A família Rajapaksa volta ao poder no Sri Lanka
O homem que liderou o Ministério da Defesa no fim da guerra civil contra os Tigres Tâmil, em que há índicos de brutais violações de direitos humanos, é o novo Presidente, num país traumatizado pelos atentados da Páscoa, reivindicados pelo Daesh.
Gotabaya Rajapaksa, que foi ministro da Defesa durante o período final da guerra civil contra com os tâmil, ganhou as eleições presidenciais de sábado no Sri Lanka, prometendo investir na segurança contra a ameaça do terrorismo, no país assustado pelos atentados contra hotéis e igrejas católicas na sexta-feira santa.
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Gotabaya Rajapaksa, que foi ministro da Defesa durante o período final da guerra civil contra com os tâmil, ganhou as eleições presidenciais de sábado no Sri Lanka, prometendo investir na segurança contra a ameaça do terrorismo, no país assustado pelos atentados contra hotéis e igrejas católicas na sexta-feira santa.
Com a eleição de Gotabaya Rajapaksa, regressa ao poder uma poderosa família política cingalesa, cuja acção foi decisiva para pôr fim – de forma brutal – em Maio de 2009 à guerra civil de 26 anos dos Tigres Tâmil, que lutavam por um Estado independente.
Rajapaksa, de 70 anos, coordenou a derrota militar dos Tâmil quando o seu irmão Mahinda Rajapaksa era Presidente. Agora, prometeu uma liderança forte para garantir a segurança deste Estado-ilha de 22 milhões de habitantes, a maioria dos quais são budistas. Será num templo budista bastante antigo que vai tomar posse, na segunda-feira.
A comissão eleitoral disse que que Rajapaksa teve 52,25% dos votos, e Sajith Premadasa, ministro da Habitação no actual Governo, 41,99%.
O país vive uma das suas maiores crises económicas em 15 anos, agravada pela fuga dos turistas após os atentados de sexta-feira santa, a 21 de Abril, em que morreram mais de 250 pessoas.
Rajapaksa e os seus irmãos, que se espera que venham a ter posições importantes no Governo, são próximos de interesses chineses. Pequim investiu milhares de milhões de euros no Sri Lanka, na construção de portos, auto-estradas e centrais eléctricas nesta nação estratégica no oceano Índico. Mas, como costuma acontecer aos países que beneficiam deste tipo de investimentos chineses, estas benesses traduziram-se num alto nível de endividamento para o Sri Lanka.
O Ocidente e a Índia não se quiseram juntar aos Rajapaksas depois da guerra, por causa das acusações de violações de direitos humanos. Foi uma oportunidade aproveitada pela China.
Agora que a família Rajapaksa regressa ao poder, Pequim terá muito a ganhar, comentou Akhil Bery, analista do Eurasia Group. “É provável que haja um desvio para a China mais uma vez. Pequim está muito feliz que Gota tenha ganho.”
O ministro das Finanças Mangala Samaraweera e dois outros membros do Governo demitiram-se neste domingo, após ter sido conhecida a derrota do candidato do partido que actualmente está no poder.
O novo Presidente pode contar também com a oposição dos partidos tâmiles. Tanto Gotabaya Rajapaksa como o seu irmão Mahinda Rajapaksa enfrentam acusações de violações generalizadas dos direitos humanos na fase final da guerra contra os separatistas em 2009, apoiadas por organizações internacionais. Ambos negam estas acusações.
Os muçulmanos, outro grande grupo minoritário no Sri Lanka, dizem que também têm enfrentado uma hostilidade crescente – os atentados da Páscoa foram reivindicados pelo Daesh. “A vitória de Rajapaksa semeia divisão, e pode criar mais problemas para outros grupos étnicos. Não sei como vai lidar com muçulmanos e tâmiles”, disse Victor Ivan, um colunista político.
Reuters