Portugal à espera dos seus novos restaurantes com estrela Michelin
Guia 2020 é apresentado esta quarta-feira, em Sevilha, Espanha, e há até quem sonhe com novos duas ou até três estrelas. O céu da gastronomia pode cair sobre a restauração portuguesa?
A lista já vai longa, mas esta parece ser também a história do ketchup de que em tempos falava Cristiano Ronaldo quando lhe notavam a escassez de golos. Depois das queixas de incompreensão e falta de reconhecimento por parte dos inspectores do Guia Michelin em relação à gastronomia portuguesa, nos últimos anos as estrelas chegam de jorro e o número de restaurantes distinguidos não pára de aumentar.
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A lista já vai longa, mas esta parece ser também a história do ketchup de que em tempos falava Cristiano Ronaldo quando lhe notavam a escassez de golos. Depois das queixas de incompreensão e falta de reconhecimento por parte dos inspectores do Guia Michelin em relação à gastronomia portuguesa, nos últimos anos as estrelas chegam de jorro e o número de restaurantes distinguidos não pára de aumentar.
Eram apenas dez já depois do início da década – e só um com duas estrelas, número que já quase triplica com os 26 do guia deste ano (seis deles com duas estrelas) e promete ainda crescer. A expectativa é que Portugal possa somar ainda mais algumas das desejadas estrelas com o anúncio do Guia 2020, já ao final da tarde desta quarta-feira, dia 20 de Novembro, em Sevilha.
É, pois, com as emoções ao rubro que a agora nutrida comitiva de cozinheiros lusos se sentará nas primeiras filas do imponente Teatro Lope de Vega, à espera de ouvir os seus restaurantes chamados ao palco. Nuns casos para ver os seus nomes inscritos na lista de estrelados, noutros para que possam somar o brilho de mais uma estrela à distinção que já ostentam.
Sim, porque depois de os responsáveis do guia terem já prometido um ano “excepcional e com um crescimento em todas as categorias”, os vaticínios apontam para que possa haver novos duas ou até três estrelas. O céu da gastronomia pode cair sobre a restauração portuguesa!
O comunicado da Michelin, divulgado no início do mês, refere-se ao panorama ibérico no seu todo, mas destaca para a próxima edição do guia que “as diferentes categorias estão muito repartidas” na geografia dos dois países. Isto com o resultado de “um dinamismo sólido” e uma “frenética actividade gastronómica” registada pelos seus inspectores, que assinalam ainda o “incremento de estabelecimentos tutelados por grandes chefs com estrela”.
Tudo isto, como é sabido, vale o que vale e deve ser sempre olhado do ponto de vista da estratégia de comunicação. Frequentemente, o tal “crescimento excepcional” é antes orientado para a categoria “Bib Gourmand”, que os responsáveis do guia se têm esforçado por destacar nos últimos anos, mas que o público tem dificuldade em reconhecer face à disparidade de critérios que o guia dá mostras neste particular.
Todo o foco, está, portanto, nas famosas estrelas, e os vaticínios têm-se multiplicado, como de costume orientados pelos convites para a presença na gala remetidos aos cozinheiros pelos responsáveis do guia. Para aumentar a confusão/especulação, registe-se que há este ano uma cortesia excepcional com os convites aos que no ano passado prepararam as comidas da gala, que teve lugar em Lisboa, a primeira vez se realizou em Portugal.
Depois da indignação expressa no ano passado por alguns sectores pelo facto de a terceira estrela não ter sido atribuída ao restaurante Belcanto, de José Avillez, é evidente que esta é de novo uma das especulações aventadas, a que se junta a possibilidade de igual tributo para o Ocean, de Hans Neuner. Ambos estão, naturalmente, convidados, já que são detentores de duas estrelas.
Novidade é a presença de Rui Paula, o que leva a apontar a uma segunda estrela para a Casa de Chá da Boa Nova – Ferran Adrià disse há pouco tempo ser mais que merecida –, mas há que lembrar que Paula tem também o DOC, no Douro, e o DOP, no Porto, restaurantes que muitos consideram há muito merecedores de subir ao estrelato. Já em Lisboa, também o restaurante Feitoria, de João Rodrigues, é apontado como forte candidato à segunda estrela.
Com os olhos do turismo internacional colocado em Portugal, o Guia Michelin descobriu também no ano passado destinos gastronómicos menos centralizados e levou as estrelas até Bragança (G Restaurante, dos irmãos Geadas) e Guimarães (A Cozinha, de António Loureiro), esperando-se agora que a tendência se alargue a Viseu, com a inclusão do restaurante Mesa de Lemos na lista de estrelados – Diogo Rocha é um dos chefs a marcar presença em Sevilha. Tal como Rui Silvestre, de quem se diz poderá trazer a estrela para o Vistas, no Monte Rei Golf & Country Club, nas Sesmarias, o que constituiria uma novidade para o Sotavento algarvio.
Por Lisboa, tanto o Fifty Seconds, do multi-estrelado Martin Berasategui, como o Epur, de Vicent Farges, desde a nascença que têm lugar marcado no céu da gastronomia, só que este nem sempre parece andar coordenado com as opções do guia.
Para lá das anunciadas novidades para a categoria Bib Gourmand, a dúvida maior parece recair sobre os nomes que deixarão de fazer parte da lista das estrelas. Henrique Leis (Almancil) anunciou em meados do ano a vontade de desistir do clube, mas essa, como se sabe, é uma decisão que não está no âmbito da sua disponibilidade. Falta saber se a avaliação dos inspectores do guia – nessa altura já efectuada – aponta nesse sentido ou se o restaurante vai permanecer na lista, mesmo que não queira ostentar o símbolo à sua porta.
Do mesmo modo, é grande a expectativa em relação ao L’And Vineyards, em Montemor-o-Novo, que viu o chef Miguel Laffan voltar a abandonar a cozinha pouco depois de ter reconquistado o ambicionado símbolo. E a Michelin não gosta mesmo nada destas flutuações.