Até nunca, Tomás Correia
Tomás Correia vai deixar a associação mutualista Montepio e com a sua resignação acaba o derradeiro resquício do tempo em que a banca se dedicou a negociatas espúrias, a jogos de influência macabros e a outros desmandos que ajudaram o país afundar-se numa crise terrível.
Custou, mas foi. Tomás Correia vai deixar a associação mutualista Montepio e com a sua resignação acaba o derradeiro resquício do tempo em que a banca se dedicou a negociatas espúrias, a jogos de influência macabros e a outros desmandos que ajudaram o país a afundar-se numa crise terrível. Tivemos de esperar tempo de mais por um processo do Banco de Portugal que lhe impôs uma coima de 1,25 milhões e da consequente investigação da Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões sobre a sua idoneidade para chegarmos a esta notícia.
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Custou, mas foi. Tomás Correia vai deixar a associação mutualista Montepio e com a sua resignação acaba o derradeiro resquício do tempo em que a banca se dedicou a negociatas espúrias, a jogos de influência macabros e a outros desmandos que ajudaram o país a afundar-se numa crise terrível. Tivemos de esperar tempo de mais por um processo do Banco de Portugal que lhe impôs uma coima de 1,25 milhões e da consequente investigação da Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões sobre a sua idoneidade para chegarmos a esta notícia.
Perante o coro de protestos, a vaga de indignação que se instalou nos jornais (o PÚBLICO orgulha-se de a incentivar), ou o rol de queixas que chegaram até à cúpula do Governo, Tomás Correia agiu como um náufrago à espera de um milagre. Sai agora, sem glória, apenas para evitar o inevitável: uma destituição imposta por falta de idoneidade para se manter em funções.
Não vale a pena tentar perceber os motivos pessoais para tanta obstinação. Nem discutir por que razão demoraram as instituições que supervisionam o sector a concluir que a sua permanência na associação mutualista era uma vergonha para o país e uma lesão para a imagem e credibilidade do Montepio. Interessa talvez mais tentar perceber a rede de influências e de poderes interessados que, na acertada avaliação de João Miguel Tavares, criou “o maior mistério do país”.
Porque ou o país é anormal ou o absurdamente longo reinado de Tomás Correia aconteceu porque tinha alicerces em interesses económicos opacos ou em influências políticas duvidosas. Ninguém consegue perceber o que leva um homem culto e inteligente como José Eduardo Martins, do PSD, ou um homem experiente como João Soares, do PS, a apoiá-lo depois de se saber tudo o que se sabia do seu passado. Como não se percebe o que faziam na sua órbita Manuela Eanes ou o padre Vítor Melícias.
Bastava lembrar que no auge dos devaneios criminosos da banca Tomás Correia teve negócios duvidosos envolvendo Ricardo Salgado e o construtor José Guilherme para que houvesse um máximo de cautelas e um mínimo de decência para o afastar de cargos de responsabilidade. Tivemos de esperar que o Governo colocasse a associação sob o escrutínio dos seguros para que todas as queixas contra si avançassem e se concluísse o inevitável: que Tomás Correia não tem idoneidade para desempenhar as suas funções.
A sua proverbial verve e a sua presunçosa indiferença levam-no a afirmar que sai por ter cumprido a sua missão. Mas nós sabemos que sai porque a sua impressão digital no Montepio é de tal forma daninha que seria um escândalo continuar.