Ridículo, ofensivo e inconsequente
Não são três secretarias de Estado deslocalizadas que revelam qualquer vontade descentralizadora.
A ideia de que ao entrar num ciclo autárquico é preciso encontrar medidas que, de alguma forma, alegrem o país que fica fora de Lisboa deve estar a alimentar o pensamento do actual executivo. Que o faça com gestos como a deslocação de secretarias de Estado para fora da capital – até agora a medida mais visível – é só a demonstração da distância que o separa desse mesmo país.
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A ideia de que ao entrar num ciclo autárquico é preciso encontrar medidas que, de alguma forma, alegrem o país que fica fora de Lisboa deve estar a alimentar o pensamento do actual executivo. Que o faça com gestos como a deslocação de secretarias de Estado para fora da capital – até agora a medida mais visível – é só a demonstração da distância que o separa desse mesmo país.
Primeiro o ridículo. Qual o critério para que vão umas e não outras secretarias para fora de Lisboa e o que define a sua localização? Olhando para as escolhas parece ser claro: o critério único é o da proximidade dos governantes dos locais escolhidos. Assim se percebe que a Secretaria de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, ocupada por João Catarino, fique em Castelo Branco. Antes este governante, natural de Proença-a-Nova, já tinha gabinete nesta cidade para gerir a pasta da Valorização do Interior que agora vai para Bragança, onde, pasme-se, reside a actual titular, Isabel Ferreira. Já a Secretaria de Estado da Acção Social vai para a Guarda, onde a governante foi autarca até há bem pouco tempo.
Que o socialista Manuel Machado, presidente da Associação Nacional de Municípios, ache que este “é um sinal positivo que inverte uma tendência centralizadora que ao longo dos tempos se tem observado em Portugal” chega a ser o ofensivo para quem acredita que é necessário um país mais equilibrado. Como referiam anteriores governantes ouvidos pelo PÚBLICO, que viveram similares experiências, e como demonstra o facto de as secretarias de Estado manterem gabinetes em Lisboa, o gesto é mais simbólico do que outra coisa e resulta em muitas viagens para a capital.
Um governo que vem na senda de uma derrota patética na deslocalização do Infarmed, se quisesse ser consequente na sua vontade descentralizadora, poderia começar por resolver a questão do IAPMEI ou do AICEP que, devido ao tecido económico e à vocação exportadora do Norte, alegadamente têm sede no Porto. Como se sabe, até pela ausência de qualquer administrador, há muitos anos que esta não passa de uma localização de fachada e os serviços estão praticamente todos em Lisboa. Este tipo de gestão hipócrita é o que tem marcado a vontade descentralizadora de sucessivos executivos e não são três secretarias de Estado deslocalizadas que revelam qualquer mudança.