, um propósito prático e eficaz e por isso, às 14h30, na Fundação Calouste Gulbenkian, a Corações Com Coroa (CCC), associação que fundei e a que presido desde 2012, organiza a conferência e entrega dos prémios de jornalismo e campanha Corações Capazes de Construir, sob o tema “Violência e Discriminação: Ouvir para Agir”. A entrada é livre e vamos muito além da efeméride. Daremos palco a testemunhos pessoais que partilham a dor de quem é violado nos seus direitos, de quem é inferiorizado, mas também a especialistas que nos ajudam na compreensão e capacitação de argumentos que podem contribuir para que sejamos cada vez mais actores de mudança de mentalidades, promotores da inclusão, changemakers sem paternalismos. Abriremos o diálogo com a sala, tentando responder a questões transversais que não conhecem fronteiras sociais, económicas ou nacionais, e cujo olhar e defesa diz respeito a todos e todas nós.
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#ouvirparaagir. Hoje é Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Estas datas têm de ter, na minha opinião, um propósito prático e eficaz e por isso, às 14h30, na Fundação Calouste Gulbenkian, a Corações Com Coroa (CCC), associação que fundei e a que presido desde 2012, organiza a conferência e entrega dos prémios de jornalismo e campanha Corações Capazes de Construir, sob o tema “Violência e Discriminação: Ouvir para Agir”. A entrada é livre e vamos muito além da efeméride. Daremos palco a testemunhos pessoais que partilham a dor de quem é violado nos seus direitos, de quem é inferiorizado, mas também a especialistas que nos ajudam na compreensão e capacitação de argumentos que podem contribuir para que sejamos cada vez mais actores de mudança de mentalidades, promotores da inclusão, changemakers sem paternalismos. Abriremos o diálogo com a sala, tentando responder a questões transversais que não conhecem fronteiras sociais, económicas ou nacionais, e cujo olhar e defesa diz respeito a todos e todas nós.
Esta é já a nossa 8.ª conferência. Acredito que é fundamental estimular a fusão do saber, de experiências, para combater a propagação de opiniões não sustentadas, demagógicas, baseadas tantas vezes num medo construído em pés de barro, nas fake news e que se traduzem em comportamentos e medidas nocivas para uma sociedade que deve rejeitar o discurso do ódio e onde ninguém é deixado para trás. Pelo mundo proliferam políticas que perigam liberdades e direitos há muito conquistados. Mas, simultaneamente, inúmeros movimentos activistas se têm feito ouvir, também no que se refere aos direitos das mulheres.
Uma vez por ano, através da CCC, o auditório enche-se para debater as temáticas dos direitos humanos, inspirando a sociedade a ser mais pró-activa e dialogante. Temos de sentir que somos parte da solução para uma efectiva protecção social, onde as pessoas são tratadas de forma igual, protegidas de ataques e leis discriminatórias.
Enquanto documentarista do programa da RTP “Príncipes do Nada”, na minha missão de Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), ou como presidente da CCC, ouço relatos contados na primeira pessoa que espelham a necessidade de, enquanto sociedade civil, exigirmos respostas céleres, compromisso e acção. Participei na semana passada na Summit Nairobi sobre população e desenvolvimento – ICPD25 –, promovida pelo UNFPA, onde testemunhei histórias de sucesso que precisam de ser replicadas e promessas feitas que precisam de ser aceleradas para que se dignifiquem e se salvem vidas!
Os números são alarmantes. Saber que cada estatística é feita de pessoas (milhares!) vítimas de diferentes formas de violência, que sofreram situações de homofobia, xenofobia, e outros preconceitos que se traduzem em manifestações de exclusão social, não me permite ficar indiferente.
No mundo, uma em cada três mulheres já sofreu algum tipo de violência psicológica ou sexual; uma em cada 20 foi vítima de violação, e um em cada seis homens já sofreu de violência sexual. Um em cada dois europeus afirma que a discriminação com base na orientação sexual e pela identidade de género está enraizada e banalizada no seu país de origem. Um em cada dois europeus afirma que uma deficiência e a cor da pele/origem étnica são desvantagens no mercado de trabalho. Três em cada quatro europeus considera os ciganos o grupo étnico que sofre mais riscos de discriminação. Dois em cada três refugiados são mulheres ou crianças. Quase 10.000 crianças foram agredidas nos últimos quatro anos no mundo inteiro. Em Portugal, foram detectados 96 casos de mutilação genital feminina desde o início do ano (mais 40 que no ano anterior) e pelo menos 23 mulheres morreram vítimas de violência doméstica. 58% dos jovens portugueses revela já ter sofrido violência no namoro.
Confirmam-nos os dados que são as meninas, raparigas e mulheres quem corre mais riscos e se encontra numa situação de maior vulnerabilidade na prevenção de agressões e abusos, que vão da violência doméstica ao assédio e tráfico sexual, exploração laboral, mutilação genital feminina, casamentos infantis e forçados, também em contextos de crise humanitária e conflito armado. Que sofrem pela ausência de acesso a cuidados de saúde sexual e reprodutiva, de serviços de planeamento familiar para que possam ter um controlo da sua vida, que lhes possibilite investir na saúde e educação dos seus filhos e, sobretudo, dar à luz sem morrer!
Eu não estou a escrever sobre o que li, escrevo sobre o que vi ao longo dos anos e agora acabada de chegar do Bangladesh, Líbano, Grécia e Colômbia a acompanhar o drama dos refugiados.
“Quando eles me estavam a violar, um de cada vez, seis no total, depois de já ter caminhado tantos quilómetros a pé, eu só pensava que queria morrer mas, pelos meus filhos, levantei a cabeça numa dor imensa…” – um dos muitos testemunhos que ouvi e que aumentam a minha responsabilidade pela confiança da partilha.
Na CCC garantimos aconselhamento gratuito nas áreas da psicologia, assistência social, apoio jurídico, dentário (tão necessário como consequência da violência doméstica) e ao nível da parentalidade positiva. Atribuímos bolsas de estudo a jovens raparigas que estão na iminência de ter de abandonar os estudos por questões financeiras. É um orgulho imenso saber que a Jéssica Silva, por exemplo, que representa a nossa selecção de futebol, começou com o nosso “empurrão” e que agora marca todos os dias valentes golos na sua vida. Ou a Elia, jovem romani, no curso de Direito, uma role model para tantas outras raparigas ciganas que nela encontram a força para boicotar casamentos e gravidezes precoces, o que lhes permite continuar a estudar. A CCC vai também a escolas, com um projecto contra a violência no namoro, uma realidade pouco debatida na nossa sociedade e que, inevitavelmente, aumentará os números e a vergonha da violência doméstica.
As histórias que vou ouvindo, guardando ou partilhando não me deixam desligar, nunca… Há uma inquietação permanente que me move. A minha noção de sucesso é poder contribuir para melhorar a vida de outras pessoas e contagiar solidariedade. É isso que dá total sentido à minha condição de figura pública. É para isso que trabalho.