Adalberto da Costa Júnior é o novo líder da UNITA

O até agora líder da bancada parlamentar sucede a Isaías Samakuva à frente do partido angolano fundado por Jonas Savimbi. Nem foi preciso segunda volta para confirmar nas urnas o favoritismo com que chegou ao congresso.

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Adalberto da Costa Júnior ganhou a corrida a cinco para a liderança da UNITA AMPE ROGÉRIO/LUSA

Os delegados da UNITA reunidos no complexo Sovsmo, em Viana, nos arredores de Luanda, escolheram esta sexta-feira Adalberto da Costa Júnior para suceder a Isaías Samakuva na liderança do maior partido da oposição em Angola. O até agora líder da bancada parlamentar do partido angolano transforma-se assim no terceiro presidente que o partido fundado por Jonas Savimbi tem desde a sua criação em 1966.

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Os delegados da UNITA reunidos no complexo Sovsmo, em Viana, nos arredores de Luanda, escolheram esta sexta-feira Adalberto da Costa Júnior para suceder a Isaías Samakuva na liderança do maior partido da oposição em Angola. O até agora líder da bancada parlamentar do partido angolano transforma-se assim no terceiro presidente que o partido fundado por Jonas Savimbi tem desde a sua criação em 1966.

O terceiro e último dia do XIII Congresso Ordinário da UNITA ficou marcado por numerosos atrasos na votação que, depois de estar marcada para as 9h00 (uma hora menos em Lisboa), acabou por começar apenas ao princípio da tarde, prolongando-se durante várias horas. E se estava previsto o nome do vencedor ser anunciado às 16h de Lisboa, foram precisas mais de duas horas até se conhecer o vencedor.

Adalberto da Costa Júnior (ACJ) não precisou sequer de segunda volta para ser declarado vencedor, ao ser escolhido com 594 votos dentre os 1111 delegados presentes (53,4%), vindos de todas as províncias do país e do estrangeiro (Portugal, Espanha, França, Bélgica, Reino Unido, Holanda, Suíça, Estados Unidos, Zâmbia, República Democrática do Congo, Namíbia e África do Sul).

O líder da bancada parlamentar disputou a eleição com quatro outros candidatos: Alcides Sakala, o porta-voz e secretário para as relações internacionais do partido ficou em segundo lugar com 422 votos, equivalente a 37,9%; o general Abílio Kamalata Numa, que lutou ao lado de Savimbi até à morte deste, ficou em terceiro lugar com 68 votos, correspondentes a 6,1% dos votos; o vice-presidente e deputado Raul Danda ficou em quarto lugar com 17 votos, o que dá 1,5% de apoio dos delegados presentes; e o primeiro vice-presidente do grupo parlamentar, José Pedro Kachiungo, obteve apenas dez votos, ou seja, 0,9%.

A vitória do antigo porta-voz do partido do Galo Negro não surpreende, pois era dado como favorito e quem acompanhou a transmissão em directo do congresso através da emissão no YouTube da TV Livre Angola pôde aperceber-se da quantidade de declarações de apoio a ACJ que foram sendo deixadas na caixa de comentário.

O anúncio da vitória foi saudado com entusiasmo pelos seus apoiantes presentes no complexo da UNITA em Viana. A gritos de “Presidente Adalberto” e “já ganhou”, a festa foi rija, com cânticos, apitos, danças e até o tom grave da vuvuzela se fez ouvir. Como se lia na enorme faixa que servia de pano de fundo aos festejos, “voltamos a sorrir”. Como se lia na enorme faixa que servia de pano de fundo aos festejos, o mote é: “Voltamos a sorrir”. Por esta ser “a escolha certa para Angola e o mundo”.

Daí que se afirmasse durante vários minutos, em jeito de lengalenga, ao som dos apitos e das vuvuzelas: “Missão cumprida!”

Este XIII Congresso Ordinário da UNITA, realizado sob o lema “patriotismo, coesão e cidadania”, ficou ainda marcado por uma tentativa de alteração de estatutos do partido, para que o cabeça-de-lista às eleições gerais e, consequentemente, candidato à presidência da República, pudesse ser outro que não o líder do partido.

