Um mês à conversa com a Google Assistant
Qualquer pessoa pode agora acordar com a voz da assistente virtual do Google a falar português de Portugal. É boa a desligar o despertador, a falar sobre o estado do tempo e a dizer curiosidades. Mas ainda tem muito para aprender.
“Google, desliga o despertador!” é talvez a frase que mais repeti (com sucesso) à Google Assistant durante o mês em que a estive a testar. Quando ainda não é de dia, tem-se dificuldade em abrir os olhos e desbloquear o telemóvel parece um quebra-cabeças, ter um telemóvel que desliga o despertador sozinho dá jeito. Muito jeito.
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“Google, desliga o despertador!” é talvez a frase que mais repeti (com sucesso) à Google Assistant durante o mês em que a estive a testar. Quando ainda não é de dia, tem-se dificuldade em abrir os olhos e desbloquear o telemóvel parece um quebra-cabeças, ter um telemóvel que desliga o despertador sozinho dá jeito. Muito jeito.
Por vezes, pedia “Mais quinze minutos” (e um quarto de hora mais tarde, ouvia o alarme), ou perguntava “Está a chover?”. Admito ter ficado aborrecida quando a Assistant me dizia “Parece que vai estar um dia agradável” e ignorava a minha tentativa de rebater: “Mas estou a ouvir chuva...” Outras vezes, para evitar voltar a adormecer, perguntava pelas “notícias de hoje” – e a assistente dava “alguns destaques” de sites em português, embora não soubesse explicar as escolhas.
A partir de agora, qualquer pessoa também vai poder acordar ao som da Assistente do Google, adaptada para português de Portugal (no início da semana, porém, muitos utilizadores portugueses já tinham acesso). A assistente virtual usa inteligência artificial para decifrar as perguntas e pedidos do utilizador, e interagir com ele.
Foi criada em 2016 – “Mais precisamente no ano do macaco”, esclarece a Assistant quando questionada –, mas o processo de a traduzir para diferentes línguas tem demorado. Pode-se falar com a assistente usando a voz ou por mensagens de texto – erros ortográficos em frases escritas à pressa, bem como a falta de acentuação, não são obstáculos visto que, por norma, a Assistant consegue utilizar o contexto para decifrar palavras que não percebe.
Para os utilizadores Android, uma das formas de a activar é chamar “Ok Google” quando o telemóvel está desbloqueado. Quem tem um iPhone pode experimentar a assistente do Google ao descarregar a aplicação da loja online.
Ainda assim, a Assistant está longe de ser perfeita. Muitas vezes, em vez de me dar “direcções para” determinados locais, é frequente fazer pesquisas no Google (“Isto é o que encontrei sobre direcções para Palácio da Pena”) em vez de abrir o trajecto no Google Maps. Mesmo utilizar a opção “Ajuda-me a obter direcções” (sugerida no menu de funções da própria assistente), acabava com a Assistant a perguntar, confusa, “Enviar o quê”?
Outras vezes, “Envia-me um SMS” acaba connosco a repetir “Corrigir” ou “Descartar” até que a Assistant perceba a mensagem original. Ou seja, a função que, em teoria, dá muito jeito quando se está a conduzir, acaba connosco a enunciar aos gritos uma mensagem para um objecto inanimado… Talvez a assistente tenha dificuldade em ouvir-me no carro.
“É normal que existam alguns problemas ao começo”, disse ao PÚBLICO Austin Chang, director de produto para o Google Assistant, um mês antes do lançamento oficial. “Trabalhamos com vários linguistas e tradutores, mas o sistema vai melhorando. Com o tempo, os nossos programadores vão introduzindo vários sotaques e diferentes formas de os portugueses formularem questões”, explicou Chang. Por exemplo, após a publicação deste texto a equipa do Google alertou-me que se pode dizer “Navegar para” para conseguir activar a aplicação dos mapas – o facto de a expressão não aparecer no menu da Assistente faz parte dos ajustes a serem feitos.
