Quanto custa uma bitcoin à nossa saúde? E ao clima?
A febre das bitcoins parece ter passado, mas as criptomoedas continuam a ter um impacto indirecto na saúde de todos — mesmo daqueles que não as usam.
Não é novidade que o sistema informático em que as bitcoins (e mais umas 2500 criptomoedas) funcionam consome imensas quantidades de energia, e que esse consumo aumenta à medida que mais utilizadores adoptam a moeda. Mas uma equipa de investigadores americanos fez agora o exercício de calcular o custo dos danos que aquele consumo energético faz ao clima e à saúde humana.
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Não é novidade que o sistema informático em que as bitcoins (e mais umas 2500 criptomoedas) funcionam consome imensas quantidades de energia, e que esse consumo aumenta à medida que mais utilizadores adoptam a moeda. Mas uma equipa de investigadores americanos fez agora o exercício de calcular o custo dos danos que aquele consumo energético faz ao clima e à saúde humana.
Num artigo publicado na revista científica Energy Research & Social Science, académicos da Universidade do Novo México, nos EUA, concluem que por cada dólar de bitcoin criada nos EUA no ano passado, o processo de criação implicava 48 cêntimos de dólar em custos associados à saúde e ao clima. Na China, eram 37 cêntimos. Mas os valores variavam muito ao longo do ano, consoante o preço da bitcoin e o número de utilizadores. A 31 de Dezembro, cada dólar em bitcoins criadas nos EUA significava um impacto de 95 cêntimos.
Para obter aqueles valores, os autores recolheram dados sobre a quantidade de emissões de quatro poluentes (incluindo dióxido de carbono) associadas à produção de cada quilowatt de electricidade em ambos os países. Os efeitos e os respectivos custos daqueles poluentes no clima foram depois calculados a partir de fórmulas usadas pelo Governo americano. Já o impacto na saúde foi obtido através de estimativas da exposição de pessoas aos poluentes, o que por sua vez permitiu calcular a mortalidade prematura associada. O custo dessa mortalidade foi depois obtido através do chamado valor estatístico de uma vida, uma variável usada com frequência por seguradoras, por exemplo.
“Sem um perpétuo aumento de preços, a mineração de moedas pode seguir por um quase inevitável saldo negativo de benefícios sociais, à medida que a energia que usam para minerar aumenta cada vez mais”, notam os investigadores.
O estudo reconhece que os resultados são estimativas e que o valor real pode variar muito. Um dos grandes entraves foi a ausência de informação precisa sobre os locais onde estão instalados os computadores responsáveis pelo processo de criação de bitcoins, a chamada mineração, ou mining. Diferentes locais significam pesos diferentes dos combustíveis e de energias renováveis na geração de electricidade.
No sistema em que as bitcoins e outras criptomoedas assentam — a blockchain — as transacções são validadas por um processo computacional, no qual múltiplos processadores concorrem para resolver um problema matemático e decifrar um número. Como recompensa por esse trabalho de manutenção do sistema, recebem moedas. Isto levou a que fossem criados enormes centros de processamento, especialmente em locais onde a electricidade é barata (os centros de dados de empresas como a Amazon ou o Google também colocam problemas de consumo de energia).
Uma das opções propostas no artigo para lidar com os custos sociais da mineração é a via fiscal. No entanto, os autores reconhecem que a facilidade de deslocar o processo de geração de moedas de um país para outro pode tornar este mecanismo ineficaz. Uma alternativa seria investimento público para o desenvolvimento de sistemas de blockchain que consumam menos energia. “É do interesse público global prevenir esta produção socialmente ineficiente e afastarmo-nos colectivamente das alternativas de blockchain que são altamente intensivas no consumo de energia”, argumentam os autores.