Agualusa entre os vencedores do Prémio Nacional de Cultura e Artes em Angola
O júri sublinhou a sua contribuição “para o surgimento do leitor emancipado” e “para o fortalecimento da cidadania e da liberdade de expressão”
O escritor luso-angolano José Eduardo Agualusa, o músico Alberto Teta Lando e a historiadora Constança Ceita são alguns dos vencedores do Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola de 2019, foi esta segunda-feira anunciado em Luanda.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O escritor luso-angolano José Eduardo Agualusa, o músico Alberto Teta Lando e a historiadora Constança Ceita são alguns dos vencedores do Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola de 2019, foi esta segunda-feira anunciado em Luanda.
O Prémio Nacional de Cultura e Artes de Angola, considerado a distinção mais importante do Estado angolano neste sector, distribuída por uma dezena de categorias, foi este ano entregue, na área da literatura, ao escritor de ascendência portuguesa conhecido pelas suas posições críticas em relação ao anterior presidente angolano José Eduardo dos Santos.
De acordo com o júri do prémio, José Eduardo Agualusa foi distinguido pelo seu contributo para a projecção da literatura angolana no mundo, graças a um “extenso e vital percurso criativo”. “Eduardo Agualusa é suficientemente ousado, disruptivo e comprometido com as causas e problemáticas sociais e políticas fundamentais deste tempo, o que lhe permite, amiúde, posições intelectuais que privilegiam o dissenso, a controvérsia e a polémica reflexiva. Desta forma tem contribuído tanto para o surgimento do leitor emancipado, como para o fortalecimento da cidadania e da liberdade de expressão”, lê-se na acta do prémio.
Nas artes plásticas, o júri distinguiu o pintor Sebastião Joaquim N'Debele Cassule, conhecido como “Don Sebas Cassule”, pelo percurso, pela inovação e pela participação em eventos nacionais e internacionais, que lhe valeram já prémios dentro e fora do seu país. O júri destaca ainda a forte componente criativa da sua obra, consubstanciada em trabalhos de pintura e desenho, desenvolvida ao longo de mais de 20 anos “com muita perícia”.
O compositor, intérprete e autor Alberto Teta Lando foi distinguido, a título póstumo, “pelo conjunto da sua obra, longa, rica, bela e dura trajectória musical que soube cantar os diferentes momentos históricos do país, misturando o drama das realidades do contexto vivido e a esperança de os angolanos reviverem a paz”. As suas composições tornaram-se clássicos do cancioneiro angolano e continuam a ser interpretadas por artistas nacionais e estrangeiros, acrescenta o júri.
A promotora Globo Dikulu foi galardoada na categoria teatro, pelo FESTECA – Festival Internacional de Teatro do Cazenga, um festival anual de teatro, realizado ao longo de 14 anos de forma “contínua e ascendente”. O júri destaca a criatividade artística, a estética dos espectáculos e a forma peculiar de abordar questões da realidade do país da Globo Dikulu, que se tem servido do teatro para “influenciar positivamente o crescimento intelectual e sociocultural dos jovens sobre os usos e costumes de Angola”.
O investigador António Domingos, “Toni Mulato”, recebeu o prémio destinado à área da dança, pelo seu percurso dedicado à recuperação das danças carnavalescas, particularmente a dança “Cabecinha”, uma das poucas danças populares carnavalescas que mantêm os traços culturais da angolanidade.
No cinema e audiovisual, o prémio coube a Dorivaldo Cortez, com o júri a destacar a “veia criativa” com que tem produzido obras audiovisuais para a educação sobre cidadania nacional.
A historiadora Constança Ceita foi a premiada no âmbito da Investigação em Ciências Humanas e Sociais, pela sua obra O estranho destino de um sertanejo na África Central e Austral: A transculturação de Silva Porto (1838-1890), atendendo ao “carácter inovador, a pertinência cientifica e académica” e o contributo para “um melhor conhecimento da sociedade angolana e por conseguinte para uma melhor compreensão das sociedades africanas”.