O bilhete de identidade cosido à mão
Depois de entrar no manicómio, Leopoldina nunca mais terá tocado nos seus objectos: no carimbo, nos óculos, no crucifixo com a cara de Jesus gasta e nos seus “vários papéis”. A sua vida mudou quando um dia dormia. Passavam 15 minutos da meia-noite.
É provável que o bilhete de identidade que Leopoldina de Almeida tirou quando tinha 42 anos, e que teve de entregar mal foi internada no “Manicómio Bombarda”, tenha sido o seu primeiro documento de identificação. Não existem registos anteriores e, no ano em que foi emitido, em 1931, só era obrigatório em Portugal há cinco anos — tinha a forma solene de um livrinho de seis páginas de capa dura, forrado a pano vermelho-vivo. Quando Leopoldina o tirou, talvez não lhe passasse pela cabeça que este seria também o seu último bilhete de identidade. Não se esperaria que fosse.