Não digo não ao CDS
Defendo um CDS muito diferente. Um CDS disponível para mudar a sério também do ponto de vista interno. Se for este o caminho, não serei eu a dizer que não ao CDS.
A hecatombe do CDS é conhecida e não encontra paralelo. Não chegámos aqui por mero azar, falta de sorte ou de aviso. Chegámos aqui porque a estratégia nunca foi a correcta, porque foram cometidos demasiados erros e porque não se fez qualquer esforço para ouvir quem divergia.
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A hecatombe do CDS é conhecida e não encontra paralelo. Não chegámos aqui por mero azar, falta de sorte ou de aviso. Chegámos aqui porque a estratégia nunca foi a correcta, porque foram cometidos demasiados erros e porque não se fez qualquer esforço para ouvir quem divergia.
No que me diz respeito, apresentei nos últimos quatro anos duas moções de estratégia global, listas alternativas e renunciei ao mandato parlamentar. Não fiz de conta.
Nos últimos anos, o CDS esqueceu o essencial. Esqueceu que quando se dá primazia ao pragmatismo sem ideologia e identidade, nada somos. Esqueceu que a imagem não substitui a clareza das propostas. Esqueceu que Lisboa não é o País. E esqueceu que do outro lado lidava com António Costa.
Nos últimos anos, a pluralidade cedeu perante o unanimismo e o prometido “catch-all” deu lugar a um partido sem caracterização, sem identidade e no fim, infelizmente, sem eleitores.
O desafio de reerguer o CDS não permite margem de erro.
A força do CDS sempre esteve na conciliação dos seus valores com o seu pragmatismo. Sem identidade o pragmatismo nada vale. Um partido como o CDS tem de ter sempre presente a sua matriz democrata-cristã e não pode deixar de continuar a ser um espaço que saiba incluir igualmente conservadores e liberais. Não precisamos de disputas doutrinárias inúteis nem qualquer predominância de uma qualquer tendência interna.
O CDS não deve abandonar – em circunstância alguma – os seus valores de referência: os valores do personalismo e do humanismo, do trabalho e da família, da coesão e da solidariedade, da iniciativa privada e do desenvolvimento, da sustentabilidade e da subsidiariedade, do pluralismo e da meritocracia, da lusofonia e da Europa. Não são valores abstractos. São valores que se traduzem em caminhos concretos de afirmação de uma marca diferenciadora.
Defendo o regresso ao CDS. Na opção preferencial pelos mais pobres, na defesa da vida, dos Direitos Humanos, dos Direitos da Criança, da Família e, por fim, da economia social de mercado.
A nível fiscal, a nível da saúde, a nível da segurança social, a nível da educação, há um longo caminho a percorrer para preservar as famílias e, em particular, a classe média. Assiste-se hoje a um processo de esmagamento da classe média que é muito preocupante. O salário médio português não tem acompanhado a curva de normalização do salário mínimo. Entre o montante salarial e a brutal carga fiscal, as famílias da classe média aproximam-se perigosamente do limiar da pobreza. O sindicalismo e todas as esquerdas não têm interesse em encontrar soluções de recuperação social e económica da classe média e a democracia cristã não pode deixar de assumir a sua tradição histórica de encontrar as soluções que permitam esta harmonização social.
Defendo um Partido que não tenha qualquer receio em afirmar a sua identidade no espaço da Direita democrática e moderada, mostrando com orgulho e assertividade a sua diferença. A sua diferença na defesa de menos impostos e menos Estado, sabendo que só com contas certas podemos diminuir impostos e libertar a classe média do garrote fiscal.
Defendo um Partido que incentive a liberdade individual e que saiba premiar a iniciativa, o risco e o mérito.
Defendo um Partido que não hesita na defesa de um Estado respeitado na Segurança, na Defesa e na Justiça, que aceita a complementaridade na Saúde, na Educação, na Segurança Social e que não reconhece o Ambiente e a Cultura como território de nenhuma esquerda.
Defendo um Partido que não se esconde em reformas fundamentais como por exemplo a Reforma do Estado, da Administração Pública Central e Local, do Mapa Administrativo, todas fundamentais para o necessário refrescamento do nosso regime democrático.
Defendo um CDS em oposição clara a este Governo, mas nunca na oposição ao País e às reformas que já tardam.
Defendo um CDS muito diferente. Um CDS disponível para mudar a sério também do ponto de vista interno. Na organização interna, na gestão financeira, na implantação territorial, na escolha directa dos seus candidatos a deputados, na procura de maior representatividade social e local, na alteração da sigla partidária, no funcionamento da secretaria-geral, na transparência dos procedimentos internos e na clareza dos procedimentos contratuais.
Se for este o caminho não serei eu a dizer que não ao CDS.