Woof woof! Há um cão treinado para farejar fascistas no Twitter
Procura fascistas no Twitter e ladra quando os encontra. O Cão Farejador de Fascistas é atento e vigilante e quer enfrentar “a maior ameaça actual para a democracia”. “A nova batalha política é travada nas redes digitais, utilizando estratégias que não seriam aceites noutros meios.”
Há um cão farejador à solta no Twitter. Foi treinado para “farejar contas que promovem a ideologia fascista” e ladrar quando as encontra — que é como quem diz “identificá-las publicamente”. É “a resposta possível ao crescente número de perfis que promovem o discurso do ódio e da intolerância, do medo, do racismo, do anti-feminismo e da tentativa de revisionismo histórico do período da ditadura em Portugal e noutros países”, escrevem os “tratadores” do cão ao P3.
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Há um cão farejador à solta no Twitter. Foi treinado para “farejar contas que promovem a ideologia fascista” e ladrar quando as encontra — que é como quem diz “identificá-las publicamente”. É “a resposta possível ao crescente número de perfis que promovem o discurso do ódio e da intolerância, do medo, do racismo, do anti-feminismo e da tentativa de revisionismo histórico do período da ditadura em Portugal e noutros países”, escrevem os “tratadores” do cão ao P3.
A conta @farejafascistas começou como uma brincadeira, há cerca de um mês, mas bastou “um par de dias” para ficar claro que o propósito era “algo maior”: os criadores da página acreditam que as contas que identificam — e “todos os dias” denunciam — são “muitas vezes controladas por organizações ou partidos políticos, que abrem centenas de contas para manipular os algoritmos, construir a percepção de que têm uma larga base de apoio e espalhar insistentemente informações falsas, falaciosas, viciadas e frequentemente odiosas”. E quem melhor do que um cão, “animal vigilante, fiel e o melhor amigo do homem”, para detectar e reportar aquela que os tratadores dizem ser “a maior ameaça actual para a democracia”?
Se inicialmente eram os criadores da página, que garantem não ter qualquer filiação partidária, quem pesquisava os tweets, agora “o cão segue as denúncias” feitas pelos seguidores da conta — que “têm crescido exponencialmente”, ultrapassando já os cinco mil — e, a partir daí, “segue a pista e continua a farejar até encontrar mais tweets e contas” que possam promover ideais fascistas.
O critério? “Tweets que abertamente se enquadrem nos discursos odiosos e polarizadores.” O que nem sempre é linear: “A ditadura deixou-nos como legado um fascismo corporativo, institucional e cultural. Suave, é certo, mas enraizado e que leva a que algumas pessoas que não são de todo fascistas ou simpatizantes do antigo regime ocasionalmente emitam opiniões que, sem se aperceberem, representam ideias e valores fascistas ou racistas”, apontam. Nesses casos, o Cão Farejador está treinado para ignorar, para não correr o risco de ser “injusto”.
“A nova batalha política é travada nas redes digitais, utilizando estratégias que não seriam aceites noutros meios”, garantem os gestores da página. E acreditam que em Portugal “existem empresas de comunicação que se dedicam a esta contaminação do espaço digital”: “Há determinados perfis que primam pela subtileza e selecção cuidada dos conteúdos odiosos e de promoção de ideias fascistas.”
Os tratadores do Cão Farejador de Fascistas defendem que “a Internet precisa de ser regulada como espaço público e social que é” e que as redes sociais são uma “terra sem lei, sendo meios de comunicação poderosíssimos e sem filtros editoriais” e de fácil disseminação de fake news. Por isso mesmo, acreditam que devem ser criadas “organizações independentes e de iniciativa cidadã, que procurem exercer um papel moderador no espaço online” — tal com o Cão Farejador de Fascistas.
Quando alguns seguidores lhes perguntam se ao expor estes tweets de cariz fascista não estão indirectamente a promovê-los, os criadores da conta relembram que “tudo isto existe e é público”. “O que se passa é que os algoritmos das redes estão feitos para mostrar às pessoas somente aquilo que lhes agrada, segundo os seus interesses.” O resultado são “bolhas intelectuais, numa sociedade já por si extremamente atomizada, que ignora o abuso ou até o crime”.
“O fascismo é um vírus que ataca a democracia e que pode estar adormecido durante anos, mas volta sempre quando estamos mais vulneráveis, como vem sendo o caso desde a crise de 2008”, atiram. E o “eterno retorno do fascismo (…) não se combate com paninhos quentes, ignorando-o ou fingindo que ele não existe. Combate-se enfrentando-o. Não lhe dando margem.” Ou, neste caso, ladrando.