Facebook: “Podemos fazer com o dinheiro aquilo que a Internet fez com a informação”
O responsável pela carteira digital do Facebook diz que o objectivo da libra, a criptomoeda anunciada pela rede social, é mudar o sistema monetário.
Não será necessário utilizar o Facebook para aceder à libra, a moeda digital que a rede social está a criar para facilitar pagamentos e transferências monetárias além-fronteiras, sem depender de bancos. E também não será necessário usar o WhatsApp, Messenger, o Instagram, ou qualquer outro produto da empresa. A ideia foi frisada esta terça-feira por Kevin Weil, um dos responsáveis pelo projecto, no palco principal da Web Summit.
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Não será necessário utilizar o Facebook para aceder à libra, a moeda digital que a rede social está a criar para facilitar pagamentos e transferências monetárias além-fronteiras, sem depender de bancos. E também não será necessário usar o WhatsApp, Messenger, o Instagram, ou qualquer outro produto da empresa. A ideia foi frisada esta terça-feira por Kevin Weil, um dos responsáveis pelo projecto, no palco principal da Web Summit.
“Vamos ser honestos – há muitas pessoas que não estão confortáveis em usar um produto do Facebook para usar e aceder a um sistema monetário”, admitiu Weil em palco, notando que a libra não é um produto da rede social, mas de uma associação de empresas e organizações em todo o mundo. “A ideia da moeda nasceu no Facebook, só que sempre soubemos que íamos precisar de uma rede de parceiros porque não pode ser uma só empresa a ter todo o controlo.”
Foi em Junho que o Facebook anunciou planos para criar uma criptomoeda, a libra (em português, o nome é semelhante ao da libra esterlina usada no Reino Unido). A ideia da rede social é criar um mecanismo para milhares de pessoas sem acesso a uma conta bancária (mas com um smartphone e Internet) guardarem e transferirem dinheiro do telemóvel gratuitamente ou a custo reduzido. "Achamos que podemos fazer com o dinheiro aquilo que a Internet fez com a informação”, defendeu Weil.
Desde o começo que a rede social explicou que não ia gerir directamente a nova moeda: a responsabilidade será de uma associação de empresas e organizações não-governamentais, que inclui empresas como o Spotify, a Uber e a loja de roupa online Farfetch (fundada por um português e que tem boa parte das operações em Portugal). Mas a associação já teve desistências de peso desde que foi anunciada: Visa, Mastercard e PayPal optaram por abandonar o projecto.
“Queremos que a libra seja como a Internet. Há muitos navegadores para utilizar e é fácil mudar de um para outro”, esclareceu Weil. Ou seja, haverá uma carteira digital para a libra no Facebook, mas qualquer programador e empresa podem desenvolver outras. Weil está a trabalhar na carteira digital do Facebook – a Calibra – que irá funcionar no WhatsApp e no Messenger.
“É claro que espero que a Calibra do Facebook seja a melhor para muitas pessoas”, disse Weil. “A informação financeira partilhada na Calibra não terá qualquer relação com os dados partilhados com o Facebook e não será usado por anunciantes, só que muitas pessoas na plateia não vão acreditar em mim. E é por isso que é tão importante que existam outras carteiras.”
Antes de chegar ao Facebook, Weil foi responsável pela gestão de produto e monetização do Twitter e, mais tarde, do Instagram. No palco da Web Summit, reconheceu que as pessoas estão “cépticas” de grandes empresas de tecnologia.
Um projecto de décadas
O projecto do Facebook é o primeiro caso de colaboração entre vários gigantes empresariais de várias áreas para criar uma divisa electrónica que pode ser transferida globalmente. Lembra a bitcoin (a primeira e mais famosa das criptomoedas) porque vai circular numa base de dados descentralizada e será de código aberto (o que permite que qualquer pessoa possa criar uma carteira). Só que, contrariamente à bitcoin, a libra começa por estar suportada por uma reserva de moedas fiduciárias, como o dólar norte-americano, e cada membro fundador da associação deve contribuir com pelo menos dez milhões de dólares (perto de nove milhões de euros) durante a fase inicial.
Porém, vários parceiros iniciais – como o PayPal, a Mastercard e o eBay – abandonaram o projecto o mês passado, com o aumentar da pressão de reguladores em todo o mundo. E embora o Facebook tenha inicialmente definido 2020 como a meta original para o lançamento do produto, esta terça-feira Kevin Weil disse que o projecto era “uma viagem longa” e “uma questão de décadas e não anos”.
Vários bancos centrais e legisladores de vários países já levantaram dúvidas sobre a iniciativa – em causa está a estabilidade e a privacidade dos dados dos utilizadores da futura criptomoeda. “Anunciámos o projecto cedo demais”, admitiu Weil. “Fizemos isso porque a viagem vai ser longa e queremos fazê-lo bem. Temos de garantir que é seguro.”
Em palco, Weil disse que a empresa “vai esperar pelo apoio dos reguladores”, mas Mark Zuckerberg já se mostrou disposto a reduzir as suas ambições para a moeda. “O objectivo é criar um sistema de pagamento global, mais do que uma divisa nova”, disse o presidente executivo do Facebook durante uma audição no Congresso norte-americano, em Washington, no mês passado. Isto pode vir a traduzir-se num sistema de pagamentos digitais que depende de várias moedas fiduciárias, como acontece com o PayPal, o que seria bastante menos ambicioso que o projecto original.
“Ainda não definimos exactamente como tudo vai funcionar”, notou Weil. “A melhor forma de pensar na libra é com uma analogia da Internet e das telecomunicações. Se recuarmos 30 anos, podíamos enviar mensagens com o telefone, mas era caro e era muito difícil. A Internet mudou isso”, disse o co-criador da divisa. “Estamos numa posição ideal para mudar o sistema monetário.”