Programas eleitorais de Corbyn e Johnson podiam ser para dois países diferentes
Tories e trabalhistas prometem investir na saúde, educação e infra-estruturas, mas oferecem abordagens diferentes: conservadores prevêem aumento anual de 2,9 mil milhões de libras em despesas, em total contraste com os 83 mil milhões extra do Labour.
“É como se estes dois manifestos não viessem de partidos diferentes, mas de dois países diferentes”. É desta forma que Ed Conway, editor de Economia da Sky News, compara as previsões de aumento da despesa pública dos programas eleitorais de Partido Conservador e Partido Trabalhista, principais rivais nas eleições legislativas antecipadas do Reino Unido, agendadas para o dia 12 de Dezembro.
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“É como se estes dois manifestos não viessem de partidos diferentes, mas de dois países diferentes”. É desta forma que Ed Conway, editor de Economia da Sky News, compara as previsões de aumento da despesa pública dos programas eleitorais de Partido Conservador e Partido Trabalhista, principais rivais nas eleições legislativas antecipadas do Reino Unido, agendadas para o dia 12 de Dezembro.
Um e outro partido prometem investimento nas escolas, nos hospitais, nas infra-estruturas e nos acessos, mas os cálculos e as estratégias para lá chegarem não têm sequer comparação: por cada libra extra prevista pelos tories, o Labour destina 28 libras.
Se é certo que aumento anual de 83 mil milhões de libras (97,3 mil milhões de euros) em despesas correntes do Estado, previsto no manifesto de Jeremy Corbyn, encaixa na ambição desmedida do “mais radical e ambicioso plano das últimas décadas para o país” – palavras do líder trabalhista –, a proposta do partido de Boris Johnson, não deixa de surpreender pelo seu comedimento.
Até porque não é só o Partido Trabalhista, e o seu plano de nacionalizações e de investimento público recorde, que sugerem um incremento considerável nas despesas do Estado britânico: os próprios Liberais-Democratas prometem mais 63 mil milhões de libras por ano para o mesmo efeito.
De acordo com o manifesto tory, apresentado no domingo pelo primeiro-ministro britânico, os conservadores prevêem um aumento de “apenas” 1,5 mil milhões de libras da despesa pública em 2020, que crescerá para 2,8 mil milhões em 2021 e 2,9 mil milhões em 2022, 2023 e 2024.
Números modestos, tendo em conta algumas das medidas incluídas no manifesto, como a garantia de que os impostos ou o IVA não serão aumentados ou a promessa de entrada de 50 mil novos enfermeiros no NHS (serviço nacional de saúde) e de 20 mil polícias nas forças de segurança. Ao que se somam os quase 100 mil milhões de libras prometidos para o melhoramento da rede rodoviária, dos caminhos-de-ferro, dos hospitais e das escolas.
“Onde os programas do Labour e dos Liberais-Democratas se evidenciam pela dimensão das suas ambições, o manifesto conservador não o faz. Teremos de catalogar de modesto um orçamento que inclua estas propostas fiscais e de investimento público”, considera Paul Johnson, director do Instituto de Estudos Fiscais, citado pelo Guardian.
“Vamos investir nos serviços públicos, mas de uma forma sensata”, afiançou, no entanto, o primeiro-ministro, na apresentação do manifesto, depois de questionado sobre as comparações com o programa do Labour – sobre o qual tinha dito, dias antes, “não ter qualquer credibilidade”. E acrescentando: “Todos os governos trabalhistas terminam em crise económica”.
Duas visões
Retirando, por momentos, os liberais da equação, em causa não está apenas a comparação entre dois programas desenhados para uma eleição específica, mas principalmente entre duas visões, em quase tudo opostas, que um e outro líder político têm para um país partido ao meio pelo processo atribulado de saída da União Europeia.
Boris Johnson aposta forte na garantia de que o seu Governo irá cumprir o “Brexit” até ao dia 31 de Janeiro de 2020 e que, depois disso, irá conduzir o Reino Unido até uma posição de destaque na economia e na diplomacia globais, ao passo que Jeremy Corbyn coloca todas as fichas na promoção de um projecto social e económico interno, de ruptura com o passado recente do Reino Unido.
O fosso entre eles é, por esta altura, tão óbvio, que nem se esperam grandes flutuações no sentido de voto dos britânicos, sugerido pelas sondagens – 44% para conservadores e 28% para trabalhistas –, se um ou outro não mudarem radicalmente o discurso ou a estratégia.
“Os conservadores e os trabalhistas apresentam abordagens totalmente diferentes sobre o tamanho do Estado e a sua capacidade de intervir no mercado”, analisa Laura Kuenssberg, editora de Política da BBC. “As enormes divergências nesta eleição são visíveis desde o primeiro dia. E os dois manifestos servem para salientar – e não para revelar – essa realidade”.