Congresso internacional de José Saramago dá vida a Memorial do Convento

Municípios de Mafra, Lisboa e Loures juntam-se à Fundação Saramago para organizar no palácio-convento que D. João V mandou construir um congresso internacional em torno do mais conhecido romance do Nobel da Liteartura português. Começa esta quinta-feira e tem comissariado do ensaísta Miguel Real.

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José Saramago em 2002 MMM MIGUEL MADEIRA - PòBLICO

Um Congresso Internacional dedicado ao escritor José Saramago e ao Memorial do Convento, integrado na Rota do Memorial do Convento, começa na quinta-feira com o objectivo de dar vida ao passado histórico retratado no romance, revela a organização.

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Um Congresso Internacional dedicado ao escritor José Saramago e ao Memorial do Convento, integrado na Rota do Memorial do Convento, começa na quinta-feira com o objectivo de dar vida ao passado histórico retratado no romance, revela a organização.

José Saramago e o Memorial do Convento é uma iniciativa conjunta das autarquias de Loures, de Mafra e de Lisboa, inserida no projecto iniciado em 2017 com o objectivo de criar uma rota turística e cultural a partir do lirismo épico do romance do Nobel da Literatura português, publicado há 37 anos.

Esta rota cultural pretende desenhar um percurso literário nos territórios dos três municípios, destacando locais de interesse histórico, patrimonial e paisagístico.

A Rota do Memorial do Convento “põe em evidência o romance que revolucionou a literatura portuguesa e homenageia José Saramago, o único escritor de língua portuguesa, até ao momento, distinguido com o mais prestigiado de todos os galardões literários, o Prémio Nobel da Literatura (1998)”, destaca a organização na página do congresso.

É inserido neste projecto que surge o Congresso Internacional, comissariado pelo ensaísta e escritor Miguel Real (comissário literário da Rota Memorial do Convento), a decorrer entre os dias 14 e 16 de Novembro no Palácio Nacional de Mafra, com a participação de inúmeros especialistas nacionais e internacionais, estudiosos e interessados na obra do escritor. Organizado em colaboração com a Fundação José Saramago, o congresso vai girar em “torno das maravilhosas personagens de Blimunda e Baltasar, do sonho utópico de voar de Bartolomeu de Gusmão e da devoção à música de Domenico Scarlatti”, trazendo à vida, no presente, o passado histórico.

O primeiro dia de congresso começa com a apresentação da rota, conta com uma intervenção de Pilar del Río subordinada ao tema “Ler Saramago”, a que se segue uma intervenção de Piero Ceccuci, professor aposentado de Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade de Florença, sobre “A escrita, o olhar e o tempo histórico em Ensaio sobre a Cegueira e no Memorial do Convento”.

Da parte da tarde, Carlos Nogueira, regente da cátedra José Saramago da Universidade de Vigo, falará sobre a literatura e o mal em Saramago, seguido de uma intervenção de Isabel Ponce de Leão sobre “A violação do código erótico” no Memorial do Convento.

O segundo painel da tarde terá como participantes a professora catedrática Annabela Rita, a responsável dos serviços educativos do Palácio Nacional de Mafra, Maria Fernanda Monteiro dos Santos, e Miguel Real. Na sua comunicação Annabela Rita parte do poema de Severo Sarduy “Detrás da clarabóia/um rosto, outro/observando-se/observando-nos”, ao passo que Maria Fernanda Monteiro dos Santos vai falar sobre o palácio e o romance antes e depois do Nobel. Miguel Real tem previsto abordar o romance português na década de 1980, enquadrado pelo Memorial do Convento.

No segundo dia de congresso, os temas abordados versam José Saramago e as tradições do romance do século XX, pela professora italiana Daniela Marcheschi, e as mulheres na obra de Saramago, designadamente o tema “As mulheres trabalham na sombra e Saramago constrói o seu memorial”, por António José Borges.

Isabel Pires de Lima e a “Transposição mediática em Memorial do Convento: Saramago e Abel Manta”, e Guilherme d"Oliveira Martins e “A importância do Memorial do Convento como elemento do património cultural” preenchem o segundo painel da manhã. Seguem-se Ana Paula Arnaut com “Memorial do Convento: o assalto à caixa forte da História”, e Carlos Fiolhais, falando sobre “Bartolomeu de Gusmão, a Passarola e as primeiras ascensões em balão”.

A encerrar este dia de trabalhos, a italiana especialista em literatura portuguesa Orietta Abbati fará uma intervenção sobre “Discurso histórico e discurso ficcional sobre o papel da Inquisição do século XVIII no Memorial do Convento”, e Manuel Frias Martins apresentará “Blimunda e a espiritualidade clandestina de José Saramago”.

Para o último dia está reservada a intervenção de Abdeljelil Larbi, professor de literatura árabe moderna, sobre o Memorial do Convento em árabe: “Características da recepção e tradução”. Acompanha-o neste painel Maria Fátima Marinho com “Identidades imperfeitas e desencontradas”.

Vítor Viçoso e “A prática ficcional e a reescrita da História” e Cândido de Oliveira Martins com “Os modos da paródia” são os últimos intervenientes, a quem se seguirá Carlos Reis, responsável pelo encerramento das conferências com um discurso sobre Saramago e a narrativização do espaço.

Da parte da tarde, haverá olhares sobre o Memorial do Convento, pela Escola José Saramago de Mafra, e uma interpretação das palavras de Saramago pela Comunidade de Leitores das Bibliotecas Municipais de Loures.

O congresso fecha com uma visita comentada à Biblioteca e ao Palácio Nacional de Mafra e com um concerto de violoncelo.