Os 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança
As probabilidades continuam a ser poucas para as crianças que vivem em situações mais vulneráveis e de exclusão. Além dos desafios persistentes de saúde, nutrição e educação, hoje as crianças enfrentam novas ameaças, como as alterações climáticas, a exploração online e cyberbullying ou o aumento das doenças mentais.
Em 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança foi adoptada num raro momento de unidade global. Nesse momento, os líderes mundiais assumiram um compromisso histórico com as crianças de todo o mundo: prometeram a todas as crianças protegê-las e fazer cumprir os seus direitos. A Convenção tornou-se assim o tratado de direitos humanos mais amplamente ratificado da história e ajudou a transformar a vida das crianças em todo o mundo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Em 1989, a Convenção sobre os Direitos da Criança foi adoptada num raro momento de unidade global. Nesse momento, os líderes mundiais assumiram um compromisso histórico com as crianças de todo o mundo: prometeram a todas as crianças protegê-las e fazer cumprir os seus direitos. A Convenção tornou-se assim o tratado de direitos humanos mais amplamente ratificado da história e ajudou a transformar a vida das crianças em todo o mundo.
Contida nesta lei está uma ideia profunda: a de que as crianças não são apenas pessoas pequenas que pertencem aos pais ou adultos. São indivíduos com direitos próprios e alienáveis. A Convenção vem assim reconhecer e formalizar a pessoa Criança enquanto sujeito de direitos próprios, e assinalar a infância e adolescência como tempos especiais, nos quais a criança deve poder crescer, aprender, brincar e desenvolver-se plenamente.
No balanço dos 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança, são inegáveis os ganhos históricos que se fizeram sentir na vida das crianças em todo o mundo, como: a redução da taxa global de mortalidade infantil, que diminuiu em cerca de 60%; a proporção de crianças em idade escolar que não frequentam a escola ter diminuído de 18% para 8%; e a conquista da quase total erradicação de doenças como poliomielite, em que 99% dos casos foram eliminados.
Estas e outras conquistas, realizadas ao longo de três décadas, são a prova de que a vontade e determinação políticas podem mudar a vida das crianças.
Os princípios orientadores da Convenção – a não discriminação; o interesse superior da criança; o direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento; e o direito à participação – influenciaram também inúmeras constituições, leis, políticas e práticas em todo o mundo.
Assistimos, pois, a ganhos efectivos para as crianças nas últimas três décadas: hoje mais crianças podem crescer e desenvolver-se de forma plena e saudável do que em 1989.
No entanto, este progresso não foi uniforme.
As probabilidades continuam a ser poucas para as crianças que vivem em situações mais vulneráveis e de exclusão. Além dos desafios persistentes de saúde, nutrição e educação, hoje as crianças enfrentam novas ameaças, como as alterações climáticas, a exploração online e cyberbullying ou o aumento das doenças mentais.
Nos países de baixo e médio rendimentos, as crianças das famílias mais pobres têm duas vezes maior probabilidade de morrer de causas evitáveis, antes dos cinco anos, do que as crianças das famílias mais ricas. Apenas metade das crianças das famílias mais pobres da África Subsaariana são vacinadas contra o sarampo, em comparação com 85% das crianças das famílias mais ricas; apesar do declínio nas taxas de casamento infantil em todo o mundo, as meninas de alguns países correm mais riscos hoje.
Em todos os países, em maior ou menor grau, a pobreza, a discriminação e a exclusão social continuam a colocar em risco os direitos de milhões de crianças. Os conflitos armados, a desinformação online ou as alterações climáticas têm um impacto devastador no progresso global.
As crianças têm maior probabilidade de sofrer os impactos das alterações climáticas: mudanças rápidas no clima facilitam a propagação de doenças para novos territórios; o aumento da intensidade e da frequência de eventos climáticos extremos originam insegurança alimentar e hídrica. A menos que sejam tomadas medidas urgentes, a realidade para muitas crianças vai ser ainda mais difícil.
Embora a taxa de vacinação seja maior do que nunca, uma desaceleração nas taxas de cobertura de imunização na última década, ameaça reverter ganhos duramente conquistados na saúde das crianças, por exemplo, a cobertura contra o sarampo estagnou desde 2010, contribuindo para o ressurgimento desta doença mortal em muitos países.
O número de crianças fora da escola estagnou e os resultados de aprendizagem para os que estão na escola permanecem baixos: globalmente, o número de crianças que não estão no ensino primário permanece igual desde 2007. Muitos dos que estão na escola não estão a aprender o básico, muito menos as competências necessárias para prosperar no mercado de trabalho actual.
Em Portugal, e para os 1,8 milhões de crianças a viver no nosso território, preocupa-nos o facto de uma em cada cinco crianças viver em risco de pobreza; de o casamento infantil apresentar uma tendência crescente nos últimos três anos; preocupa-nos também o aumento do número e gravidade dos casos clínicos na área da saúde mental, como a depressão e os comportamentos auto-lesivos, ou o facto de 97% das crianças que não podem viver com a família serem institucionalizadas, apenas 3% destas crianças encontrando uma família de acolhimento.
Para acelerar o progresso no avanço dos Direitos da Criança e travar a estagnação e o retrocesso de alguns desses direitos, precisamos de mais informação: dados e evidência científica; de recursos; de envolver as crianças e jovens na co-criação de soluções; e da aplicação dos princípios de equidade e igualdade, pilares da Convenção, em todos os programas e medidas.
O mundo em rápida mudança exige soluções inovadoras para enfrentar oportunidades e desafios emergentes e, sobretudo, precisa de um novo alento para a incorporação dos Direitos das Crianças como causa global mobilizadora para um mundo mais justo.
A UNICEF Portugal, fundada em 1979, dez anos antes da adoção da Convenção sobre os Direitos da Criança, continua empenhada na sua missão, de promoção e defesa dos Direitos da Criança, em colaboração com o Governo e todos os Parceiros. Assim e no âmbito dos 30 anos da Convenção dos Direitos sobre a Criança e dos 40 anos da UNICEF Portugal, a UNICEF organiza no próximo dia 20 de Novembro uma Conferência com o tema “Para Todas as Crianças, Todos os Direitos”, reflectindo sobre a evolução de 30 anos da Convenção e os desafios dos próximos anos para que todas as Crianças tenham uma oportunidade justa na vida.