Distrital do PSD inclina-se para não apoiar Rio na corrida à liderança do partido

Líder da estrutura, Alberto Machado, alega que a tradição da comissão política é não apoiar candidatos. Nas últimas directas, Bragança Fernandes apoiou Santana contra Rio.

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Rui Rio é o terceiro candidato a disputar a liderança do PSD

A distrital do PSD-Porto, um dos esteios de Rui Rio ao longo do mandato na presidência social-democrata, prepara-se para assumir uma posição de neutralidade institucional relativamente ao próximo combate eleitoral interno, não lhe declarando apoio, nem a nenhum dos outros dois candidatos que já estão na corrida.

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A distrital do PSD-Porto, um dos esteios de Rui Rio ao longo do mandato na presidência social-democrata, prepara-se para assumir uma posição de neutralidade institucional relativamente ao próximo combate eleitoral interno, não lhe declarando apoio, nem a nenhum dos outros dois candidatos que já estão na corrida.

A decisão só será tomada na segunda-feira à noite em reunião da comissão política alargada, mas o líder da distrital do Porto, Alberto Machado, já foi deixando cair que a estrutura não assumirá uma posição formal de apoio. Esta quinta-feira à noite, numa reunião da assembleia distrital, o dirigente revelou aos militantes que esteve para se demitir da distrital por causa de Rui Rio ter imposto um conjunto de nomes para a lista de deputados à Assembleia da República. Na altura, o caso fez correr muita tinta e a distrital ficou debaixo de fogo pelo facto de Alberto Machado não ter batido com a porta, na sequência da avocação do processo da lista de deputados pelo Porto pela direcção nacional.

​No conselho nacional de Julho, em que se esperava que Machado votasse contra a lista de deputados, o líder distrital absteve-se, acusando um enorme mal-estar. Nesse conselho nacional, Rui viu a lista de deputados pelo distrito do Porto aprovada por 74% dos conselheiros.

Ao não se demitir, Alberto Machado - que esta manhã tomou posse como deputado na Assembleia da República -, comprou uma guerra com as secções da região interior do partido, mas não só, que podem vir a apoiar a candidatura de Luís Montenegro na corrida à presidência do PSD. Em Janeiro, uma semana antes do conselho nacional, que viria a aprovar uma moção de confiança a Rui, Alberto Machado comparava tensão no partido à “traição” de Costa a Seguro.

 Na reunião da assembleia distrital, que decorreu três dias depois de Rui Rio ter apresentado a sua recandidatura à presidência do PSD - a cuja sessão Alberto Machado não compareceu -, o líder da estrutura explicou as razões pelas quais se manteve ao leme, refugiando-se no argumento de que a “comissão política nunca apoiou ao longo de 15 anos nenhum candidato”. Acontece que as últimas eleições directas, em Janeiro de 2018, o então presidente da distrital do PSD-Porto, Bragança Fernandes, apoiou pessoalmente a candidatura de Pedro Santana Lopes contra Rui Rio.

O agora deputado aproveitou a reunião da assembleia distrital para limpar um pouco a sua imagem no processo de escolha de deputados e foi aí que comentou que ponderou demitir-se. De acordo com relatos feitos ao PÚBLICO, a justificação para não sair foi a de não querer “criar um vazio no distrito”. As mesmas fontes acrescentam que Machado fez questão de mostrar a lista de deputados que tinha apresentado ao líder do partido e que tinha uma “representatividade maior do distrito”. Estava dado mais um passo em direcção à pacificação da distrital do Porto, que vai a votos este ano.

“Estados de alma”

A assembleia distrital ficou marcada pela ausência de opositores à actual liderança da distrital e também por alguns dos rostos desalinhados com a direcção nacional. Ao longo da noite ouviram-se vozes a dizer que “era fundamental escolher um líder que conseguisse agregar, mobilizar e unir o partido para o próximo desafio que o PSD tem pela frente e que são as eleições autárquicas de 2021”.

A necessidade de o partido se focar no combate das autárquicas foi aflorado pelo presidente da Câmara da Trofa, Sérgio Humberto, pelo líder da concelhia do Porto, Hugo Neto, e pelo próprio líder distrital que quer inverter a tendência de perda de autarquias no distrito. “Das 30 intervenções que tivemos, apenas seis ou sete falaram no assunto da liderança e dessas intervenções a maioria manifestou apoio a Rui Rio”, afirmou Alberto Machado à Lusa, frisando que a principal preocupação dos militantes do distrito do Porto é inverter a tendência de perda de mandatos dos três últimos actos eleitorais (2009, 2013 e 2017).

O economista Luiz Rocha fez uma intervenção em que elogiou o desempenho do presidente do PSD na parte final da campanha eleitoral para as legislativas, ao mesmo tempo que criticou a “falta de combatividade” do líder ao longo dos meses na presidência e que, na sua opinião, “foram penalizadores” para o partido. E como o PSD está já na contagem de espingardas, Luiz Rocha deixou nas entrelinhas um apelo ao futuro líder da bancada social-democrata. Depois de criticar o tom usado por Rui Rio na noite eleitoral das legislativas e na apresentação da sua recandidatura à liderança nesta segunda-feira – “foram discursos focados nos adversários” – o militante apelou ao líder do PSD na se focar no partido, em alternativa aos ajustes de contas. Para o economista, “o combate que Rui Rio tem de fazer é para fora do partido e não virado para dentro”, evitando, desta forma tensões internas.

A deputada e presidente dos Trabalhadores Sociais-Democratas (TSD), Carla Barros, foi, nas palavras de Alberto Machado, a única voz crítica da noite que se insurgiu uma vez mais por causa lista de deputados, um assunto que já tinha sido tratado em sede da comissão política do PSD-Porto. “Foi mais um estado de alma de Carla Barros do que outra coisa”, disse ao PÚBLICO fonte dos TSD, afastando que os Trabalhadores Sociais-Democratas tenham retirado a solidariedade institucional à distrital do PSD.

No seu discurso de recandidatura, Rui Rio declarou que “o partido não se pode deixar tomar por grupos organizados [numa alusão à maçonaria], designadamente de perfil pouco ou nada transparente” e avisou não estar “disponível para voltar a enfrentar as deslealdades internas e permanentes boicotes internos” como os que teve “ininterruptamente” desde a sua tomada de posse, em Fevereiro de 2018.