Sobe a pressão para Netanyahu se afastar após acusação de corrupção

Deputado do Likud pede voto para nova liderança; grupo cívico faz petição ao Supremo.

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Manifestantes pedem afastamento de Netanyahu ABIR SULTAN/EPA

A pressão para o afastamento do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, está a aumentar, com um desafio à sua liderança dentro do próprio partido, o Likud, uma proposta do seu rival, Benny Gantz, para a formação de um governo de unidade em que Netanyahu assumiria a chefia apenas na segunda metade do mandato se for absolvido, e uma petição ao Supremo do Movimento para a Qualidade do Governo em Israel pedindo o afastamento do primeiro-ministro enquanto não é julgado.

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A pressão para o afastamento do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, está a aumentar, com um desafio à sua liderança dentro do próprio partido, o Likud, uma proposta do seu rival, Benny Gantz, para a formação de um governo de unidade em que Netanyahu assumiria a chefia apenas na segunda metade do mandato se for absolvido, e uma petição ao Supremo do Movimento para a Qualidade do Governo em Israel pedindo o afastamento do primeiro-ministro enquanto não é julgado.

Tudo se segue ao anúncio do procurador-geral, Avichai Mendelblit, da acusação contra Netanyahu por corrupção, fraude e abuso de poder, algo sem precedentes em Israel (apenas um primeiro-ministro foi julgado por corrupção e apenas foi acusado depois de se demitir). Uma acusação cuja importância é difícil de exagerar, já que foi feita por um procurador que foi próximo de Netanyahu, cuja presença no cargo se deve ao primeiro-ministro, e que dificilmente se poderia caracterizar como alguém do campo político oposto ou com o menor interesse em derrubar o primeiro-ministro.

Mas a defesa de Netanyahu tem sido precisamente nesta linha, atacando a quem o está a acusar, dizendo que é um golpe e que há interesses estrangeiros em ter um governo israelita enfraquecido.

Tudo isto enquanto Israel já teve duas eleições este ano e aumentam a cada dia as possibilidades de uma terceira. Os dois principais blocos políticos  de Netanyahu e do seu rival, Benny Gantz – não conseguem formar um governo com o seu próprio campo, nem concordar com um governo de unidade entre os dois.

Este domingo, Gantz propôs a Netanyahu um governo de unidade com chefia rotativa do Governo – Gantz seria o primeiro, para deixar Netanyahu a oportunidade de provar a sua inocência em tribunal e, se o conseguisse fazer, Netanyahu poderia voltar ao cargo na segunda metade do mandato.

Netanyahu “está totalmente fora da realidade"

Depois de um período em que quer Netanyahu quer Gantz falharam em conseguir uma coligação maioritária para Governo, os deputados têm 21 dias para propor, e votar, directamente num candidato a primeiro-ministro: a única maneira de evitar uma terceira eleição num ano.

Dentro do Likud, o deputado Gideon Saar pediu uma votação para a liderança do partido, argumentando que Netanyahu não vai conseguir formar governo (a “linha vermelha” de Gantz era coligar-se com um político suspeito de corrupção, e a acusação da semana passada só fortalece essa posição). O Likud nunca afastou um líder nos seus 97 anos de história (nem como o movimento inspirador, fundado por Zeev Jabotinsky, nem mais tarde, já após a fundação do Estado de Israel, como partido).

“Só há uma maneira de salvar o país, tirá-lo da crise, e assegurar que o Likud continua no poder – e é ter primárias já, nestes 21 dias”, para ainda conseguir a votação do candidato a primeiro-ministro no Parlamento, disse Saar. 

O antigo ministro do Likud e actual deputado criticou o modo como Netanyahu tem apresentado as acusações, caracterizando-as como uma tentativa de golpe envolvendo polícia, procuradores e media. “Não é apenas errado dizer isso, é também irresponsável”, afirmou. “É estar totalmente fora da realidade.”

Já o Movimento para a Qualidade do Governo em Israel argumenta na sua petição ao Supremo que a manutenção do cargo de um primeiro-ministro acusado de corrupção é “ultrapassar um limite e um golpe grave na confiança pública nas instituições governativas”.