Álvaro Siza Vieira galardoado com o Prémio Nacional de Arquitectura espanhol 2019

Ministro espanhol do Fomento, José Luís Ábalos, anunciou entrega de prémio nas redes sociais. “Um arquitecto português reconhecido mundialmente, que tanto tem contribuído para a arquitectura e as cidades espanholas”, elogiou governante.

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Nelson Garrido

O arquitecto português Álvaro Siza Vieira foi galardoado esta quinta-feira com o Prémio Nacional de Arquitectura 2019, anunciou o ministro espanhol do Fomento em funções, José Luís Ábalos, numa mensagem que publicou na rede social Twitter.

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O arquitecto português Álvaro Siza Vieira foi galardoado esta quinta-feira com o Prémio Nacional de Arquitectura 2019, anunciou o ministro espanhol do Fomento em funções, José Luís Ábalos, numa mensagem que publicou na rede social Twitter.

“Acabo de informar Álvaro Siza que foi galardoado com o Prémio Nacional de Arquitectura 2019. Um arquitecto português reconhecido mundialmente, que tanto tem contribuído para a arquitectura e as cidades espanholas”, escreveu o ministro espanhol nas redes sociais.

A decisão de atribuir o prémio foi tomada durante o II Congresso Internacional “Arte, Cidade e Paisagem”, que está a decorrer até sexta-feira em Cuenca (Espanha) e tem Portugal como país convidado.

O Prémio Nacional de Arquitectura é um galardão atribuído anualmente pelo Governo de Espanha desde 1932.

Álvaro Siza Vieira nasceu em Matosinhos em 1933 e estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1949 e 1955.

Em Espanha construiu, entre muitos outros edifícios, o Centro Meteorológico da Villa Olímpica de Barcelona, as casas de habitação social de Cádis, a Faculdade de Ciências da Informação de Santiago de Compostela, a Reitoria da Universidade de Alicante ou o edifício Zaida de Granada.

É autor de inúmeros outros projectos, entre os quais se destacam em Portugal as vivendas no Bairro da Malagueira em Évora, a Faculdade de Arquitectura do Porto, o Centro Paroquial de Marco de Canavezes, o Pavilhão de Portugal da Expo 98 em Lisboa, o Pavilhão de Portugal da Expo"2000 em Hannover (com Souto de Moura) e o Museu de Arte Contemporânea de Nápoles.

Da sua interminável lista de distinções destaca-se o Prémio de Arquitectura da Associação Internacional de Críticos de Arte (1982), o Prémio de Arquitectura da Associação dos Arquitectos Portugueses (1987), a Medalha de Ouro de Arquitectura do Conselho Superior dos Colégios de Arquitectos de Espanha (1988), o Prémio Mies van der Rohe (1988) e Prémio Pritzker, da Fundação Hyatt, pelo projecto de renovação na zona do Chiado, em Lisboa (1992).

Presidente da República felicitou Álvaro Siza Vieira

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o arquitecto Álvaro Siza Vieira pelo Prémio Nacional de Arquitectura 2019 de Espanha, considerando que o seu trabalho lhe vale um “reconhecimento internacional notável”.

“Felicito o arquitecto Álvaro Siza Vieira pelo Prémio Nacional de Arquitectura 2019 de Espanha, atribuído pela primeira vez a um arquitecto português, por diversas obras empreendidas em várias cidades espanholas”, refere uma mensagem divulgada no site oficial da Presidência da República.

Marcelo Rebelo de Sousa salienta que com mais esta distinção atribuída pelo Governo de Espanha, Siza Vieira consegue alcançar “uma impressionante soma de prémios e distinções ao longo de várias décadas”.

“A sua forma de repensar as cidades, a intervenção na mudança e modernização dos espaços urbanos, o harmonioso equilíbrio entre a criação radical e a paisagem natural valeram a Siza Vieira um reconhecimento internacional notável”, frisa o chefe de Estado, considerando que o arquitecto é um “motivo de inquestionável orgulho para todos os portugueses”, finalizou. 

Um facto extraordinário

A atribuição do prémio a Álvaro Siza “é um facto extraordinário, já que “a Espanha é uma potência da arquitectura contemporânea, que em todas as suas regiões tem arquitectos de diferentes gerações que são figuras de grande relevo”, disse ao PÚBLICO o arquitecto Jorge Figueira. Lembrando que “não é comum, nos vários planos culturais, este reconhecimento de Portugal” por parte do país vizinho, acrescenta que “era preciso alguém com o estatuto, o prestígio e a respeitabilidade de Siza para uma potência mundial da arquitectura decidir premiá-lo”.

E se este prémio “atesta o respeito imenso” de que Siza goza junto dos seus pares espanhóis, ele é também, acredita Jorge Figueira, “um sinal de reconhecimento, um gesto de proximidade e amizade com Portugal”. Reflexo também de uma mudança recente no modo como Espanha olha para o seu vizinho ibérico”, observa ainda este arquitecto. “Há 20 anos isto não era possível”.

E se a qualidade da arquitectura de Siza foi certamente tida em conta pelo júri, Figueira tem a convicção de que este prémio nacional não distingue tanto “o lado mais técnico, do bom arquitecto”, mas é antes reflexo do amplo reconhecimento de Álvaro Siza como “uma figura humana com uma estatura moral invulgar no nosso tempo”.

Tendo sido um dos arquitectos portugueses convidados para o II Congresso Internacional “Arte, Cidade e Paisagem”, em Cuenca, que este ano teve em Portugal o país-tema, Figueira pôde testemunhar o contentamento que os arquitectos espanhóis expressaram pela escolha de Siza. “Foi muito bonito, e muito deste tempo”.

Também presente no congresso de Cuenca, o arquitecto Nuno Grande, comissário da grande exposição Álvaro Siza in/disciplina, que se manterá no Museu de Serralves até ao início de Fevereiro de 2020, lembra que Álvaro Siza, além de ter um importante conjunto de projectos em Espanha, sem o qual não teria sido elegível para este prémio, é também membro honorário do Colégio Geral dos Arquitectos de Espanha. Mas se era sabido que o arquitecto português era tecnicamente elegível, “foi uma surpresa que o Colégio o propusesse e que o júri lhe desse o prémio”, diz Nuno Grande, que sublinha a “importância política” desta distinção. “Espanha atravessa um momento de agitação política, com grandes tensões identitárias, e premiar um português pode ser também um modo de mostrar que há uma ideia de Ibéria, de comunhão ibérica, por trás dos vários povos da Península, e que se quer manter essa Ibéria de múltiplas identidades”, sugere o arquitecto. “Acho que há aqui também um gesto simbólico de dizer que é mais o que nos une do que o que nos separa.”

Confirmando que Siza “é um arquitecto muito admirado” em Espanha, Nuno Grande tem agora esperança de que este prémio nacional possa vir “ajudar a ultrapassar as burocracias” que têm entravado o projecto do arquitecto português para o Alhambra, em Granada.