Carmen Souza: “Somos os mensageiros do repertório do Horace Silver”
A cantora Carmen Souza gravou, com Theo Pascal e outros músicos, um disco dedicado à obra do pianista americano de origem cabo-verdiana Horace Silver. E apresenta-o ao vivo num concerto único, em Lisboa, no Hot Clube. Esta quarta-feira, às 22h.
A ideia já vinha de trás, mas só agora Carmen Souza conseguiu concretizá-la: um disco dedicado à obra e ao génio de Horace Silver (1928-2014), pianista e compositor nascido nos Estados Unidos (em Norwalk, no Connecticut) mas de origem cabo-verdiana. O disco chama-se The Silver Messengers e é apresentado esta quarta-feira ao vivo no Hot Clube, pelas 22h.
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A ideia já vinha de trás, mas só agora Carmen Souza conseguiu concretizá-la: um disco dedicado à obra e ao génio de Horace Silver (1928-2014), pianista e compositor nascido nos Estados Unidos (em Norwalk, no Connecticut) mas de origem cabo-verdiana. O disco chama-se The Silver Messengers e é apresentado esta quarta-feira ao vivo no Hot Clube, pelas 22h.
Nascida em Lisboa, em 1981, numa família cabo-verdiana, Carmen Souza começou por cantar gospel, vindo a ser influenciada, nas modulações do canto, por vozes como as de Ella Fitzgerald, Billie Holiday ou Nina Simone. Em nome próprio, com o contrabaixista português Theo Pascal e outros músicos como convidados, já gravou até hoje nove álbuns: Ess ê nha Cabo Verde (2005), Verdade (2008), Protegid (2010), Kachupada (2012), London Accoustic Set (2012, ao vivo), Live at Lagny Jazz Festival (2014, com DVD), Epistola (2015), Creology (2017) e agora The Silver Messengers (2019).
Carmen Souza já tinha gravado três temas do pianista em discos anteriores, e recuperou-os dessas gravações para o novo disco: Song for my father (de Protegid), Cape Verdean Blues (de Epistola) e Pretty eyes (de Creology). “O Horace Silver tem um repertório tão vasto e tão rico”, diz Carmen Souza ao PÚBLICO, “que esteve sempre na minha ideia fazer esta brincadeira, que tenho vindo a desenvolver nos meus álbuns, de pegar nos ritmos lusófonos e misturá-los com jazz. Então fui buscar o repertório dele e fiz exactamente isso.” Mas a busca foi demorada. “Foi muito complicado, porque há muita coisa. Quisemos pegar em temas muito conhecidos, noutros menos conhecidos e ver como poderíamos misturá-los com o funaná ou até com o semba.” Os temas vieram, assim, de álbuns de 1956 (6 Pieces of Silver), 1959 (Blowin’ the Blues Away), 1966 (The Cape Verdean Blues), 1967 (The Jody Grind) e 1972 (Total Response).
Além dos três temas já gravados, foram escolhidos para o novo disco mais seis: Soul searching, The jody grind, Señor blues, Nutville, St. Vitus dance e Kathy. A par de duas composições originais, assinadas por Carmen (letras) e Theo (música), Lady musica e Silver blues. Carmen explica-as assim: “Lady musica fala na visão que Horace tinha da música, era a ‘lady’ dele, e nada se interpunha no meio dessa relação. E Silver blues fala da maneira como a música dele flui e da forma, tão única, como ele misturava a sua raiz cabo-verdiana ao jazz, o que está patente na música fantástica que ele nos deixou.”
No disco, além de Carmen Souza (voz, piano e guitarra) e Theo Pascal (baixo e contrabaixo), participam Elias Kacomanolis (bateria) e Ben Burrell (piano), aos quais se juntam, como convidados, Zoe Pascal (filho de Theo, bateria), Jonathan Idiagbonya (piano) e Sebastian Sheriff (percussões). “Kacomanolis é um baterista moçambicano de origens gregas que veio para Portugal na altura da revolução, cresceu em Portugal e agora vive em Londres, tal como nós. Idiagbonya é de Londres, mas de origens nigerianas. É um grande, grande pianista, um músico magnífico, que agora está a fazer a sua carreira a solo. Costumávamos chamar-lhe o Oscar Peterson da Nigéria. E quanto a Ben Burrell, já tínhamos feito várias tournées com ele, no mundo inteiro. São tudo músicos que são nossos amigos, são como família, e estão sempre dispostos a fazer uma música diferente, a experimentar e a desafiarem-se a eles próprios”, diz Carmen.
O título do disco, The Silver Messengers, tem origem no grupo The Jazz Messengers, criado em 1955 por Art Blakey e Horace Silver, que saiu logo em 1956 para se dedicar à sua carreira a solo, passando Blakey a liderá-lo e gravando vários discos como Art Blakey and The Jazz Messengers. “Sim, foi um pouco brincar com isso. Fizemos esse trocadilho, The Silver Messengers, porque nós somos os mensageiros do repertório do Horace Silver, queremos levar a música dele mais longe ainda e dá-la a conhecer a quem ainda não a conheça. Em Cabo Verde, se calhar há muitas pessoas que ainda não conhecem este grande, grande músico que fez uma música espectacular.”
Lançado no mercado mundial (Portugal incluído) no dia 25 de Outubro, o disco chega agora ao vivo ao Hot Club. Com Carmen Souza estarão Theo Pascal (baixo e contrabaixo), Elias Kacomanolis (bateria) e Rui Caetano (piano).