OMS testa esterilização de mosquitos para combater dengue, Zika e malária

Técnica foi inicialmente desenvolvida para a agricultura contra insectos que atacam as colheitas e o gado.

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Mosquito Aedes aegypti Instituto Pasteur

Uma técnica de esterilização de mosquitos masculinos com radiação será testada em breve como parte de um esforço global para controlar doenças como a febre de dengue, o vírus Zika ou malária, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Uma técnica de esterilização de mosquitos masculinos com radiação será testada em breve como parte de um esforço global para controlar doenças como a febre de dengue, o vírus Zika ou malária, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A OMS explicou, em comunicado, que a técnica de esterilização de insectos (SIT, na sigla em inglês) é uma espécie de contracepção para insectos, num processo que envolve largas quantidades de mosquitos masculinos esterilizados em laboratório e depois libertados. Como não se conseguem reproduzir, a população de insectos diminui ao longo do tempo.

O Programa de Investigação e Formação em Doenças Tropicais e a Agência Internacional de Energia Atómica, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a OMS elaboraram um documento com linhas orientadoras para os países que expressaram interesse em testar esta técnica com os mosquitos Aedes, transmissores destas doenças.

“Metade da população mundial está em risco de dengue. E os esforços actuais para controlar a doença são insuficientes. Precisamos desesperadamente de novas abordagens e esta iniciativa é ao mesmo tempo promissora e entusiasmante”, disse Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS.

Nas últimas décadas, a incidência de dengue aumentou dramaticamente devido às alterações climáticas, urbanização desregulada, aumento das viagens e da mobilidade e falta de controlo sustentável dos vectores transmissores das doenças, segundo a OMS.

Actualmente registam-se surtos de dengue em vários países, nomeadamente no subcontinente indiano, com o Bangladesh a enfrentar o pior surto de dengue desde a primeira epidemia registada no país em 2000. Desde Janeiro, o número de casos atingiu os 92 mil, com admissões diárias de novos doentes a chegarem por vezes às 1500, e o país já manifestou interesse em experimentar a técnica de esterilização de insectos.

As doenças transmitidas por mosquitos como a malária, dengue, Zika, chikungunya ou febre-amarela, representam 17% das doenças infecciosas em todo o mundo, causando mais de 700 mil mortes por ano.

Inicialmente desenvolvida pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, esta nova técnica revelou-se eficaz contra insectos que atacam as colheitas e o gado, nomeadamente a mosca da fruta. Actualmente é usada no sector agrícola em vários continentes.

“Os países fortemente afectados pela dengue e pelo Zika têm demonstrado interesse em testar esta tecnologia, pois pode ajudar a eliminar os mosquitos que estão a desenvolver resistência aos insecticidas, que também têm impactos negativos no ambiente”, disse Florence Fouque, cientista do Programa de Investigação e Formação em Doenças Tropicais.

O Programa Especial de Investigação e Formação em Doenças Tropicais é um programa global de colaboração científica para combater as doenças associadas à pobreza. É co-patrocinado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo Banco Mundial e pela OMS.