O preço da ignorância

Que não tenhamos dúvidas: no presente temos de trabalhar o futuro. Podemo-nos preparar para mitigar, remediar e resolver os impactos dos eventos climáticos extremos que ocorrem semanalmente, mas o que nos falta mesmo é trabalhar afincadamente para evitar os que ainda não aconteceram.

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Devastação causada pelo furacão Dorian nas ilhas Abaco e Grande Bahama, nas Bahamas. O grau elevado de intensidade do furacão foi atribuído por cientistas aos efeitos das alterações climáticas REUTERS/JOE SKIPPER

Vou na estrada ao volante e vejo um peão a atravessar a passadeira. Ignoro e mantenho a marcha? Acelero a fundo? Ou sou moralmente consciente e travo para assegurar a segurança da pessoa? É mais ou menos isto que se passa com as acções individuais para combater as alterações climáticas: assobio para o lado, recuso-me a alterar os meus hábitos e comportamentos de sempre ou informo-me para saber o que posso fazer e o que podem fazer os que estão à minha volta?

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Vou na estrada ao volante e vejo um peão a atravessar a passadeira. Ignoro e mantenho a marcha? Acelero a fundo? Ou sou moralmente consciente e travo para assegurar a segurança da pessoa? É mais ou menos isto que se passa com as acções individuais para combater as alterações climáticas: assobio para o lado, recuso-me a alterar os meus hábitos e comportamentos de sempre ou informo-me para saber o que posso fazer e o que podem fazer os que estão à minha volta?

As alterações climáticas são uma perda progressiva das condições que têm permitido o desenvolvimento da humanidade e serão, certamente, um dos maiores desafios morais do século XXI. A pressão colocada na grande maioria das decisões nacionais e internacionais dos nossos tempos está ligada aos riscos financeiros e sociais da crise climática. O aquecimento global, a crise climática e a extinção em massa de espécies, humanos incluídos, formam um único problema, que é precisamente o que nos compete resolver com máxima urgência.

Os cientistas continuam a alertar que a actividade humana está a aquecer o planeta de forma vertiginosa e que mais danos e perdas são inevitáveis. Segundo a ONU, todas as semanas acontecem desastres climáticos. Apesar de só serem mediatizados os mais graves, a frequência já é de um por semana. Somos moralmente descuidados para ignorar o que vemos com os nossos próprios olhos? Ou cremos veementemente que o nosso direito à liberdade de acção se prolonga a prejudicar os outros?

Que não tenhamos dúvidas: no presente temos de trabalhar o futuro. Podemo-nos preparar para mitigar, remediar e resolver os impactos dos eventos climáticos extremos que ocorrem semanalmente, mas o que nos falta mesmo é trabalhar afincadamente para evitar os que ainda não aconteceram. Há uma forte obrigação moral para actuarmos. Já alguma vez parámos para pensar: qual é o preço da minha ignorância?

Para enfrentar a crise climática, é fundamental que cada um de nós monitorize as suas acções e esteja disposto a alterar comportamentos. No entanto é bem mais fácil ceder à preguiça, mantermo-nos na nossa zona de conforto e pensar que as acções individuais são inúteis no combate às alterações climáticas. Até podemos desempenhar um papel minúsculo no processo de combate às alterações climáticas, mas a obrigação de agirmos pelo todo permanece. A questão crucial que nos podemos colocar é: até quando vou permitir que o mundo experimente as devastadoras consequências das alterações climáticas? Ou para tornar o pensamento mais simples: quantas pessoas quero atropelar de livre vontade na passadeira?

Viver? Morrer? Ser ignorante? O meu avô Manuel sempre me disse: “Sabes qual é o pior perigo da humanidade? A ignorância.” Quando era criança não percebia este ponto de vista. Hoje não posso estar mais de acordo com estas palavras sábias. A diferença é que hoje somos ignorantes porque queremos.