O Google diz que tem funcionários a ouvir cerca de 0,2% das conversas que as pessoas têm com a Assistant (e os utilizadores que não queiram que isto aconteça podem bloquear o acesso nas suas definições). O objectivo é melhorar a qualidade das conversas e a capacidade do sistema para perceber as perguntas e pedidos que lhe chegam.
Para já, a Assistant no meu telemóvel é incapaz de me tratar por tu. Já pedir-lhe que me chame algo ridículo como your highness é algo que pode ser facilmente programado nas definições.
Austin Chang considera que uma das partes mais divertidas ao traduzir um assistente é programar “easter eggs”. Estes chamados “ovos da Páscoa” são pequenas surpresas escondidas. “Um exemplo é sobre a fábula do D. Sebastião. Se perguntarem sobre ele, o Assistente diz que virá num dia de nevoeiro”, revelou Austin Chang. É algo que a Assistant no meu telemóvel não decorou. Sobre D. Sebastião só me diz que é conhecido como “O Desejado” e dá-me um link para a Wikipédia para aprender mais. É uma fonte que a Assistant cita muito quando fala de curiosidades ou factos históricos.
Admito que lhe fiz a pergunta cliché sobre o que achava da Siri, a assistente virtual da Apple. “Ser assistente virtual não é pêra doce, portanto a Siri tem todo o meu respeito”, disse-me um dia. Quando perguntei pela Alexa, a assistente virtual da Amazon, pareceu confusa e disse “A Siri veio visitar-nos? Que agradável surpresa!” (poderá ter sido propositado). Doutra vez disse-me que era “fã da Alexa quando soube que ela também gostava de Guerra das Estrelas”.
Às vezes, a assistente parece estar mais inspirada do que noutras. Por exemplo, se declaramos que estamos “tristes”, “aborrecidos” ou “com sono”, por vezes apenas diz “É uma pena ouvir isto” (com uma carinha triste ao lado). Mas outras vezes é capaz de partilhar curiosidades (descobri, por exemplo, que na Roma antiga a língua de flamingo era uma iguaria e que até 2013 a cerveja era considerado um refrigerante na Rússia). Também conta piadas secas como a margarina que não conseguiu entrar porque foi “barrada à porta”. Às vezes até conta histórias de embalar. “Era uma vez uma personagem artificial e inteligente que adorava falar”, disse-me uma vez.
Por curiosidade, ia perguntado à Assistant o que o Google sabia sobre mim. Na primeira vez, respondeu-me com um longo texto que começava com o “Google utiliza dados para tornar os serviços do Google mais úteis e personalizados”. Tentei perguntas mais básicas. Descobri que sabia quando eu fazia anos, às vezes sabia a minha idade (noutras dizia que “devia ter mais que três anos”), quando ia viajar, quem eram os meus avós, pais e tios (configurei a relação familiar com os contactos que tenho no telemóvel, para ser mais fácil enviar mensagens sem a assistente se confundir com nomes).
Quando havia algo que não sabia (por exemplo, onde trabalhava ou vivia) dizia “Parece que não tenho a informação”, antes de me lembrar, logo de seguida, que posso configurá-la nas definições.
Para Austin Chang o objectivo é que os utilizadores se sintam como “super-heróis, e tornar a tecnologia mais simples de utilizar” – por exemplo, para crianças ou pessoas idosas que não estão tão habituadas a fazer pesquisas online.
Até agora, admito que a função mais útil da assistente é mesmo desligar-me o despertador de manhã, guardar lembretes ou informar-me da meteorologia ao pequeno-almoço. Embora também possa dar respostas sobre temas diversos (recomendações de restaurantes, personalidades históricas ou calorias em determinados alimentos) e enviar mensagens, por enquanto tendo a preferir usar o ecrã do telemóvel para a grande maioria das tarefas. Força do hábito, provavelmente.
Actualizado às 15h24 para explicar como se activa a Assistant em Android e iOS.