“Carta aos eurodeputados Nuno Melo, Álvaro Amaro e José Manuel Fernandes”, publicado a 30 de Outubro de 2019
Direito de resposta do eurodeputado do CDS-PP Nuno Melo à carta aberta escrita por Ana Paula Cruz, publicada no P3 a 30 de Outubro de 2019.
Exma. Senhora Dr.ª Ana Paula Cruz,
A verdade faz-nos mais fortes
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Exma. Senhora Dr.ª Ana Paula Cruz,
Agradeço a carta aberta que me enviou. Mas, parafraseando-a, “foi com um profundo sentimento de revolta” que testemunhei tanta ignorância em relação ao que sucedeu no Parlamento Europeu a propósito da votação de resoluções sobre pessoas em risco no Mediterrâneo, aos poderes desta instituição e, também, da facilidade com que foi politicamente instrumentalizada para atacar apenas alguns eurodeputados, caso, claro, essa não tenha sido exactamente a intenção.
Admiro o esforço que dedica aos mais carenciados. Não faço menos no plano político e legislativo, desde sempre. Por isso, deixo-lhe igualmente umas tantas perguntas, caso pretenda informar-se:
- Sabia que a sua carta foi uma expressão infeliz de um logro que o BE meteu na rede, insuflada pelo frete de alguns jornalistas desatentos ou com partido, depois papagueado nas redes sociais por gente que só lê títulos, ou a mando?
- Sabia que canonizar sem mérito a Marisa Matias e crucificar adversários, manipulando a opinião pública com a mentira e à custa da morte de pessoas, num miserável procedimento difícil de conceber, mesmo em política, não é sério?
- Sabia que é completamente falso que uma resolução que salvaria pessoas no mar tenha sido chumbada por dois votos apenas, no Parlamento Europeu, culpa de dois eurodeputados, um deles do CDS, e que por isso migrantes e refugiados sejam abandonados à sorte?
- Sabia que não houve uma, mas sim quatro resoluções votadas — PPE, ECR, ID e LIBE, subscrita pelo socialista López Aguilar — com o objectivo de salvar pessoas no Mediterrâneo?
- Sabia que o PPE quis uma resolução conjunta que também contivesse a sua visão, mas López Aguilar recusou?
- Sabia que o PPE apresentou como key votes várias emendas à resolução de López Aguilar, de que dependeria o voto final, mas que foram chumbadas?
- Sabia que todos os eurodeputados votaram a favor de uma das resoluções e abstiveram-se ou votaram contra as outras?
- Sabia que com as respectivas votações, todos os eurodeputados quiseram salvar pessoas e, sim, a Marisa Matias escondeu que votou contra três resoluções que também o pretendiam?
- Sabia que votei contra a resolução do socialista López Aguilar, por conter uma agenda com que a maioria não concorda (e em democracia a maioria representa alguma coisa), com exemplo num disparate de “fronteiras abertas” que não existem em mais nenhuma parte do Mundo, ONG dirigidas por activistas de Esquerda quase equiparadas a Estados, a recusa da colaboração com países terceiros para combater o fenómeno e a falta de medidas para contrariar o modelo criminoso de tráfico de pessoas?
- Sabia que mais de metade do Parlamento votou contra a resolução de López Aguilar? Suponho que só um louco ache que a maioria dos eurodeputados deseje a morte de pessoas.
- Sabia que houve muitos socialistas e uma comunista que também votaram contra esta resolução e até um bloquista que não votou mas, ao que parece, a Marisa Matias só sentiu um “arrepio na pele”, tal qual a Senhora Dr.ª só se indignou, com os votos da Direita?
- Sabia que, não obstante, dizer-se que pelo resultado de qualquer resolução morrerão pessoas no Mediterrâneo é de uma ignorância absoluta, ou atroz má-fé, na medida em que uma resolução é um mero texto, uma recomendação, não é lei, não é uma directiva, não vincula Estados e mesmo se aprovada por unanimidade ficaria tudo na mesma?
- Sabia que esta não é uma competência do Parlamento Europeu?
- Sabia que, aliás, já há uma resolução conjunta do PPE e dos socialistas, aprovada por grande maioria em 2016 e, facto significativo, neste ano, a Marisa Matias votou contra?
Conhece o texto desta resolução aprovada, apelando ao salvamento de todas as pessoas sem excepção, também com o meu voto, mas com voto contra da Marisa Matias? (sugiro a consulta: Resolução conjunta PPE / S&D Roberta Metsola (PPE), Kashetu Kyenge (S&D) - (2015/2095(INI))
Finalmente, sabe qual foi a principal diferença entre o que sucedeu em 2016 e em 2019?
Nesta parte eu ajudo. É que em 2016 a Senhora Dr.ª não escreveu cartas abertas, não surgiram títulos a dizer que o BE e a Marisa Matias votaram contra o salvamento de refugiados, ou caricaturas a afogar quem seja na água. A razão? Óbvia. É muito diferente, começando no tratamento, ser-se de Direita ou de Esquerda em Portugal. Tudo sinais de uma democracia doente, flagelada por algum jornalismo com partido, que faz tábua rasa das mais elementares regras do seu próprio código deontológico e de redes sociais, onde se ostenta muita ignorância com orgulho.