Jorge de Sena e o Brasil
O problema da literatura no Brasil, dirá Sena, é “o medo que os brasileiros têm de que a sua literatura possa não ser suficientemente brasileira”, razão pela qual tendem a expulsar a literatura portuguesa de qualquer tipo de relação com ela, tornando-a, “paradoxalmente, mais estrangeira do que [as outras literaturas estrangeiras]”
Jorge de Sena gostava de recordar que o seu primeiro contacto físico com o Brasil ocorrera na juventude, mais exactamente em 1937-38, na qualidade de primeiro cadete da Marinha, em viagem de instrução no navio-escola Sagres. Para alguém sempre tão empenhado na arqueologia dos processos histórico-culturais, o que o fazia traçar vastos e minuciosos panoramas em que cada camada se sedimenta sobre a anterior sem quase nunca resolver os conflitos de que se fazem história e cultura, o episódio juvenil funcionava como uma espécie de prova de que o contacto de Sena com o Brasil não nascera em 1959, ano em que se muda, com armas e bagagens, para esse país, mas mais de 20 anos antes.