Paguem ou calem-se
A semana passada um amigo meu disse-me que se recusava a pagar para ler um jornal por “uma questão de princípio”. Perguntei-lhe se esses princípios ajudavam a pagar o meu ordenado ao fim do mês.
Já há pelo menos duas gerações de portugueses que nunca compraram ou assinaram um jornal.
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Já há pelo menos duas gerações de portugueses que nunca compraram ou assinaram um jornal.
A culpa é da Internet que fornece material de leitura a custo zero. Não interessa se são posts ou tweets ou mensagens no WhatsApp ou o Guardian ou o Drudge Report ou os excelentes ensaios que o Google desencanta.
Acontece menos com a música, já que o Spotify e outros serviços parecidos são baratos e contêm riquezas sem fim. Mas, mesmo com a música, a maioria das pessoas com 50 ou menos anos não se importa com os anúncios ou a qualidade do som.
Muitas delas conseguiram habituar-se a ouvir/ver música no YouTube: uma aberração que nunca hei-de compreender. A diferença entre as gerações mais velhas e as mais novas é que as velhas ainda não desistiram de convencer as novas a arrepiar caminho, enquanto as novas deixam que as velhas façam o que lhes apetecer, coitadas.
O pior da atitude dos borlistas é confundirem avareza com moralidade. A semana passada um amigo meu disse-me que se recusava a pagar para ler um jornal por “uma questão de princípio”. Perguntei-lhe se esses princípios ajudavam a pagar o meu ordenado ao fim do mês.
Ele tinha-se queixado que já não conseguia ler as minhas crónicas “porque agora é preciso pagar”, como se agora fosse o momento apoteótico em que alguém se lembrou de cobrar por um serviço prestado.
Até aqui tinha-lhe mandado a versão Word das minhas crónicas. Pois acabou-se.
Era o que faltava eu estar a alimentar a noção desta gente que acha que tudo lhes é devido – de graça, ainda por cima.