Salário mínimo nos 750 euros: patrões aplaudem “ambição” e deixam aviso
Presidente da CIP afirma que “não há contradição” com os objectivos dos patrões mas deixa aviso: “Devemos ter ambição no crescimento e no crescimento salarial, uma não vive sem a outra”. BE teme contrapartidas oferecidas aos patrões
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, afirma que o aumento do salário mínimo para 750 euros em 2023, meta anunciada este sábado por António Costa, “vai depender muito da evolução da economia nestes quatro anos”. E salienta, em declarações ao PÚBLICO, que “não há contradição” com a posição já assumida pelos patrões.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, afirma que o aumento do salário mínimo para 750 euros em 2023, meta anunciada este sábado por António Costa, “vai depender muito da evolução da economia nestes quatro anos”. E salienta, em declarações ao PÚBLICO, que “não há contradição” com a posição já assumida pelos patrões.
Em entrevista ao Negócios e à Antena 1 esta semana, António Saraiva tinha defendido como “razoável” um valor de 700 euros para o salário mínimo no final da legislatura, revelando até que já estava a ter discussões com o Governo sobre o aumento do salário mínimo. “Apontei como razoável, admitindo que, se a economia o permitir, pode ir mais além”, explica este sábado o presidente da CIP.
O representante dos patrões diz querer, tal como o Governo, que “a economia portuguesa tenha sustentabilidade” e que estas metas para o salário mínimo, “não sendo absurdas, têm alguma ambição”, acrescentando: “Devemos ter ambição no crescimento e no crescimento salarial, uma não vive sem a outra”.
Saraiva lembra, porém, “as várias tensões no mundo que podem pôr em causa os indicadores externos”. “A previsão a mais de quatro anos é bruxaria”, diz.
Citado pelo Expresso este sábado, o presidente da CIP diz ter pedido ao Governo uma “fiscalidade mais amiga das empresas, previsibilidade fiscal e o compromisso de que, havendo folgas orçamentais, serão usadas para reduzir a carga fiscal sobre empresas e famílias”. O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, por seu turno, pediu “um alívio da carga fiscal sobre as empresas”, referindo que este “cria espaço para melhores salários”.
Em declarações à TSF, o secretário-geral da CGTP considerou este sábado que é preciso ir mais longe e lembra que a proposta do sindicato é de 850 euros a curto prazo: "Parece-nos que foi importante o facto de termos avançado com este valor, porque despertou na sociedade a necessidade de se romper com o modelo de baixos salários e trabalho precário.” “Para além do salário mínimo nacional, é fundamental o aumento dos salários para todos os trabalhadores no próximo ano em cerca de 90 euros”, reiterou Arménio Carlos.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse que o aumento “é insuficiente” e prometeu que o partido estará sempre no “combate por novos avanços”. “Ouvimos António Costa defender a meta de 750 euros para o ano de 2023, mas nós continuamos a dizer que é insuficiente e isso vê-se na nossa proposta de 850 euros. Vamos continuar a nossa luta”, afirmou Jerónimo de Sousa.
Além do aumento do salário mínimo, o líder comunista defendeu que é preciso um maior investimento Serviço Nacional de Saúde, na educação e na cultura, três sectores que “o Governo PS, nestes últimos quatro anos, tem recusado”.
BE teme “fragilização da Segurança Social"
Reagindo ao anúncio feito por Costa, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, afirmou aos jornalistas esperar que a negociação do salário mínimo em sede de Concertação Social “não seja sinónimo de fragilização da Segurança Social, como tivemos no passado”, ou seja, o BE está preocupado com as contrapartidas que o Governo irá dar aos patrões, nomeadamente, eventuais alterações aos descontos das empresas para a Segurança Social.
“É essencial para o país haver uma programação da evolução do salário mínimo nacional. Até pode ir além desse valor”, afirmou, acrescentando que este anúncio “assim isolado” merece “muito maior análise”.
Há quatro anos, o aumento do salário mínimo foi negociado entre PS e BE, sendo que desde a campanha eleitoral que Costa avisava que, nesta legislatura, não iria deixar de fora os patrões dessa negociação, ou seja, ia valorizar a Concertação Social.
O vice-presidente do PSD David Justino considerou, por seu lado, que, para aumentar o salário mínimo nacional é preciso ter em conta como “se comporta a economia”. “Vamos ver como é que se comporta a economia, porque nas prioridades o crescimento económico não foi assinalado”, declarou aos jornalistas. com Lusa