A bandeira da Web Summit
Quem aposta na permanência desta montra por mais dez anos tem de ter algum produto para exibir.
Não vale a pena pensar que uma feira de ideias e ponto de encontro de investidores e criadores é uma qualquer solução mágica para resolver os problemas do empreendedorismo. Mesmo que muitos responsáveis políticos nos tenham tentado dar essa ideia, proclamando a vitória da modernidade debaixo das luzes da Web Summit, a verdade é que as fragilidades intrínsecas do tecido económico nacional continuam a manter esse sonho a voar baixinho.
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Não vale a pena pensar que uma feira de ideias e ponto de encontro de investidores e criadores é uma qualquer solução mágica para resolver os problemas do empreendedorismo. Mesmo que muitos responsáveis políticos nos tenham tentado dar essa ideia, proclamando a vitória da modernidade debaixo das luzes da Web Summit, a verdade é que as fragilidades intrínsecas do tecido económico nacional continuam a manter esse sonho a voar baixinho.
A realidade ainda é mais feita de atrasos e adiamentos, como é simbolicamente o do Hub do Beato, do que de unicórnios cintilantes a conquistar o universo digital. Mesmo que seja compreensível o encantamento e empenho num evento desta dimensão — Paddy Cosgrave salienta em entrevista como isso foi determinante para ficar por cá —, a verdade é que quem aposta na permanência desta montra por mais dez anos tem de ter algum produto para exibir.
Mas no “ecossistema” do empreendedorismo nacional continua a faltar a seiva essencial: capital. Sim, é claro que somos pobres, que tivemos cá a troika, que a dívida continua a pesar. Mas é indigesto pensar que, depois do esforço que foi preciso fazer para a resgatar, a banca está tão longe de cumprir o seu papel de animador da economia, emprestando, investindo, arriscando. Como avisava Ricardo Cabral na semana passada, só falta mesmo vê-los, sentados em cima do cofre do dinheiro como o Tio Patinhas, a alterarem a base do seu negócio, da concessão de crédito para a cobrança de comissões.
E quando os privados não arriscam, maiores responsabilidades caem sobre o sector público. Num país de bancos amorfos, sem bolsa de valores, sobra o investimento público para fazer diferença e inverter o marasmo. Investimento com políticas e com capital, como, apontava ontem Teresa de Sousa, acontece em França, que, graças à tenacidade de Emmanuel Macron, cresce, enquanto a Alemanha, que se recusa a investir o seu excedente orçamental, definha.
Contas certas é bom, mas ter acrescentado Transição Digital ao nome do Ministério da Economia, sem uma política activa de reanimação da economia, é nada. Basta ver o que resta das promessas do “banco de fomento”, a Instituição de Desenvolvimento Financeiro, que é suposto ser investidor de risco do Estado, para perceber que não vale de muito acreditar nas promessas em português que sejam feitas na Web Summit. A revolução digital continua, como se verá por estes dias, mas em Portugal falta quem pegue na bandeira.