Autarca independente queria ser social-democrata, mas o PSD de Viseu não deixou
Jorge Sobrado preencheu a ficha de militante, mas ficou sem resposta. Passados meses pediu a devolução da ficha de filiação. Direcção do PSD garante que não chegou nenhuma proposta de inscrição à sede nacional proveniente de Viseu.
O vereador da Cultura da Câmara de Viseu, Jorge Sobrado, só não perdeu o estatuto de autarca independente porque o PSD não deixou. Eleito como independente em Setembro de 2017 na lista do PSD, encabeçada por Almeida Henriques, Jorge Sobrado assumiu o pelouro da Cultura e ganhou notoriedade junto dos agentes e instituições locais do sector.
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O vereador da Cultura da Câmara de Viseu, Jorge Sobrado, só não perdeu o estatuto de autarca independente porque o PSD não deixou. Eleito como independente em Setembro de 2017 na lista do PSD, encabeçada por Almeida Henriques, Jorge Sobrado assumiu o pelouro da Cultura e ganhou notoriedade junto dos agentes e instituições locais do sector.
Em Julho, quase dois anos depois de ter sido eleito, o vereador da Cultura, Património, Turismo e Marketing Territorial aceitou o convite de Almeida Henriques, presidente da Câmara de Viseu - e crítico de Rui Rio, apoiando Luís Montenegro para a liderança dos sociais-democratas - para se filiar no PSD. Jorge Sobrado diz que o anúncio dessa disponibilidade foi acolhido “com simpatia” pelos militantes de base pelo que não havia nada que o fizesse suspeitar que o partido não aprovaria a sua entrada. Até porque a comissão política concelhia do PSD que se encontra em funções é a mesma que aprovou a lista de candidatos à câmara, com Sobrado incluído, nas autárquicas de 2017.
Joaquim Seixas, com quem o PÚBLICO tentou falar por diversas vezes, é o presidente da concelhia de Viseu do PSD. Também era vice-presidente de Almeida Henriques na câmara, mas no início de Agosto renunciou ao mandato, invocando “razões pessoais” e afastando-se. A redistribuição de pelouros no segundo mandato e o protagonismo assumido por um vereador independente como Jorge Sobrado são duas circunstâncias que ajudam a explicar o mal-estar que se foi instalando na autarquia.
Passaram-se vários meses e umas eleições legislativas com o PSD a apelar à abertura do partido à sociedade, nota Jorge Sobrado que, no final de Outubro, face ao silêncio da concelhia, pediu, através de Almeida Henriques, a devolução da ficha de filiação no PSD. “Este episódio diz muito pouco sobre mim e sobre o trabalho que tenho vindo a fazer em Viseu, mas diz muito sobre o estado dos partidos tradicionais e sobre a crise que atravessa o PSD”, declarou ao PÚBLICO Jorge Sobrado, revelando que pediu a devolução da ficha de inscrição “para evitar uma tentativa de ajuste de contas” no partido.
O vereador da Câmara de Viseu, que mantém assim o estatuto de independente, considera que se está perante “uma história pouco edificante no discurso sobre a renovação da democracia e dos partidos tradicionais” e afirma que só voltará a ponderar a sua filiação no PSD “quando sentir que se respira novamente liberdade e responsabilidade” no partido.
Contactado pelo PÚBLICO, o secretário-geral do PSD, José Silvano, confirmou que nos últimos meses não chegou à sede nacional do partido qualquer proposta de filiação relativa a Jorge Sobrado.