Protestos intensificam-se na Colômbia e Iván Duque põe o Exército nas ruas
Manifestantes protestam contra Governo conservador, mas não há apenas uma razão para o movimento. Presidente põe a tónica no combate ao vandalismo, mas diz que quer dialogar.
O Presidente da Colômbia, Iván Duque, mandou o exército para as ruas de Bogotá e levar a cabo patrulhas mistas com a polícia, depois de uma enorme mobilização nas ruas de manifestantes contra as políticas do seu governo. Duque disse ainda que quer começar na próxima semana um “diálogo nacional” para fazer diminuir a tensão.
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O Presidente da Colômbia, Iván Duque, mandou o exército para as ruas de Bogotá e levar a cabo patrulhas mistas com a polícia, depois de uma enorme mobilização nas ruas de manifestantes contra as políticas do seu governo. Duque disse ainda que quer começar na próxima semana um “diálogo nacional” para fazer diminuir a tensão.
A capital colombiana viu-se dividida na sexta-feira entre cidadãos que, nas ruas, faziam barulho com panelas em protesto, conta o diário espanhol El País, e bombas de atordoar da polícia que tentava interromper actos de vandalismo e roubos esporádicos.
Há pessoas a servir-se dos protestos para “semear o caos”, disse Duque, justificando a mobilização do exército, uma medida que não era tomada desde 1977, nota o diário El País.
As grandes marchas de quinta-feira juntaram mais de 250 mil pessoas contra o Governo conservador de Iván Duque, opondo-se a planos de reforma económica como o fim do salário mínimo, criticando a falta de acção do governo contra a corrupção e o aumento de mortes de activistas de direitos humanos. Os protestos terminaram com três mortos na província ocidental de Valle del Cauca.
As autoridades impuseram um recolher obrigatório na capital, com alguns bairros a começar logo às 20h de sexta-feira. Foram as mais recentes medidas numa semana em que já houve encerramento de fronteiras e proibição de venda de álcool.
"Não somos vândalos"
Milhares de pessoas juntaram-se de novo na sexta-feira para um “cacerolazo”, um protesto sonoro em que se bate com colheres em panelas, caçarolas e frigideiras, como disse um dos manifestantes à rádio Caracol, “para verem que não somos vândalos”.
“Este é um governo pouco eficaz que mata crianças e não o reconhece”, disse à Reuters a estudante de artes Katheryn Martinez, 25 anos, que participava no protesto. Referia-se a uma recente intervenção militar contra rebeldes (um grupo dissidente das entretanto desmobilizadas FARC) que matou oito adolescentes e levou à demissão do ministro da Defesa, um importante aliado de Duque.
Alguns manifestantes temem o que muitos consideram ser o falhanço do governo em honrar o acordo de paz com as FARC, de 2016, quando a violência está a aumentar, nota a BBC. Mas ao contrário de outros na região (por exemplo no Chile, onde os protestos são contra o aumento do custo de vida), a revolta popular na Colômbia não têm uma só causa, e cidadãos de quase todos os quadrantes da sociedade têm saído à rua por motivos diferentes, diz a emissora Al-Jazira. Isto deixa Duque numa situação mais complicada.
A professora de Ciência Política Sandra Borda, da Universidade dos Andes, em Bogotá, diz à Al-Jazira que há duas opções. Numa o governo mantém teimosamente a sua linha, e enfrenta protestos mais duradouros com impasse e confrontos à vista. Na outra opção, inicia negociações e acorda mudanças – o que na sua situação de fragilidade e perante a força dos movimentos cívicos, “vai levar a que tenha de fazer muitas concessões”.
Das palavras de Duque presumir-se-ia que a primeira é a mais provável, mas a própria analista afirmou-se surpreendida com algumas vozes da direita conservadora a opinar que a vaga de protestos na América Latina e na Colômbia tem de ser levada a sério.
O deputado Mauricio Toro, da Aliança Verde, na oposição, criticou os incidentes violentos e o vandalismo durante os protestos, mas sublinhou que foram levados a cabo por “uma ínfima minoria”. Toro também notou que no seu discurso o Presidente tenha dedicado mais tempo a “factos marginais” como esses episódios e não tenha dado “uma resposta concreta e clara às reivindicações dos cidadãos”.
Ainda na sexta-feira, uma bomba explodiu numa esquadra de polícia na cidade de Santander de Quilichao, no sudoeste do país, conhecida como um ponto de tráfico de drogas e violência. Três polícias morreram e dez ficaram feridos no ataque, que não foi imputado anda a nenhum grupo.