A Cannadouro é uma feira para quem quer saber tudo sobre cannabis
O Centro de Congressos da Alfândega, no Porto, vai ser palco do encontro da cultura de cannabis em Portugal pela terceira vez consecutiva. A Cannadouro acontece a 23 e 24 de Novembro, das 11h às 20h, e quer “promover um uso consciente” e informar.
A terceira edição da Cannadouro – “local de encontro de toda a cultura ‘canábica’ em Portugal” – chega a 23 e 24 de Novembro ao Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Sendo a “feira internacional de cânhamo do Porto, trata-se também de uma feira empresarial onde vão estar presentes empresas de vários países ligadas às múltiplas utilizações do cânhamo agro-industrial, recreativo e medicinal”, descreve ao P3 João Carvalho, director do evento e activista pela legalização da cannabis há mais de 20 anos.
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A terceira edição da Cannadouro – “local de encontro de toda a cultura ‘canábica’ em Portugal” – chega a 23 e 24 de Novembro ao Centro de Congressos da Alfândega do Porto. Sendo a “feira internacional de cânhamo do Porto, trata-se também de uma feira empresarial onde vão estar presentes empresas de vários países ligadas às múltiplas utilizações do cânhamo agro-industrial, recreativo e medicinal”, descreve ao P3 João Carvalho, director do evento e activista pela legalização da cannabis há mais de 20 anos.
No centro de todo o encontro está, como o nome indica, a cannabis ou cânhamo. “Contribuir para a informação dos utilizadores” e “promover um uso consciente de forma a prevenir e minimizar problemas de saúde individual e pública” são os principais objectivos. Para isso podem ajudar as conferências e mesas redondas, que decorrem durante os dois dias, onde se vão abordar temas como a utilização do cânhamo na construção de edifícios ou outro tipo de indústrias, a situação da legalização noutros países e o uso recreativo (a que chamam “a cannabis politicamente incorrecta").
Estas conversas “são uma das vertentes da feira com maior adesão porque há muita curiosidade, muito interesse e procura de informação relativamente à cannabis aqui em Portugal”, diz João Carvalho. E, pela primeira vez, vão decorrer numa “sala autónoma e devidamente insonorizada”. Em Portugal, o consumo está despenalizado desde 2001, mas o tráfico, ou seja, a venda, é crime. Uma situação que pode colocar em risco a segurança dos consumidores, ainda para mais quando não há grande espaço para esclarecer dúvidas. “O consumo não informado por parte, sobretudo, das camadas jovens é algo que tem de ser resolvido.”
Paralelamente às bancas de todos os participantes, a feira inclui também uma zona cultural, que vai receber concertos, sessões de tatuagens e de graffiti e até uma exposição de fotografia que “mostra a evolução do crescimento de uma planta de cânhamo”. É no espaço exterior da Alfândega que se situa a zona de restauração, onde todos os negócios terão algum produto confeccionado com cânhamo. E, pela primeira vez, há um espaço dedicado à utilização da cannabis no contexto das terapias alternativas. No Cannahealing, os visitantes podem “fazer tratamentos por marcação de osteopatia, a terapia escolhida para esta edição”.
Cannabis medicinal em foco
A utilização de cannabis para fins medicinais está na ordem do dia e a Cannadouro reflecte-o. A começar pela área dedicada às associações, que conta a presença de várias organizações que defendem esta terapia oriundas de Espanha, Alemanha e Brasil. Cada uma delas vai mostrar qual é o panorama legal do seu país. “O Brasil está quase a conseguir legalizar o uso para fim medicinal”, realça o director da feira.
A luta dos activistas e de doentes que acreditam na cura através do cânhamo ganhou uma nova dimensão no ano passado, a 18 de Julho de 2018, aquando da legalização da cannabis para fins medicinais em Portugal. Este foi “um bom primeiro passo”, mas agora “convém que o espírito da lei seja cumprido na sua íntegra e que o autocultivo venha a ser considerado”, evidencia João, que fala em “autênticos milagres” derivados desta terapia, aos quais mesmo as “mentes conservadoras” não podem deixar de “reagir positivamente”.
“Se há patologia que mais contribuiu para a aceitação e legalização da cannabis medicinal é a epilepsia infantil”, conclui o activista. E dá como exemplo a filha de Carla Dias, presidente do Observatório Português da Canábis Medicinal: a menina tem epilepsia e, segundo a mãe, desde que começou a tomar duas gotas por dia de óleo de CBD (óleo de canabidiol que é “extraído das folhas de cânhamo através de uma prensagem a frio sem transformação laboratorial”) as convulsões passaram de 40 por mês para cerca de quatro. A dirigente estará no primeiro dia do evento a apresentar o livro que escreveu sobre a doença da filha: Uma mãe de F.I.R.E.S. (Febrile infection-related epilepsy syndrome).
Já quanto ao uso recreativo do cânhamo, João Carvalho não poupa nas palavras: “As mentes conservadoras têm de começar a ter a capacidade de tirar a cabeça da areia e perceber que a utilização recreativa da cannabis em contexto ilegal produz bem mais danos do que em contexto legal onde há informação, onde há um uso consciente.” Por enquanto, há que “estimular o debate e dar informação à sociedade”. É o que se tentará fazer sábado e domingo, das 11h às 20h. Os bilhetes custam seis euros para um dia, oito para os dois.