Jesus campeão: português leva Flamengo ao altar da América do Sul

38 anos depois, o Flamengo conquistou a Taça dos Libertadores. Jorge Jesus é, agora, o herói inigualável para cerca de 40 milhões de adeptos do Flamengo.

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LUSA/Antonio Lacerda

23 de Novembro de 2019 acaba de tornar-se o dia mais importante da vida futebolística de Jorge Jesus, que conseguiu neste sábado um autêntico “milagre”. O treinador do Flamengo é o novo campeão sul-americano, depois de a equipa brasileira ter batido o River Plate, por 2-1, na final da Taça dos Libertadores, num final “louco”, com reviravolta nos descontos

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23 de Novembro de 2019 acaba de tornar-se o dia mais importante da vida futebolística de Jorge Jesus, que conseguiu neste sábado um autêntico “milagre”. O treinador do Flamengo é o novo campeão sul-americano, depois de a equipa brasileira ter batido o River Plate, por 2-1, na final da Taça dos Libertadores, num final “louco”, com reviravolta nos descontos

Esgotados que estão os trocadilhos em matéria de fé e religião, com Jorge Jesus e o seu adjunto, João de Deus, resta apelar à simplicidade dos números: Jorge Jesus é, agora — e mais ainda —, o herói inigualável para mais de 40 milhões de adeptos do Flamengo, o clube com mais fãs no globo. É, pura e simplesmente, um português nas bocas do mundo. E um português que se tornou o segundo estrangeiro a vencer a Libertadores.

Dois golos de Gabriel Barbosa (”Gabigol”), já “fora de horas”, permitiram a Jorge Jesus ser campeão do continente sul-americano, mas também ter garantida a presença no Mundial de Clubes, prova na qual poderá lutar para ser campeão do mundo.

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No Rio de Janeiro, na noite anterior a esta final, o Cristo Redentor “vestiu-se” a rigor, reflectindo a camisola do “Mengão”. Em Lima, no entanto, o Flamengo não se vestiu a rigor, já que não usou o “fato-macaco”, o único  possível frente aos agressivos e intensos argentinos. E bem poderia ter sofrido com isso, não fosse o milagre de Gabriel, nos minutos finais.

No Estádio Monumental de Lima, no Peru, na primeira vez em que a final da Libertadores foi decidida em modelo europeu, num só jogo, os “onzes” escolhidos foram aqueles que os adeptos decoraram nas últimas semanas e sabem disparar na ponta da língua. Sem surpresas.

Também sem surpresa foi o que trouxe a primeira parte, um exemplo perfeito do que são os jogos da Libertadores, do que são Flamengo e River e, essencialmente, Brasil e Argentina em matéria futebolística. 

O Flamengo pouco conseguiu jogar, com o River — agressivo e intenso — a bloquear não só o portador da bola, como as linhas de passe. Quando o s brasileiros não conseguiam colocar a bola nos criativos e tinham de voltar para trás, o trabalho do rival estava feito. Quando o Flamengo tentava colocar passes verticais entre linhas, o River fazia a segunda parte do trabalho: faltas. Foram 18 as infracções cometidas na primeira parte (contra seis do Flamengo). E em roubos de bola a diferença foi natural — quatro contra 12.

Foi assim que o River impediu o Flamengo de jogar e foi também assim que chegou ao golo. Aos 14 minutos, o ex-Benfica Enzo Pérez, agressivo na pressão, recuperou a bola em zona adiantada e serviu Nacho Fernández, que cruzou rasteiro para o centro da área. Ali, a bola tem de sair, dê por onde der. Mas não saiu, porque Arão e Gerson, passivos, se encolheram. Aproveitou Borré para finalizar tranquilamente.

O relvado algo seco também não ajudou o Flamengo — a bola prendia muito e tornava a circulação mais lenta — e o jogo seguiu na mesma toada: muitas faltas, muitos duelos, Flamengo incapaz e River a explorar a profundidade.

A segunda parte foi bastante diferente. O Flamengo voltou mais predisposto a lutar pelas bolas divididas  e consciente de que aquele estilo de jogo não funcionaria. A equipa começou a jogar mais longo, esticando e “saltando” a primeira fase de construção. Houve, desta forma, mais transições, com Bruno Henrique a  criar perigo pelo corredor esquerdo. Fê-lo aos 57’, mas nem De Arrascaeta nem Gabriel, nem Éverton conseguiram finalizar, num lance tremendo de triplo desperdício do Flamengo.

Aos 74’ e 76’ voltou a haver perigo criado por Bruno Henrique no corredor e, aos 78’, Gabriel Barbosa não definiu bem um bom passe do ex-FC Porto Diego, lançado na segunda parte. Mas Gabriel estava a fazer o aviso para o que estava por vir.

Aos 88’, Bruno Henrique soltou De Arrascaeta, que serviu o “encosto” fácil de Gabriel, ao segundo poste. Quando já “cheirava” a prolongamento, um erro dos centrais do River — sobretudo Pinola — deixou Gabriel na “cara do golo”. Remate de pé esquerdo, milagre feito e taça na mão do Flamengo. O avançado ainda foi expulso (bem como Palacios), mas o cartão vermelho não apaga o estatuto de herói. E criou um problema aos adeptos do Flamengo, certamente indecisos entre quem idolatrar mais: Gabriel, que deu o título de forma épica, ou Jorge Jesus, o mentor de tudo isto. Difícil.