Rio foi mais líder do que candidato em conselho nacional morno
Proposta alargar a todos os militantes a capacidade de votar nas directas não foi aceite.
No primeiro conselho nacional após as legislativas – mais de um mês depois - , Rui Rio desdramatizou a derrota eleitoral e apontou o desígnio do PSD para os próximos dos anos: recuperar poder autárquico. Por sinal, é o mesmo objectivo que a que se propôs quando foi eleito para o seu primeiro mandato em 2018. Na questão do pagamento de quotas, não foi aceite a proposta de alargar a possibilidade todos os militantes votarem nas próximas eleições. Os apoiantes de Luís Montenegro não quiseram lutar por ela, bastou-lhes que a posição ficasse vincada.
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No primeiro conselho nacional após as legislativas – mais de um mês depois - , Rui Rio desdramatizou a derrota eleitoral e apontou o desígnio do PSD para os próximos dos anos: recuperar poder autárquico. Por sinal, é o mesmo objectivo que a que se propôs quando foi eleito para o seu primeiro mandato em 2018. Na questão do pagamento de quotas, não foi aceite a proposta de alargar a possibilidade todos os militantes votarem nas próximas eleições. Os apoiantes de Luís Montenegro não quiseram lutar por ela, bastou-lhes que a posição ficasse vincada.
Num conselho nacional morno, que se realizou sexta-feira à noite, em Bragança, Rio assumiu mais o papel de líder do partido do que o de candidato à liderança, mas ouviu algumas críticas à acumulação (provisória) do cargo com o de presidente do grupo parlamentar. Na sua intervenção inicial – e que foi a única em cinco horas de reunião – o líder do PSD retomou o discurso da noite de 6 de Outubro, distribuindo responsabilidades da derrota eleitoral pelos críticos internos, pela comunicação social e pela própria conjuntura política – nunca um primeiro-ministro recandidato perdeu legislativas. Foi então chamado a atenção por várias vozes para os seus erros. Almeida Henriques, presidente da câmara de Viseu e apoiante de Luís Montenegro, apontou que essas divisões internas foram alimentadas pela própria direcção. Outra conselheira nacional que vincou a derrota como “a pior das últimas décadas” foi Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, que apontou erros de estratégia como a não-demarcação face ao PS e o facto de não se ter defendido a “marca PSD”.
Na reunião, houve algumas intervenções críticas, mas não violentas, segundo relatos feitos ao PÚBLICO. Os dirigentes nacionais de peso como os vice-presidentes David Justino, Morais Sarmento ou Salvador Malheiro ficaram em silêncio. Rio também já não respondeu a nada do que lhe foi apontado nem falou das políticas do Governo. Preferiu apontar a aposta do partido: as autárquicas de 2021. “É preciso inverter a tendência de queda e ter uma tendência de subida real, não é ganhar mais duas ou três câmaras”, disse aos jornalistas, citado pela Lusa.
O PSD está a perder poder autárquico de forma significativa desde 2009, tendo-se agravado em 2013 e 2017. Nas últimas autárquicas, os sociais-democratas só conseguiram a vitória (sozinhos ou em coligação) em 98 municípios face às 161 câmaras governadas pelo PS. Esse resultado foi o argumento com que Passos Coelho se demitiu da liderança. Meses depois Rio foi eleito seu sucessor e na abertura do congresso de Fevereiro de 2018 elegeu como meta a preparação das autárquicas de 2021. Naquela altura, o recém-chegado líder do PSD defendeu que o objectivo era “reconduzir” o partido “à liderança que foi seu apanágio durante tanto tempo”. As legislativas de Outubro ficaram em segundo plano, o que já deixava adivinhar que Rio queria tentar um segundo mandato à frente do PSD mesmo que tivesse uma derrota eleitoral.
No conselho nacional, Rio também ignorou a polémica em torno do pagamento de quotas – e chamou-lhe até uma questão de “mercearia” à entrada da reunião –, mas as dificuldades dos militantes em liquidar os montantes em atraso motivaram discussão. Almeida Henriques pôs em cima da mesa a proposta de alterar o regulamento eleitoral para permitir que todos os militantes pudessem votar nas directas, a 11 de Janeiro, independentemente de terem as quotas em dia. A mesa do conselho nacional não aceitou (como era expectável por considerar que viola os estatutos do partido) e os apoiantes de Montenegro decidiram não recorrer da decisão para o conselho nacional de jurisdição. Ficou vincada da ideia de que a direcção é que funciona como “força de bloqueio” e quer um “partido pequenino”.
Os fiéis a Montenegro não endureceram a luta, quando os apoiantes do outro candidato à liderança, Miguel Pinto Luz, optaram por não comprar esta guerra do pagamento de quotas e deixaram a mensagem de que não desejam ver o partido envolvido numa “star wars”, como disse Telmo Faria. Um outro apoiante de Pinto Luz, o líder da distrital de Setúbal, Bruno Vitorino, propôs que fossem enviadas cartas aos militantes com as referências bancárias para o pagamento do valor em atraso por multibanco (nas novas regras essas referências são enviadas por telemóvel) mas não foi feita formalmente à mesa do conselho nacional. A direcção comprometeu-se apenas a enviar cartas com a explicação das novas regras (depois de já o terem feito no site) para os militantes com dois anos de quotas em atraso.
Foi então aprovado por 58 votos a favor, dez abstenções e seis votos contra o regulamento que exige aos militantes que tenham as quotas actualizadas até 22 de Dezembro para poderem votar nas directas de 11 de Janeiro. Será também criado um conselho consultivo, com elementos de cada candidatura para acompanhar o processo eleitoral. Está dado o tiro de partida para a corrida interna. Este domingo, Luís Montenegro apresenta a sua candidatura em Lisboa.