A moda é a expressão da individualidade de Tânia Dioespirro
Ser manequim nunca foi o sonho, mas trouxe-lhe a paixão pelo styling. Apaixonada pelo mundo da moda, aos 33 anos, Tânia Dioespirro acredita que tem ainda muito a dar à sua profissão e, claro, à vida.
Ir às lojas de roupa infantil com a avó é das memórias mais antigas da produtora de moda Tânia Dioespirro. Não é por acaso. A stylist diz que foi a avó que lhe incutiu o gosto pela moda, logo à nascença e explica porquê: “A minha avó conta-me sempre a história que, quando eu nasci, me foi visitar ao hospital e levou um vestido azul-bebé com uns collants transparentes só com umas pintinhas também azul-bebé.”. Aos 33 anos, a vida trocou-lhe as voltas. Em Abril, foi diagnosticada com cancro da mama.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ir às lojas de roupa infantil com a avó é das memórias mais antigas da produtora de moda Tânia Dioespirro. Não é por acaso. A stylist diz que foi a avó que lhe incutiu o gosto pela moda, logo à nascença e explica porquê: “A minha avó conta-me sempre a história que, quando eu nasci, me foi visitar ao hospital e levou um vestido azul-bebé com uns collants transparentes só com umas pintinhas também azul-bebé.”. Aos 33 anos, a vida trocou-lhe as voltas. Em Abril, foi diagnosticada com cancro da mama.
Foi num dia de tratamentos de quimioterapia que recebeu uma mensagem do amigo Luís Carvalho. O designer desafiou-a a ser o rosto de uma T-shirt solidária, que pretende alertar para a importância do auto-exame no cancro da mama. “Ele disse-me que achava importante a maneira como eu estava a encarar o problema e a mostrar a segurança da imagem de quem passa por isso”, explica a ex-modelo. As T-shirts, à venda por 35 euros, esgotaram rapidamente, 85% dos lucros revertem para a Liga Portuguesa contra o Cancro. Em breve, será reposto o stock.
A nível profissional, a jovem garante que o cancro é, acima de tudo, “assustador”. “É frustrante estar a trabalhar no duro para conseguir construir o meu nome no mercado e, de um momento para o outro, perceber que por causa da quimioterapia, da cirurgia, da frequências das consultas e do sistema imunitário debilitado, não podia trabalhar”. Mas, a direcção criativa continua a manter a cabeça de Tânia ocupada, mesmo à distância.
Ainda que o gosto pela moda tenha nascido cedo, Tânia Dioespirro nunca teve a ambição de fazer disso uma carreira. “Sempre gostei muito da moda como expressão da individualidade de cada um. No [ensino] secundário era um pouco excêntrica e vestia-me de uma forma um pouco peculiar, mas nunca pensei vir a trabalhar directamente com a moda”, explica.
No entanto, o bichinho estava lá. Nas fotografias de criança, Tânia Dioespirro revê “uma miúda com umas roupas muito peculiares”. Hoje, adoptou parte do guarda-roupa da avó, que conhece os seus gostos “como ninguém”, e tornou-o seu. “Ela mandava fazer roupa por medida e tinha os sapatos forrados, por exemplo, com mesmos tecidos que os sobretudos” conta Tânia Dioespirro ao PÚBLICO, garantindo que 20% do seu guarda-roupa era da avó.
A oportunidade de trabalhar como manequim surgiu cedo, aos 15 anos, mas a jovem foi recusando os convites. Só aos 18 anos, aquando da entrada para a licenciatura de Design Industrial e de Produto, aceitou a proposta da agência Best Models, à procura de alguma independência financeira. “Quando entrei para a faculdade, queria ter o meu carro, carregar o meu telemóvel, ter dinheiro para ir jantar com os meus amigos, para comprar um computador, etc.”, recorda.
Da passerelle aos bastidores
A estreia de Tânia Dioespirro na passerelle aconteceu no Portugal Fashion, no Porto, a sua cidade natal. “Lembro-me de ter 17 ou 18 anos, chegar lá e o Luís Pereira (coordenador de bastidores) dizer-me que tinha de procurar o meu charriot [cabide com rodinhas], porque estava lá o meu composite [conjunto de fotografias da modelo com os coordenados com que vão desfilar] e a aderecista para fazer as provas de roupa. Eu fiquei a olhar para ele a pensar: o que é um composite , o que é um charriot e o que é uma aderecista?”, recorda a manequim.
Os primeiros tempos não foram fáceis e, aos 18 anos, Tânia admite que se sentia “fora do contexto” e “completamente perdida”. Depois tudo melhorou graças à adrenalina sentida ao percorrer a passerelle.
O trabalho de manequim permitiu à jovem descobrir o outro lado das câmaras, a que hoje se dedica: a produção de moda e direcção criativa. “Todo o processo criativo, a construção que existia para um resultado final, era uma coisa que me fascinava”, explica. O trabalho no departamento de marketing da Fashion Clinic em Lisboa, após a conclusão do mestrado em Design de Comunicação, foi a primeira oportunidade para experimentar o mundo do styling, através das produções internas.
A vida pessoal acabou por levar a jovem de regresso ao Porto, quando a casa que havia comprado ficou pronta. Foi na Farfetch que teve o seu primeiro cargo de stylist, mas menos de um ano volvido, decidiu tornar-se freelancer. “É uma área muito boa, temos sempre histórias, como ir fotografar para o exterior em sítios em que as pessoas estão a fazer uma vida completamente normal e, de repente, está a acontecer uma sessão fotográfica”, explica.
Tânia Dioespirro voltou aos trabalhos como manequim, aos 30 anos, em Madrid. A modelo brinca ao dizer que fez tudo “mais tarde do que o normal”. Começou aos 18, quando se inicia a carreira mais cedo, e só aos 30 é que saiu do país. Num testemunho escrito para o PÚBLICO, neste mês que se marca a consciencialização para o cancro da mama, a produtora de moda afirma estar ansiosa para um 2020 mais tranquilo. À sua espera, está a carreira que tanto a apaixona.
Texto editado por Bárbara Wong