Políticos locais da CDU pedem entendimento com a extrema-direita na Turíngia

No congresso do ano passado, os democratas-cristãos decidiram fechar a porta a qualquer negociação com a AfD. Mas há pressões para que o cordão sanitário se desfaça.

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Merkel fechou a porta a qualquer entendimento entre a CDU e a AfD EPA / CLEMENS BILAN

Uma carta assinada por 17 políticos locais da CDU está a agitar a vida política alemã. Os resultados das eleições no estado-federado da Turíngia, no fim de Outubro, onde os democratas-cristãos ficaram em terceiro lugar, atrás da extrema-direita, aumentaram a pressão para que o partido da chanceler Angela Merkel se entenda com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

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Uma carta assinada por 17 políticos locais da CDU está a agitar a vida política alemã. Os resultados das eleições no estado-federado da Turíngia, no fim de Outubro, onde os democratas-cristãos ficaram em terceiro lugar, atrás da extrema-direita, aumentaram a pressão para que o partido da chanceler Angela Merkel se entenda com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

Eembora não mencione a AfD, a carta deixa um apelo para que a CDU mostre disponibilidade para entrar em negociações com “todos os partidos democraticamente eleitos”. Os seus subscritores – que incluem um deputado regional – defendem que não se deve “deixar de fora das negociações (…) quase um quarto dos eleitores” da Turíngia.

Nas eleições no estado federado no Leste da Alemanha a 27 de Outubro, a AfD teve 23% dos votos, atrás do Die Linke, de esquerda radical, do governador Bodo Ramelow que obteve 30%. No entanto, a esquerda não tem deputados suficientes para reeleger Ramelow no parlamento regional - vive-se neste momento uma situação de bloqueio na Turíngia.

A sugestão de que os democratas-cristãos devem procurar entendimentos com a extrema-direita motivou uma condenação praticamente unânime entre os líderes a nível regional e nacional da CDU. Num artigo de opinião na revista Der Spiegel, o secretário-geral do partido, Paul Ziemiak, disse que uma coligação com a AfD seria “uma traição aos valores da democracia cristã”. Werner Henning, dirigente da CDU na Turíngia, avisou que a cooperação com a extrema-direita irá “destruir” o partido.

O presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, Josef Schuster, acusou os subscritores da carta de “agirem irresponsavelmente” e de estarem a “ajudar a tornar a AfD mais socialmente aceitável”.

A exclusão da extrema-direita de qualquer solução governativa foi fixada pela CDU no congresso do ano passado e a sucessora designada de Merkel à frente do partido, Annegret Kramp-Karrenbauer, chegou mesmo a defender a expulsão de militantes favoráveis a coligações com a AfD. Há quem tenha ido mais longe, como o líder dos democratas-cristãos da Baviera (CSU), Markus Söder, que disse que devia ser proibido sequer “tomar cafés” com dirigentes do partido extremista.

No entanto, à medida que a AfD vai ganhando terreno de eleição para eleição, a tentação de conversar com o partido cresceu. A nível local há mesmo situações de alianças conjunturais, como aconteceu na cidade de Frankenstein, na Renânia-Palatinado, onde CDU e AfD, ali liderados por mulher e marido, respectivamente, fecharam uma coligação.