A felicidade e o bem-estar são auto-ajuda ou ciência?

A felicidade é um assunto sério, como qualquer outro de que a ciência se ocupe. Se pudermos aprender algo útil e confirmado por quem de autoridade, dicas e estratégias sobre como ser feliz devem estar na lista de prioridades.

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Na mão, levo um livro chamado Como Ser Feliz, de Sonja Lyubomirsky. Tem uma capa azul e amarela, o céu e uma flor e o subtítulo anuncia “a receita científica para a felicidade”. Confuso? Talvez. Afinal, o que têm a felicidade e a ciência a ver uma com a outra? A felicidade não é uma coisa individual, de cada um, subjectiva e filosófica? E a felicidade não é uma coisa que ou se sente ou não se sente e pronto…?

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Na mão, levo um livro chamado Como Ser Feliz, de Sonja Lyubomirsky. Tem uma capa azul e amarela, o céu e uma flor e o subtítulo anuncia “a receita científica para a felicidade”. Confuso? Talvez. Afinal, o que têm a felicidade e a ciência a ver uma com a outra? A felicidade não é uma coisa individual, de cada um, subjectiva e filosófica? E a felicidade não é uma coisa que ou se sente ou não se sente e pronto…?

Por mais contraditório que possa parecer aos hedónicos desígnios e desejos humanos, a verdade é que dizer-se que se estuda a felicidade e o bem-estar ainda não é levado a sério nos nossos tempos — os mesmos tempos em que os portugueses são o povo menos optimista da Europa (segundo o European Social Survey, 2006-2012) e em que 18,4% da população nacional sofre de doenças do foro mental (dados de 2018 da OCDE).

Note-se que, por outro lado, também vivemos numa era de exponencial crescimento do negócio da auto-ajuda e do desenvolvimento pessoal. O individualismo e a mentalidade americanizada do self-made man fizeram crescer uma secção nas livrarias em que se prometem revelações sobre segredos milenares, como concretizar os nossos sonhos e viver a vida ao máximo, como ser tudo e mais alguma coisa, como atingir o nirvana em terra.

Então, não é com grande surpresa que, quando pouso o meu livro em cima da mesa, pessoas que conheço, a minha própria família e amigos franzem sobrolhos e reviram olhares descrentes. É ciência, justifico. Há quem estude estes temas (como eu). Há método, rigor e investigação aprofundada. Mas tarde demais. Já os perdi.

No entanto, não queremos todos ser mais felizes? E não queremos saber como? E, partindo do princípio de que sim, a que se devem essas reacções quando se tenta combinar o estudo empírico e a procura pela chave para uma existência plena, cheia e realizada? Infelizmente, na secção de auto-ajuda ainda se misturam autores que não são só médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde, como também gurus, coaches, celebridades-atletas, filósofos que exortam em modo obsceno, variados testemunhos na primeira pessoa. Desta forma, compreende-se a apreensão dos potenciais leitores: nem tudo o que se publica é cientificamente validado, por muitas promessas bem-intencionadas que se alimentem.

O convite que deixo a quem se interesse pelo tema da felicidade como assunto científico (também estudada sob os nomes de “bem-estar” ou “bem-estar subjectivo”) é que procurem não só informação digerida, mas também referências a estudos e entidades reputadas, como universidades, centros de investigação e autores reconhecidos pelo seu trabalho na área. Há “autores” e autores, e não devemos misturá-los, nem o que fazem ou escrevem uns e outros.

Acima de tudo, não desconfiemos tanto da felicidade. Lá por ser um tema que por si mesmo evoca leveza e sorrisos, tem pouco de superficial ou lamechas quando assim o desejamos. A felicidade é um assunto sério, como qualquer outro de que a ciência se ocupe. Se pudermos aprender algo útil e confirmado por quem de autoridade, dicas e estratégias sobre como ser feliz devem estar na lista de prioridades. Em última análise, não se preocupem: ler um livro de auto-ajuda popular de vez em quando, mesmo que por acidente, nunca mordeu ninguém!