Von der Leyen escolhe eurodeputada romena para a pasta dos Transportes

Em poucas horas, a presidente eleita entrevistou os dois candidatos indicados pelo Governo de Bucareste e seleccionou Adina-Ioana Valean para o cargo de comissária. Só falta o nome do Reino Unido para finalizar a equipa.

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Ursula von der Leyen quer completar equipa para a aprovação do parlamento Europeu antes do fim do mês LUSA/OLIVIER HOSLET

A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, entrevistou esta quarta-feira os dois candidatos indicados pela Roménia para o cargo de comissário e, pouco depois, escolheu a eurodeputada Adina-Ioana Valean, actual presidente da comissão de Indústria e Energia do Parlamento Europeu, para dirigir a pasta dos Transportes.

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A presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, entrevistou esta quarta-feira os dois candidatos indicados pela Roménia para o cargo de comissário e, pouco depois, escolheu a eurodeputada Adina-Ioana Valean, actual presidente da comissão de Indústria e Energia do Parlamento Europeu, para dirigir a pasta dos Transportes.

Também esta quarta-feira, a presidente eleita remeteu uma carta ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, convidando-o a propor o nome do candidato britânico ao colégio de comissários. “Tal como na carta que enviou a Theresa May, em Julho, a presidente eleita encorajou o primeiro-ministro a propor o nome de uma mulher, visto o desejo de constituir uma Comissão paritária”, informou a porta-voz da equipa de transição, Dana Spinant, acrescentando que Von der Leyen pediu que a resposta de Londres chegasse “no mais breve prazo possível, para que o futuro colégio possa ser finalizado e a sua votação no Parlamento Europeu possa realizar-se antes do fim deste mês”.

A candidatura do Reino Unido é, agora, a peça que falta para que Ursula Von der Leyen possa submeter a sua equipa executiva à obrigatória apreciação — e aprovação — do Parlamento Europeu. A dúvida é se a futura presidente da Comissão vai esperar pela indicação de Londres, ou se pede já aos eurodeputados que avancem com o processo de confirmação dos segundos candidatos nomeados pela França, Hungria e Roménia, depois do chumbo das suas primeiras escolhas pelo Parlamento Europeu.

A rapidez com que o processo de selecção da comissária da Roménia decorreu, esta quarta-feira, dá conta de ritmo de contra-relógio em que a equipa de transição de Von der Leyen está a trabalhar, para cumprir o seu objectivo de iniciar o mandato no dia 1 de Dezembro.

O novo Governo de Bucareste, empossado na segunda-feira à noite, respondeu ao apelo da futura líder europeia e ao início da tarde avançou dois nomes para o colégio de comissários: um homem e uma mulher, ambos eurodeputados da bancada do Partido Popular Europeu, a família política democrata-cristã, a que a própria Von der Leyen pertence. Siegfried Muresan e Adina-Ioana Valean foram imediatamente convocados para uma entrevista — e antes do fim do dia a decisão foi anunciada.

“A presidente eleita decidiu atribuir a Adina-Ioana Valean o pelouro dos Transportes”, confirmou a sua porta-voz — que, sem o referir explicitamente, acabou também por confirmar que a pasta da Vizinhança e Alargamento continuará nas mãos do comissário da Hungria, Oliver Varhely.

Adina-Ioana Valean entrou no Parlamento Europeu antes mesmo dos legisladores da Roménia assumirem os seus lugares nas bancadas. Em 2006 assumiu o estatuto de observadora parlamentar, tendo sido eleita eurodeputada no ano seguinte, após a entrada da Roménia na UE. Membro do Partido Nacional Liberal, que foi presidido pelo seu marido, Valean esteve primeiro integrada na Aliança dos Liberais e Democratas Europeus, mudando em 2014 para o grupo do PPE.

No mandato anterior presidiu a comissão do Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar. A sua experiência parlamentar passa também pela comissão do Orçamento, e pela delegação para as relações com os Estados Unidos.

Ao seleccionar Valean a presidente eleita ficou mais perto de cumprir o seu desejo de igualdade de género no colégio de comissários. Com 15 homens nomeados e 12 mulheres (incluindo ela própria), ficou perto da paridade. “Quando a presidente eleita submeteu a sua equipa ao Parlamento Europeu a paridade estava assegurada. Mas houve mudanças e as nomeações dos Estados membros alteraram esse equilíbrio. Ainda assim, será a Comissão com o maior número de mulheres de sempre”, observou a sua porta-voz.

Processo sensível

A equipa de Von der Leyen não conta com uma terceira recomposição da sua equipa, mas o processo de confirmação dos comissários da França (Thierry Breton, com a pasta do Mercado Interno), da Hungria e da Roménia será tudo menos fácil. Os três terão de passar pelo crivo da comissão dos Assuntos Jurídicos, responsável pela avaliação das respectivas declarações de interesses financeiros e eventuais conflitos de interesses — foi logo nessa primeira etapa que o Parlamento rejeitou os primeiros candidatos de Bucareste e Budapeste. Desta feita, é o nomeado francês que parece mais vulnerável.

Depois, os três terão de responder a perguntas escritas dos eurodeputados, e prestar provas em audições parlamentares. Se o seu desempenho não convencer após a primeira inquirição, serão chamados para uma segunda ronda de perguntas. Esse processo é destinado a avaliar as suas competências pessoais e o seu compromisso com o projecto europeu — mas é também um momento sensível do jogo político dos diferentes grupos no Parlamento Europeu.

E a bancada dos Socialistas & Democratas já deu conta a Von der Leyen da sua “sensibilidade” com as questões de igualdade de género mas também de equilíbrio entre as diferentes forças políticas no seio da Comissão.

É notório o descontentamento e frustração dos socialistas com as decisões tomadas por Von der Leyen relativamente à distribuição dos cargos pela sua equipa e também pelas últimas nomeações, que foram interpretadas como uma ruptura com o acordo agilizado com as famílias políticas para assegurar a sua representatividade no colégio de comissários. Mas com a indicação de um antigo ministro do centro-direita francês para o lugar de uma liberal, e de uma eurodeputada romena da bancada conservadora em vez de uma socialista, há queixas de que Von der Leyen está a desviar o pêndulo do poder para a direita.