No The Presidential, provando Trás-os-Montes num restaurante em movimento
A Fugas acompanhou o comboio presidencial, do Porto à Quinta do Vesúvio, no fim-de-semana em que o chef convidado foi Óscar Gonçalves, que trouxe cuscos de Vinhais, javali, castanhas e cogumelos.
A nossa carruagem é verde clara. “Era, no passado, a carruagem dos jornalistas”, explica Gonçalo Castel-Branco, o homem por trás da ideia do The Presidential – Gourmet Train Experience, responsável por ter colocado novamente nos carris o comboio de 1890, que um dia descobriu, totalmente restaurado (o restauro, no valor de 1,5 milhões de euros, foi feito entre 2009 e 2013), no Museu Nacional Ferroviário.
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A nossa carruagem é verde clara. “Era, no passado, a carruagem dos jornalistas”, explica Gonçalo Castel-Branco, o homem por trás da ideia do The Presidential – Gourmet Train Experience, responsável por ter colocado novamente nos carris o comboio de 1890, que um dia descobriu, totalmente restaurado (o restauro, no valor de 1,5 milhões de euros, foi feito entre 2009 e 2013), no Museu Nacional Ferroviário.
Tudo certo, portanto. Viajamos no lugar dos jornalistas, supostamente “longe do poder”, que é como quem diz, do rei ou do Presidente que, noutros tempos, este comboio terá transportado e que seguiam nos seus aposentos privados. Entre muitas outras histórias, foi nele que viajou, em 1970, o caixão de Salazar, saindo de uma estação improvisada em frente aos Jerónimos, em direcção a Santa Comba Dão.
Só que, na nossa viagem (partimos da Estação de São Bento, no Porto, paramos na Quinta do Vesúvio, propriedade da Symington perto de Vila Nova de Foz Côa, no Douro, e regressamos), não há rei ou Presidente, apenas o chef transmontano Óscar Gonçalves (restaurante G, em Bragança), que no ano passado conquistou uma estrela Michelin, é verdade, mas apesar disso, e mesmo nos tempos que correm, tem um poder mais reduzido que um chefe de Estado.
De qualquer forma, não ficamos muito tempo na nossa carruagem – só o suficiente para um primeiro copo de vinho, o Olo, da Niepoort e os dois snacks iniciais: uma bola (tipo berlim) de queijo Terrincho com presunto bísaro, e um roché de alheira com castanha.
António Gonçalves, o irmão de Óscar, espreita à porta do nosso compartimento para nos explicar de onde vêm as duas ideias – a primeira nasceu das visitas que Óscar lhe fazia ao Algarve e do que repetia sempre que comia uma bola-de-berlim: “Isto é bom, mas com queijo e presunto ficava muito melhor.” A segunda vem dos bombons Ferrero Rocher, que não podiam faltar na mesa de Natal e que aqui aparecem com os principais produtos da época em Trás-os-Montes, a alheira, a castanha e a amêndoa.
Em breve somos convidados a passar para a carruagem restaurante, onde será servido o almoço. O Douro desfila lá fora, iremos vê-lo através da janela durante toda a viagem, na ida sob um sol de início de Outono, ameaçado por algumas nuvens, no regresso a mergulhar num doce anoitecer, até a escuridão o engolir e nós, entre bombons, vinho do Porto e piano ao vivo na carruagem da suíte presidencial, cometermos a heresia de quase o esquecermos.
Gonçalo Castel-Branco leva-nos a visitar as cozinhas. A original, totalmente restaurada, com o seu forno de portas em ferro trabalhado, já só pode ser usada para armazenar. Por isso, para que os chefs possam trabalhar, foi adaptado o antigo furgão de transporte do correio e mercadorias. Quando o visitamos, está a ser preparado o caldo verde que será servido no final da viagem, quase a chegar a São Bento, encerrando assim um lanche que incluiu queijos, enchidos, doces, patés, scones e bolinhos vários.
Não deve fácil trabalhar num comboio em andamento e numa cozinha improvisada, na qual, por razões de segurança e de manutenção, não se pode usar fogo ou gás nem pendurar coisas nas paredes. A solução encontrada foi instalar um gerador e um depósito de água numa carruagem extra. Mas os clientes que almoçam e lancham nas carruagens restaurantes não notam quaisquer dificuldades. Tudo chega às mesas impecável, como se não estivéssemos num restaurante em movimento.
É assim que António Gonçalves vai apresentando os pratos que Óscar termina na cozinha, sempre com os sabores de Trás-os-Montes em destaque: cuscos de Vinhais num jus de cabeça de carabineiro, com cavacas de Peniche; corvina com batata e abóbora menina; javali com castanhas, trufa e cogumelos da época; gelado de pinheiro; e pudim de amêndoa. A acompanhar, vinhos Niepoort (Conciso 2017, VV 2017, Batuta 2014).
O ano de 2020 será o da última viagem do comboio presidencial no premiado modelo criado por Gonçalo Castel-Branco, que gosta de o descrever como “a viagem de comboio mais exclusiva do mundo” – e que só acontece nos meses de Setembro e Outubro (os preços são de 650€ por pessoa para a viagem de um dia, havendo também opção de dois ou três dias, a 2000 ou a 4000€). Para já, sabemos que no próximo ano irá chamar-se The Farewell Edition e, entre as novidades, terá dois chefs a bordo, um para o almoço na ida e outro para o lanche no regresso ao Porto.