Em teoria, isso iria permitir que Isaías Samakuva, o presidente cessante do partido, que o liderou desde 2002, pudesse ainda vir a candidatar-se à chefia do Estado mais uma vez, em 2022, tal como o próprio chegara a admitir em conversa com o PÚBLICO em Julho passado: “Não fecho a porta a essa possibilidade. Na política aprendi que nunca se deve dizer nunca”. No entanto, a maioria dos delegados presentes acabou por chumbar a proposta.

O novo presidente do partido recebeu a bandeira, a faixa e o cajado do cargo das mãos do presidente do XIII congresso, o veterano Lukamba Paulo Gato, que dirigiu o partido entre a morte de Savimbi e o assumir de funções por Samakuva, que chegou a equacionar a candidatura ao cargo.

“Começa a corrida, todos juntos em direcção à Cidade Alta”, disse Raul Danda, ao cumprimentar Adalberto da Costa Júnior pela vitória, salientando que as divergências acabaram com a eleição. O mesmo afirmara José Pedro Kachiungo que saudou o presidente eleito pela “vitória significativa”. O general Numa afinou pelo mesmo diapasão, disponibilizando-se para servir o partido e sublinhando que esta eleição interna “demonstra mais uma vez” a “vitalidade” da UNITA e a sua “democracia pujante”. “Espero que em 2022 realize o sonho pelo qual deu a vida Jonas Malheiro Savimbi”, finalizou.

Sakala, o segundo na corrida à liderança, falou numa “festa da democracia” em que ganhou a UNITA. “A partir deste momento partimos mais fortes para os próximos desafios, eleições autárquicas em 2020 e eleições gerais em 2022”, salientou o porta-voz do partido, que terminou com um “grande abraço” a Adalberto.

Depois de ser condecorado com a ordem Jonas Malheiro Savimbi e de condecorar com a mesma o general Lukamba Gato, Isaías Samakuva afirmou que “agora é a hora de construir a unidade de Angola” e apelou aos outros candidatos para que as diferenças terminem com a eleição, porque a unidade de Angola só se constrói com a unidade “no seio da UNITA”.

Já passava das 22 horas em Angola, quando foi dada a palavra ao novo líder do partido. “Quero assumir-me presidente de todos aqueles que tenham a UNITA no coração”, sublinhou ACJ, após de também ele falar da “festa da democracia”, garantindo que “a campanha terminou” e que as diferenças entre os candidatos foram “programáticas e de método”, porque todos eles se mantém ideologicamente leais ao “projecto de Muangai”, local da província de Moxico onde foi fundado o partido em 13 de Março de 1966.

Para o novo líder da oposição em Angola, este foi um congresso de “reafirmação” da herança da UNITA, “em que se impõe um novo rumo ao partido”. “Precisamos que a UNITA seja um partido cada vez mais presente na vida dos angolanos. Temos de ser nós a afirmar-nos como a nova esperança, com uma nova dinâmica que nos afirme como o partido das transformações que o nosso povo tanto anseia.”

ACJ, que teve um grande apoio entre os delegados mais jovens do partido, mas soube a seu tempo publicar uma lista com 126 nomes de apoiantes ilustres, onde figuravam nomes como os de Samuel Chiwale e Ernesto Mulato, sublinhou essa sua faceta, oferecendo-se para ser “a ponte entre a sabedoria dos mais velhos e a irreverência e dinâmica dos mais novos”.

"Entendemos que sem a revisão da Constituição, sem a despartidarização do aparelho do Estado, sem uma Comissão Nacional Eleitoral independente, sem uma justiça isenta e credível, sem um regulador do sistema financeiro independente do Executivo o país não terá condições para se desenvolver como todos nós esperamos. Não basta mudar o Presidente da República, sendo necessário, sim, mudar as más práticas, abraçar a boa governança e a transparência, tendo como objectivo o bem-estar e a dignidade de todos os angolanos. Mas, para isso, nós é que temos de ser o exemplo”, disse o novo presidente da UNITA, empenhado em dar o exemplo.