Irão corta acesso à Internet após protestos contra a subida do preço dos combustíveis

O Irão, que vive uma grave crise económica, anunciou na sexta-feira o aumento em pelo menos 50% o preço da gasolina para reformar o dispendioso sistema de subvenção dos combustíveis e lutar contra o contrabando. Ayatollah apoia decisão do Governo.

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Aumento no preço dos combustíveis no Irão provocou protestos onde já houve uma vítima mortal LUSA/STRINGER

O Irão cortou o acesso à Internet no sábado, após os protestos contra o aumento do preço dos combustíveis em várias cidades do país, que provocaram confrontos entre manifestantes e as forças de segurança. Conforme constatou a Efe, e confirmaram cidadãos de diferentes zonas do Irão, o acesso continua suspenso este domingo.

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O Irão cortou o acesso à Internet no sábado, após os protestos contra o aumento do preço dos combustíveis em várias cidades do país, que provocaram confrontos entre manifestantes e as forças de segurança. Conforme constatou a Efe, e confirmaram cidadãos de diferentes zonas do Irão, o acesso continua suspenso este domingo.

“Estamos praticamente incomunicáveis”, diz Ali, de 28 anos, da cidade de Jorramshahr, que acredita que “a medida foi tomada para impedir o envio de imagens dos protestos”. “Não querem que o mundo veja o que está a acontecer no país”, acrescentou.

Maryam, 45 anos, de Bandar Abas, queixa-se de não poder seguir as notícias: “Além disso, sou tradutora e o meu trabalho depende da Internet, eles paralisaram a minha vida, nem consegui fazer uma transferência bancária, é insuportável”.

O site netblocks que monitoriza a interrupção da Internet em todo o mundo informou que “as maiores operadoras de redes móveis do Irão, como MCI, Rightel e IranCell, foram desligadas às 18h00 (14h30 de Lisboa) de sábado. Mais tarde, informou que a partir das 22h15 locais a Internet foi quase completamente bloqueada e que apenas 7% estão conectados.

As organizações internacionais sediadas em Teerão, como as agências da ONU, pediram aos seus funcionários que trabalhassem a partir de casa.

Detenções em Yazd

Os confrontos entre manifestantes e polícia na cidade de Yazd, no centro do Irão, levaram à detenção de 40 pessoas, informou este domingo a agência noticiosa Isna. O procurador provincial Mohammad Hadadzadeh, citado pela agência iraniana, afirma que os detidos são “desordeiros”, acusados de vandalismo e a maioria deles não são da região.

O líder supremo do Irão manifestou apoio à decisão do Governo de aumentar os preços dos combustíveis e apelidou alguns dos manifestantes de “bandidos” ajudados pelos inimigos do país.

“A contra-revolução e os inimigos do Irão sempre apoiaram a sabotagem e as falhas de segurança, e vão continuar a fazê-lo”, afirmou o ayatollah Ali Khamenei à televisão estatal. “Não sou nenhum especialista e há opiniões diferentes, mas se os líderes dos três poderes chegam a uma decisão, eu apoio-a”, garantiu.

Os comentários de Khamenei surgiram em resposta aos protestos contra o aumento em 50% dos preços da gasolina fixados pelo Governo que bloquearam o tráfego nas principais cidades, registando-se alguns confrontos entre manifestantes e a polícia.

Na sexta-feira, uma noite marcada pela violência, registou-se a morte de pelo menos uma pessoa. O civil morreu em Sirjan, no centro do Irão, noticiou a agência Isna, onde as manifestações foram “significativas” e as “pessoas atacaram um depósito de gás na cidade e tentaram incendiá-lo”.

Outros protestos ocorreram em Mashhad (Norte), no Sul de Ahvaz, Shiraz, Bandar Abbas e Birjand (Leste), mas também em Gachsaran, Abadan, Khoramshahr e Mahshahr, no Sudoeste, com os manifestantes a chegarem a bloquear estradas.

Crise económica

O Irão, que vive uma grave crise económica, anunciou na sexta-feira o aumento em pelo menos 50% o preço dos combustíveis para reformar o dispendioso sistema de subvenção dos combustíveis e lutar contra o contrabando. 

As receitas da subida dos preços destinam-se a subsidiar 60 milhões de iranianos com necessidades, declarou o responsável pela Planificação e Orçamento, Mohammad Bagher Nobakht, citado pela Irna.

Trata-se de um dos países onde a gasolina é mais subsidiada e onde, até agora, o preço do litro era de 10 mil riais iranianos. Com as novas medidas, cada condutor com um cartão para abastecer passará a pagar 15 mil riais (32 cêntimos de euro) por litro até um máximo de 60 litros por mês, indicou a Companhia Nacional Iraniana de Distribuição de Produtos Petrolíferos num comunicado.

Além daquela quantidade, cada litro custará 30 mil riais (65 cêntimos de euro). Os cartões foram introduzidos em 2007, numa anterior reforma do sistema de subvenção dos combustíveis, tendo sido progressivamente abandonados antes de serem reintroduzidos em 2018.

Encorajado pelo baixo preço, o consumo de combustível é elevado no Irão, onde os 80 milhões de habitantes consomem em média 90 milhões de litros por dia.

Os baixos preços conduzem ainda a um contrabando elevado, que a Irna estima entre 10 e 20 milhões de litros por dia, sobretudo para o vizinho Paquistão, onde o combustível é mais caro.

O contrabando foi estimulado pela queda do rial no mercado cambial, ligada à parte às sanções económicas restabelecidas a partir de meados de 2018 pelos Estados Unidos, após a sua retirada unilateral do acordo internacional sobre o nuclear iraniano de 2015.

A inflação é superior a 40% no Irão e, segundo o Fundo Monetário Internacional, a economia deve contrair-se 9% este ano, antes de registar um crescimento de 0% em 2020.